A expansão e o desenvolvimento da infraestrutura de transportes no Brasil até 2035 podem necessitar de até R$ 789 bilhões em investimentos. A cifra, expressiva, é considerada para um cenário de máxima oferta no País e faz parte de uma simulação do Plano Nacional de Logística (PNL) 2035, apresentado nesta sexta-feira, 3, pelo Ministério da Infraestrutura. Por meio do documento, que tem entre os destaques o crescimento robusto da malha ferroviária brasileira, o governo espera avançar em um planejamento logístico mais sofisticado para os próximos anos.
O plano serve para fundamentar as estratégias setoriais de cada tipo de transporte, passo importante para o Executivo definir o que pode ser resolvido com investimento privado, por meio de concessões, por exemplo, e o que demandará recurso público. “Vai fazer toda a diferença na nossa decisão estratégica para os próximos anos de investimento, que serão anos mais duros ainda em termos de alocação orçamentária”, afirmou a secretária de Planejamento, Desenvolvimento e Parcerias do Ministério da Infraestrutura, Natália Marcassa.
Foram simulados nove cenários para a infraestrutura em 2035, quando é esperado um equilíbrio maior dos meios de transporte. Historicamente, o setor é dominado pela malha rodoviária – mesmo não sendo a opção mais adequada e econômica para diversas situações. Atualmente, as rodovias respondem por mais de 60% da matriz, contra cerca de 20% de participação das ferrovias, consideradas mais eficientes e menos poluentes. Por isso, uma das grandes apostas do plano é no crescimento desse modal. A expectativa é de que, até 2035, a malha ferroviária represente pelo menos 30% da matriz. No cenário mais otimista, esse número pularia para 47,2%.
Para chegar a esse novo patamar, o governo conta com novos leilões de ferrovias e a execução das obras já previstas. Entre os destaques estão a Ferrovia Norte-Sul (já licitada), a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (com primeiro tramo já leiloado), a Ferrovia de Integração Centro-Oeste, e a Ferrogrão, que sofre com imbróglios jurídicos para sair do papel.
O marco legal das Ferrovias, que entrou em vigor por medida provisória editada pelo governo em agosto, também influencia as projeções. O texto libera um novo regime ferroviário no País, chamado de autorização. Nele, traçados são construídos exclusivamente pelo interesse da iniciativa privada, sem licitação. Desde que a MP foi publicada, o governo já recebeu 36 solicitações para construção de ferrovias, com investimentos que ultrapassam R$ 150 bilhões – número que ainda não foi integralmente absorvido pelo plano.
Por ora, para todos os modais, o “teto” de investimentos simulados é de R$ 789 bilhões. No cenário com menor volume de investimentos, a cifra chegaria a R$ 375,56 bilhões. Já o impacto desses recursos no PIB variam de 6% a 11% – para fazer esse cálculo, o plano também contabilizou o que será injetado no setor a partir de obras de manutenção, o que, somado ao cenário mais otimista de investimentos, faz o volume de recursos envolvidos ultrapassar R$ 1 trilhão até 2035.
Emissões
Outro dado destacado pelo governo é a promessa de diminuição das emissões de gases poluentes a partir do avanço do modal ferroviário e da adoção de inovações tecnológicas, por exemplo. A estimativa é que ocorra uma redução de até 14% no nível de emissão em comparação a um cenário futuro em que nada é feito, considerando a mesma rede de oferta de transportes de 2020, mas com as demandas de 2035.
A redução de emissões também pode ser contabilizada monetariamente, aponta o PNL. Segundo os parâmetros da Empresa de Planejamento e Logística S.A., cada tonelada de CO2 equivalente não emitida corresponde a R$ 71,43, em valores de 2020. Isso quer dizer que, na média dos cenários simulados, o ganho ambiental da evolução da matriz de transporte para modos menos poluentes seria de R$ 620,72 milhões.