As linhas 8-diamante e 9-esmeralda dos trens saíram das mãos da CPTM e passaram à iniciativa privada, com a ViaMobilidade, há pouco mais de um mês. Nas estações, passageiros convivem com velhos problemas como goteiras, banheiros sujos e escadas rolantes inoperantes.
Recentemente também foram registradas ocorrências que levaram à paralisação dos trens e ao acionamento do sistema Paese, no qual muitas vezes as pessoas se espremem em ônibus lotados para chegar ao destino. Somente na linha 9, no último mês, foram duas paralisações provocadas por falhas no sistema de energia —a última, nesta quarta-feira (2).
A Folha visitou na última semana as 40 estações pelas quais passam as duas linhas sob concessão. O levantamento com alguns problemas detectados em cada uma delas, separadamente, pode ser visto abaixo, ao final desta reportagem.
Plataformas inacessíveis para quem tem dificuldade de locomoção, cobertura insuficiente para permitir embarque e desembarque em dias de chuva ou banheiro ausente são falhas que certamente exigem mais do que um mês para serem corrigidas, por exemplo. O contrato de concessão é de 30 anos, no valor de R$ 980 milhões.
Mas goteiras e infiltrações, banheiros sujos, privadas interditadas, mictórios entupidos, falta de sabonete e papel toalha nos lavatórios em plena pandemia, poças d’água nas plataformas, elevadores e escadas rolantes inoperantes e sinalização que omite a existência de estação entregue há quase quatro meses são problemas que, em tese, poderiam ter sido resolvidos.
Também há situações que envolvem a segurança dos usuários, agora chamados de clientes pelos alto-falantes da ViaMobilidade, um dos braços da CCR. Em ao menos 14 estações, parte dos espaços reservados para extintores estavam vazios.
Para tornar a vida dos passageiros menos desconfortável, estações antigas como a Antônio João, na linha 8, terão que ser reformadas. Nela, quem pretende passar de um lado a outro precisa atravessar sobre os trilhos, no intervalo dos trens, tendo como orientação apenas um agente de segurança, que controla o portão de ferro. Parte da plataforma tem colunas em frente às portas e o restante está descoberta, ao relento.
Ainda mais anacrônica é a estação Amador Bueno, parada final da extensão da linha 8. Para chegar até lá, é preciso fazer uma baldeação em Itapevi e pegar um trem antigo, fabricado em 1980, reformado em 2000, com janelas de guilhotina e sem ar condicionado. Passa só de 30 em 30 minutos e para o trânsito com cancelas em travessias em nível.
Mesmo na linha 9, mais moderna, as estações que cortam bairros ricos da zona oeste não têm nem mesmo escadas rolantes no lado direito da marginal Pinheiros para acessar a passarela que levará às plataformas. Para piorar, elevadores estão constantemente quebrados ou em manutenção. “Então, é desse jeito, fico cansada. O elevador está quebrado há mais de uma semana. Estou acima do peso, mas sou nova. Imagina os idosos, pessoas que não têm condições”, disse a atendente Maiara dos Santos, 27, logo depois de passar pelas escadas da estação Granja Julieta.
Não são poucos os degraus que os passageiros têm que encarar na maioria das estações. Na Presidente Altino, por exemplo, que serve às duas linhas, são 36 entre a plataforma e o saguão. Uma montanha para quem trabalhou o dia inteiro.
Não é apenas a infraestrutura das estações que preocupa passageiros e conhecedores do sistema. Problemas ocorridos nas últimas semanas acendem o alerta sobre a operação, com foco no sistema elétrico, que é o que faz as composições se movimentarem.
A passagem de bastão entre a CPTM e a ViaMobilidade pode ter saído dos trilhos justamente na qualificação da mão de obra dos novos funcionários responsáveis pela manutenção, segundo o presidente do Sindicato dos Ferroviários da Zona Sorocabana, José Claudinei Messias.
“Sem dúvida, nas duas linhas, o maior problema é a falta de treinamento em tempo suficiente para os novos funcionários”, afirma Messias. “A mão de obra para as linhas 8 e 9 foi contratada [pela concessionária] e alguns vieram do metrô. A realidade é diferente [entre metrô e CPTM] e alertamos a ViaMobilidade sobre isso no final do ano passado”, explica.
O doutor pela Escola Politécnica da USP e especialista em transportes Telmo Giolito Porto vê questões técnicas a serem resolvidas nos sistemas de energia. “Pelo que sei, isso está claro para eles. Inclusive, planejando investimentos”, diz. “Aumento de capacidade de subestação é a mãe desses problemas desses últimos meses”, afirma.
