Rota ferroviária bioceânica custa três vezes menos que a rodoviária

Com custos bem diferentes para serem operacionalizadas, as rotas bioceânicas rodoviária e ferroviária serão o foco de discussão de autoridades brasileiras, bolivianas, argentinas e chilenas em Campo Grande, entre o mês de abril e maio.

Em relação às obras estruturantes para finalizar as rotas, a rota rodoviária vai consumir US$ 83 milhões, enquanto a ferroviária precisa de estrutura de US$ 30 milhões, ou seja, quase três vezes menos – diferença de 176,6%.

Por isso, a via por trilhos para conectar os quatro países tem sido apontada como a forma mais viável para operacionalização no curto prazo.

A data para o evento não está sacramentada, mas o seminário acontecerá, inclusive, com programação prévia montada.

Nesse cenário, a Malha Oeste, em Mato Grosso do Sul, vai ganhar um novo argumento para ser viabilizada.

Conforme levantamento das autoridades que participarão do seminário internacional, o custo estimado atual para que haja conexão direta via trem, por Corumbá, até os portos de Antofagasta e Iquique (ambos no Chile) é de US$ 30 milhões.

Há a necessidade de construção de duas pontes em território argentino para fazer a ligação entre Yacuiba (Bolívia) e Jujuy (Argentina).

Todo o restante do trajeto, passando por Bolívia principalmente, está em operação atualmente e com capacidade de carga que pode absorver novas demandas.

Em reuniões técnicas envolvendo representantes dos setores comercial e público de Brasil, Bolívia e Argentina, houve indicação que a ferrovia boliviana pode fazer o transporte de cargas até Corumbá, com origem na Argentina, imediatamente.

RODOVIÁRIA
A rota bioceânica rodoviária passa por uma fase diferente de estruturação. A ponte a ser construída no Rio Paraguai, na região de Porto Murtinho e Carmelo Peralta, vai envolver investimento de US$ 83 milhões.

Além disso, há a pavimentação de estradas no lado paraguaio. A ponte de 680 metros de extensão, com mais de 100 metros de altura e viadutos de 150 metros em ambas as cabeceiras, com pilares a cada 30 m antes do vão, teve sua pedra fundamental lançada em dezembro de 2021 e a previsão para ficar pronta é 2023.

O trecho no Paraguai que depende de pavimentação é na rodovia Chaco Paraguaio, que vai de Carmelo Peralta a Lomo Plata, um total de 275 km de distância – faltam 28 km de obra.

Diante dos números envolvidos na infraestrutura, o seminário a ser realizado em Campo Grande pode servir para que haja um acordo de operacionalização do corredor bioceânico ainda neste ano com a utilização da ferrovia.

Nesses termos, a prefeitura de Corumbá está atuando para levar para esse evento condições para que o trem possa receber prioridade governamental no atual momento.

O gerente de Fomento ao Comércio Exterior, Lourival Vieira Costa, pontuou que o evento internacional pode marcar o início de acordos para o transporte ser viabilizado e para que haja termos encaminhados para haver o canal verde de aduanas, o que permitiria cargas serem lacradas na origem e só precisarem de desembaraço no destino final. Isso traria agilidade no transporte.

“A ferrovia está pronta a partir do trecho de Corumbá para a Bolívia. O que temos faltando nesse trajeto são cerca de 60 km na Argentina, onde duas pontes precisam ser construídas, a um custo de cerca de US$ 30 milhões. Hoje, a viabilidade da ferrovia está mais perto do que a [rota] rodoviária, e isto vamos tratar nesse seminário”, argumentou.

O corredor ferroviário ainda é apontado, conforme estudos apresentados pelo Itamaraty, que permite redução de 22 a 23 dias no transporte de cargas saídas de Mato Grosso do Sul para a China e mercados asiáticos.

“Ao invés da celulose e outros produtos, a maioria é exportada para os países asiáticos, terem de ir até o Porto de Santos, eles virão para Corumbá e daqui vão de trem para os portos no Chile. Se tivermos a Malha Oeste viabilizada também, esse transporte vai ser mais otimizado”, sugeriu Costa.

O ramal na Bolívia tem 1.244 km em pleno funcionamento.

O potencial de cargas a ser transportado nesse trajeto é de 3,5 milhões de toneladas. O sistema ferroviário boliviano transporta em torno de 2 milhões de toneladas anualmente.

O ministro de carreira diplomática do Ministério das Relações Exteriores João Carlos Parkinson também apontou que a ferrovia está mais avançada para ser operacionalizada.

Ele sinalizou que o seminário vai permitir o detalhamento dessas discussões. “Estarão presentes representantes de vários setores produtores. Estarão presentes representantes de todas as ferrovias do Cone Sul, inclusive da Bolívia”, explicou, em entrevista ao Correio do Estado.

30 milhões de dólares em investimentos
O custo estimado atual para que haja conexão direta via malha ferroviária por Corumbá até os portos de Antofagasta e Iquique (ambas no Chile) é da ordem de US$ 30 milhões.

Proposta começou a ser discutida em 2017
A proposta aberta de ser instalada uma rota bioceânica ferroviária começou a ser ventilada em 2017, no governo boliviano de Evo Morales. Os acordos não avançaram muito ao longo dos três últimos anos, mas ganharam impulso em 2021.

A principal materialização dessa negociação é a assinatura de um acordo de cooperação comercial envolvendo Corumbá, governo boliviano e câmaras comerciais das cidades de San Salvador de Jujuy, Salta e San Miguél de Tucumán (Argentina).

O documento foi elaborado no Brasil pelo ministro de carreira diplomática do Ministério das Relações Exteriores João Carlos Parkinson e já teve o aceite da prefeitura de Corumbá, que é um elo nessa negociação.

O governo de Mato Grosso do Sul é entusiasta do projeto, justamente porque a gestão quer reativar a malha ferroviária do Estado.

Fonte: correiodoestado.com.br, 14/03/2022

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