Não faltam estudos de consultorias renomadas que associam equidade de gênero a um melhor desempenho das empresas. Companhias com equilíbrio entre mulheres e homens no time executivo têm mais retorno financeiro, mais chances de inovar e menos riscos na tomada de decisões, afirmam dezenas de pesquisas sobre o tema.
Mas o que era para ser regra ainda está longe de ser comum no ambiente corporativo.
No Brasil e em boa parte do mundo, mulheres ainda são minoria em cargos de liderança, ganham menos do que homens e convivem com preconceitos quando direcionam a carreira para áreas ditas mais masculinas.
Mas há movimentos de mudança e as ferrovias têm se incluído nesse grupo. Tradicionalmente ocupadas por homens, aos poucos, as empresas ferroviárias transformam seus ambientes.
A mudança é lenta e requer esforços, porém avança.
A VLI, por exemplo, assinou recentemente com a ONU um compromisso que estabelece meta mínima de 30% de mulheres em posições de alta liderança até 2025 e, opcionalmente 50%, até 2030.
O compromisso nada mais é do que uma alavanca, diz a empresa, para ajudar a guiar esse objetivo.
Hoje a VLI é a única entre as ferrovias de carga que tem em seu time duas mulheres na diretoria (Rute Melo Araújo, diretora de Gente, Inovação e Sustentabilidade, e Silvana Alcantara, diretora de Relações Institucionais e Regulatório).
Acima delas, só o presidente, Ernesto Pousada.
Reunimos abaixo histórias de mulheres que ocupam os mais altos cargos nas ferrovias de carga. Talento, foco e vontade de romper barreiras são aspectos comuns nessas trajetórias.
Rute Melo Araújo
Diretora de Gente, Inovação e Sustentabilidade da VLI
Há um fenômeno comum nas carreiras femininas que se chama teto de vidro. O teto de vidro se manifesta como barreiras invisíveis na progressão dessas carreiras, como a dupla jornada de trabalho e os preconceitos de gênero.
A consequência desse efeito é que, mesmo sendo mais da metade da população brasileira, as mulheres são minoria quando olhamos a representatividade em cargos de liderança. Como uma mulher que ocupa um cargo de diretoria, posso afirmar que consegui romper de alguma maneira esse teto de vidro.
Isso não quer dizer que meu caminho foi fácil e que eu não tenha enfrentado percalços, mas sou uma mulher de certa forma privilegiada. Quando cheguei à VLI, nesse universo mais masculino, eu já ocupava uma posição de alta liderança e já entendia que um dos meus papéis era abrir mais espaço para que outras mulheres pudessem ter as mesmas oportunidades e escolhas que eu tive.
A companhia está atenta para a importância da diversidade e inclusão não apenas à equidade de gênero, mas também para pessoas com deficiência, de diferentes raças e gerações e aos profissionais LGBTI+.
Acreditamos que uma liderança mais diversa proporcionará uma maior multiplicidade de competências e talentos para a VLI.
Quando iniciamos os primeiros diagnósticos sobre a equidade de gênero, percebemos que essa era uma demanda não só nossa, mas de todo o setor. Todas as práticas de equidade de gênero que criamos na VLI compartilhamos nas nossas plataformas com essa hashtag com o objetivo de plantar essa semente.
Já recebemos ferrovias do Brasil e até do Chile para conhecerem nossas práticas.
Fernanda Valença
Gerente-geral de Operação Ferroviária da EFVM
O primeiro desafio que encontro como mulher em papel de liderança é conquistar a confiança das pessoas. E eu escolhi fazer isso por meio de uma gestão próxima e espontânea.
Sou formada em engenharia civil e comecei minha carreira trabalhando na construção civil. Há 13 anos entrei no ramo ferroviário e ocupo cargos de gestão desde 2011.
No final de 2019, ingressei na Vale para conduzir uma equipe de aproximadamente 1,2 mil pessoas.
Quando me perguntam se sofri preconceito, digo que não aconteceu de forma direta. Mas são pequenas atitudes, no dia a dia, que fazem parte da vida em sociedade e temos que estar atentas para não achar normal.
Durante todo esse trajeto, sempre me posicionei de forma natural e firme.
Quando encontrava alguém com uma visão equivocada sobre mim, convidava para caminhar na direção correta.
Aprendemos o tempo todo. É preciso exercitar a consciência e ter em mente que se uma atividade é pesada demais para uma mulher, também é pesada demais para um homem.
Tive a oportunidade de gerenciar equipes majoritariamente formadas por homens e outras, por mulheres.
Para mim, a melhor equipe é aquela composta pela diversidade.
