Os transportes públicos foram planejados para obter mais rentabilidade conforme carregam mais passageiros. Dessa forma, foram atingidos em cheio pela pandemia: com o confinamento e o distanciamento social, ocorreu grande queda no movimento de usuários – o que também põe em xeque o futuro.
“Os municípios estão subsidiando o transporte”, disse o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, “com déficit imenso.” Para ele, é preciso criar um modelo que tenha financiamento federal. “O governo central nunca foi capaz de se responsabilizar pelo transporte público do País”, disse, lembrando que o projeto de socorro emergencial para o setor, de R$ 4 bilhões, foi vetado em dezembro.
Nogueira, que é presidente da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), prevê muitas crises nas cidades brasileiras. “A situação é pré explosiva”, comentou, referindo-se à questão do financiamento dos transportes. O sistema é insustentável, conforme o coordenador de Mobilidade Urbana do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Rafael Calábria. “Tiraram muitos ônibus da rua por falta de recursos, ocasionando grande lotação e frota mal adequada. A pandemia foi a gota d’água.”
Lá fora
Outros países já deram injeção de recursos no setor. Além dos Estados Unidos, com três programas emergenciais, a Alemanha liberou auxílio com estratégia de mudar o padrão do sistema, explicou Calábria. “Investiu em tecnologia sustentável, menos poluente, para reduzir o problema ambiental”, afirmou. “O Brasil está atrasado.”
Para o prefeito Eduardo Paes, a crise começou antes da pandemia, com o desmonte do sistema. “No Rio, uma crise institucional e escândalos no setor foram somados à pandemia”, disse, citando o sistema BRT, criado recentemente. “E, hoje, completamente destruído.” A prefeitura pretende agora atualizar o modelo de remuneração.
O sistema de transporte se viabiliza com volume de passageiros, declarou o secretário estadual dos Transportes Metropolitanos de São Paulo, Alexandre Baldy, para quem é preciso discutir a questão dos subsídios, em referência aos R$ 4 bilhões vetados. “Precisamos integrar bicicleta, patinete, trem, metrô e ônibus numa plataforma única.”
“O transporte coletivo é a espinha dorsal do sistema”, enfatizou o consultor Sergio Avelleda, ex-secretário municipal de Mobilidade e Transportes de São Paulo. Ele considerou que só ônibus, metrô e trem ainda podem atender à demanda diária das cidades, levando milhares de pessoas por hora.
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