Depois da inauguração do trecho entre São Simão (GO) e Estrela D’Oeste (SP) da ferrovia Norte-Sul, em março, e do leilão bem-sucedido em abril do trecho 1 da Ferrovia da Integração Oeste-Leste (Fiol), arrematado pela Bahia Mineração, o setor ferroviário está de olho na licitação prevista para o fim do ano da Ferrogrão, um dos maiores projetos “greenfield” do setor de infraestrutura dos últimos 20 anos.
A ferrovia de pouco mais de 900 quilômetros interliga Sinop (MT) e Miritituba (PA), buscando se tornar o principal meio de escoamento da maior parte da safra de grãos do Mato Grosso. Hoje, mais de 70% da safra do Estado é escoada pelos portos de Santos (SP) e de Paranaguá (PR), a mais de dois mil quilômetros da origem.
O leilão está programado para o terceiro trimestre deste ano. O projeto encontra-se em avaliação pelo Tribunal de Contas da União (TCU) desde 10 de julho de 2020. Para o ministro de Infraestrutura, Tarcísio Freitas, o projeto poderá criar um novo paradigma. “A Ferrogrão tem o poder de jogar a tarifa para baixo e tornar os nossos produtores extremamente competitivos em relação aos nossos pares ao redor do mundo. Vai atender um Estado que vai produzir em nove anos 120 milhões de toneladas de grãos por ano, quando a gente começou os estudos eram cerca de 50 milhões de toneladas por ano.”
O ministro viaja frequentemente para a região do Arco Norte há dez anos. Em 2013, havia um terminal de transbordo em Miritituba (PA), com capacidade de três milhões de toneladas por ano. Quase dez anos depois, todo o dia são mais de duas mil carretas chegando aos vários terminais instalados nesse período. Em 2020, a movimentação de carga pelos portos do Arco Norte igualou à dos portos do Sul e Sudeste. “Foi a primeira vez que se movimentou a mesma quantidade de grão entre esses dois polos e o custo no Arco Norte chegou a ser mais competitivo que em relação aos concorrentes internacionais”, afirma.
Para ele, a Ferrogrão será um regulador de preços. Ao fomentar o escoamento de grãos (principalmente soja e milho) do Mato Grosso pelo chamado Arco Norte, a ferrovia reforçará uma alternativa logística ainda subexplorada, possibilitando um efeito cascata: concorrência maior entre operadores, barateamento dos fretes, ganho de competitividade aos produtores agrícolas. De Miritituba, a carga poderá seguir por hidrovia até portos como Vila do Conde (PA). O mercado prevê R$ 20 bilhões em investimentos e mais R$ 60 bilhões de recursos para operação, que são os vagões e toda a parte necessária para operar a ferrovia. A concessão deverá durar 70 anos por conta das particularidades do projeto.
Outra ferrovia que poderá sair do papel em breve é a de Integração Centro-Oeste (Fico), resultado de investimento cruzado do governo federal a partir da prorrogação antecipada do contrato da da Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM). Cerca de R$ 2,7 bilhões que seriam pagos em outorga à União serão investidos pela Vale, concessionária da EFVM, na construção da ferrovia. Em 18 de junho, foi publicada no Diário Oficial a nova licença de instalação da FICO, obtida com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Para atender os requisitos indicados pelo órgão licenciador, os projetos foram alterados para reduzir a quantidade de aterros com altura superior a 20 metros que estavam previstos para os quilômetros iniciais, com o intuito de permitir a travessia de animais de um lado ao outro da linha férrea e minimizar possíveis acidentes.
O trecho de 383 km vai interligar o Vale do Araguaia, região produtiva e em desenvolvimento do Mato Grosso, com a Ferrovia Norte-Sul, favorecendo o escoamento da safra aos portos de Santos (SP), de Itaqui (MA). A construção da ferrovia seria colocada como contrapartida pelo valor de outorga na prorrogação antecipada da Estrada de Ferro Vitória-Minas. “Com a entrada em operação da Fico, a ideia é que a gente tenha uma redução de frete sem precedentes na nossa história”, ressalta o ministro. Essas novas linhas poderão aumentar a densidade férrea.
Em 8 de abril, foi licitada a concessão para exploração o desenvolvimento da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), entre as cidades de Ilhéus e Caetité, na Bahia. Os investimentos a serem feitos no trecho serão de R$ 5 bilhões ao longo do prazo da concessão, sendo a maior parte aplicada nos primeiros cinco anos do contrato em obras remanescentes e complementares. Há ainda a possibilidade de integração futura com a Ferrovia Norte-Sul.
Fonte: valor.globo.com, 29/06/2021