Fabricia Souza
Diretora de Finanças e Desenvolvimento da MRS
Estou na empresa há 14 anos e já passei por várias áreas. Posso dizer que em nenhum momento vivi uma situação de preconceito. Houve situações de surpresa por verem uma mulher numa determinada função onde não havia mulheres. A superação dessa surpresa foi natural, por meio do profissionalismo e dos resultados. O importante é não ter barreiras visíveis ou invisíveis para as mulheres, obstáculos que nos impeçam de crescer na carreira. Na MRS não há barreiras e sou uma prova cabal disso.
No setor ferroviário, os ambientes de trabalho fora do escritório tem uma aura masculina, mas isso vem mudando de uma forma muito rápida nos últimos anos. Na MRS nós temos a preocupação com essa mudança, e queremos que ela seja rápida. A diversidade é boa para os negócios. Enriquece as soluções que são encontradas para cada problema e para os desafios que temos. As empresas que mais prosperam e mais tem lucro são aquelas que pensam diferente. E não se pensa diferentes se todos são iguais. E isso vale para todos os grupos abrangidos pelas políticas de diversidade.
A mulher tem características cada vez mais valorizadas no mercado: capacidade de entender os problemas e situações de forma mais ampla, levando em consideração variáveis emocionais muitas vezes negligenciadas por seus colegas. Somando a isso a sua capacidade de conciliar, criar parcerias e de trabalhar em equipe sem perder o foco no resultado.
Para as profissionais, creio que o maior desafio é ter confiança e equilíbrio. Confiança nos seus skills e equilíbrio porque a mulher tende a ter um nível de cobrança muito alto.
O equilíbrio também se refere a um balanço entre a vida familiar e a vida profissional.
Fernanda Sacchi
Diretora de Gente & Cultura & Comunicação da Rumo
Ingressei no grupo Cosan em janeiro de 2018, após mais de 14 anos de carreira em algumas das principais empresas do setor bancário e da indústria de eletrodomésticos e de bebidas. Estou na Rumo desde janeiro de 2020.
No dia a dia, toda mulher já experimentou, presenciou ou ouviu alguma história de preconceito. E é lamentável, algo que não deveria ter mais espaço. Infelizmente, eu já tive a experiência de sofrer preconceito. Na ocasião, soube deixar claro qual o meu papel e o meu propósito por meio das minhas entregas e comportamento. E, a partir desta experiência, pude agir de modo mais assertivo. Para mudar esse cenário é essencial que toda empresa deixe bem claro, em sua cultura corporativa, que esse comportamento não é tolerado.
A adoção de programas e benefícios inclusivos é fundamental para melhorar o ambiente de trabalho, a produtividade e a rentabilidade. Essas iniciativas, somadas a políticas de pluralidade, contribuem para atrair, desenvolver e reter talentos e transformam as empresas em corporações mais inovadoras e aptas para um diálogo franco com a sociedade. Preconceito contra a mulher não tem mais lugar.
Os melhores talentos têm que ser valorizados e reconhecidos. E a Rumo e a Brado têm dado passos firmes nessa direção. Além disso, o mundo empresarial caminha para uma atenção cada vez maior a aspectos ambientais, sociais e de governança. Quem não estiver conectado com esses pilares, na minha opinião, vai perder competitividade.
Leidianny Santos
Gerente de Operações de Pátios e Terminais da EFC
Gosto de contar minha história porque de alguma forma ele é cheia de simbolismos e de quebra de paradigmas. Iniciei minha vida profissional na Vale como estagiária, em uma unidade que a empresa mantém em Açailândia (MA). Com muito orgulho, fui a primeira gerente de Operações da Estrada de Ferro Carajás.
Já são 16 anos de carreira e nada veio fácil. Mas confesso que tudo aconteceu muito naturalmente e foi um reconhecimento por toda minha dedicação. Nunca pensei fortemente na questão do gênero, eu pensava no desafio do cargo, da função e dava o meu melhor.
Senti preconceito de uma minoria? Sim. Mas nunca deixei essa resistência confundir meu entendimento de que o foco é a meritocracia. Se fosse um homem teria chegado na função gerencial antes de mim? Não tenho essa resposta.
Só sei que nunca vi claramente nada que me impedisse ou me atrasasse de chegar onde estou hoje na Vale. Foram muitos desafios vencidos com dedicação, estudo, humildade e respeito.
Sinto-me imensamente feliz em compartilhar um pouco da minha história e fazer parte de uma empresa engajada e focada na atração, retenção, inclusão e desenvolvimento de mulheres. Estamos construindo uma Vale cada vez mais diversa e dá muito orgulho fazer parte desta transformação. Lugar de mulher é onde ela quiser.
Fonte: Revista Ferroviária, 05/10/2020
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