O especialista afirma, entretanto, que a compra e o pagamento dos novos trens é o que mais pesará no início da operação da ViaMobilidade.
Segundo Porto, a negociação foi baseada em um prazo de pagamento bastante restrito, o que foi apontado pela fornecedora Alstom como fundamental para manter o preço. “Se olhar a concessão, o que mais pesa é trem. A parte civil [infraestrutura das estações, por exemplo] e de sistemas de operação são valores relativamente menores que em outras concessões”, diz. “Ali, o negócio era colocar trem.”
O especialista afirma que as linhas 8 e 9 foram oferecidas porque são aquelas que seriam mais rapidamente concedidas. Entre os motivos está o fato de serem pertencentes à antiga Fepasa, também do governo estadual, com tecnologia menos complicada que a da linha 7-rubi, por exemplo, pertencente no passado à rede federal. Também diz que são atrativas do ponto de vista econômico, principalmente depois que a 9 passou a contar com a integração a estações de metrô, recebendo mais passageiros.
RESPOSTA
A ViaMobilidade diz que, desde a assinatura do contrato de concessão, em 30 de junho, fez reuniões de consultoria, transferência de funções e treinamentos de equipes para a “realização do melhor processo de incorporação das linhas pela concessionária”. “O compromisso com a segurança é o principal ativo da companhia, que investe em treinamentos e na capacitação constante de seus colaboradores”, disse, em nota.
A concessionária também afirmou que tem um diagnóstico da atual estrutura das linhas e estruturou um plano de ação para o primeiro ano de operações com investimentos importantes. O foco será a modernização da via permanente (trilhos) e da rede aérea (sistema responsável pela transmissão de energia elétrica para movimentação dos trens), segundo a empresa.
A ViaMobilidade diz também que, até fevereiro de 2023, como previsto em contrato, deve realizar reformas em sete estações: Grajaú, Santo Amaro, Santa Terezinha, Sagrado Coração, Comandante Sampaio, Imperatriz Leopoldina e Lapa.
No período, também pretende implantar duas passarelas: uma entre o Parque Villa-Lobos e a ciclovia rio Pinheiros; outra no quilômetro 42 da linha 8-diamante. “Uma segunda fase do plano de ação também está prevista para o 2º, 3º e 4º ano da concessão, o que inclui a modernização de outras 29 estações”, disse.
A concessionária acrescentou que comprou 36 novos trens da Alstom.
Segundo a Via Mobilidade, ao todo, nos próximos 30 anos, as linhas 8 e 9 receberão investimentos de R$ 3,8 bilhões. Estão previstas a construção da estação Ambuitá, na linha 8-diamante, a implantação de um novo CCO (Centro de Controle Operacional) e a reforma no pátio Presidente Altino.
A concessionária diz que todas as melhorias envolvem logística complexas e deverão ocorrer ao longo da operação regular das linhas. A empresa afirma que o processo de atualização dos sistemas é transitório e que, ao final, “resultará em uma infraestrutura de transporte públicos sobre trilhos mais moderna e com maior capacidade de atender com conforto e segurança nossos clientes”.
A CPTM afirma que a concessão foi a alternativa “viável e inovadora” encontrada para buscar recursos na iniciativa privada e efetuar investimentos nessas linhas sem a necessidade de aporte financeiro pelo governo estadual.
A companhia diz que a linha 9-esmeralda possui 100% da infraestrutura acessível. “A adaptação completa, de acordo com as normas da ABNT, das estações não acessíveis da linha 8-diamante está prevista nas obrigações da concessionária.”
A CPTM declara ainda que tem um rigoroso planejamento de manutenção preventiva e preditiva realizada em via permanente, manutenção de equipamentos, estações, pátios, bases e veículos. E que esse plano se manteve em 2021 para tudo que administra.
Segundo a CPTM, todo o processo de concessão foi acompanhado pela CMCP (Comissão de Monitoramento de Concessão e Permissões), órgão da Secretaria Estadual dos Transportes Metropolitanos.
Pingback: Extra resources
Pingback: สล็อตเว็บตรง
Pingback: ห้องพักรายวัน รามอินทรา
Pingback: Your Domain Name
Pingback: สล็อตเว็บตรง
Pingback: Khủng bố
Pingback: ทดลองเล่น joker slot machine ฟรี