Opinião – O trem de passageiros volta à pauta

Sua extinção, em 1999 — embora decadente desde os anos 1980 –, fez com que milhares de pessoas se tornassem reféns dos automóveis e linhas de ônibus

De tempos em tempos, o tão falado e nunca retomado trem de passageiros entre Sorocaba e São Paulo ganha espaço na imprensa. Trata-se de um importante anseio da sociedade sorocabana e possivelmente a única opção possível de transporte coletivo que não utiliza as rodovias Raposo Tavares e Castelo Branco, hoje saturadas e à mercê de constantes interrupções, congestionamentos e acidentes. No início de fevereiro, por exemplo, quando uma cratera se abriu na Marginal Tietê, todas as viagens de ônibus de Sorocaba a São Paulo foram afetadas, com o desvio dos ônibus pela Marginal Pinheiros, acarretando em atrasos e transtornos.

O tema do trem de passageiros voltou a ficar em evidência ao entrar no radar do Grupo de Trabalho Ferrovias de São Paulo, criado pela Secretaria Estadual de Logística e Transportes, como embrião do futuro Departamento Ferroviário do Estado. E a esperada viabilização do projeto necessariamente precisa passar por uma solução conjunta entre os governos estadual e federal. Isto porque os pouco mais de cem quilômetros de trilhos entre Sorocaba e São Paulo hoje estão divididos entre os dois entes da federação, sendo de propriedade do Estado a porção entre Mairinque e a capital, e da União o trecho de Mairinque a Sorocaba.

Atualmente, estão ativos para trens metropolitanos os cerca de 42 quilômetros iniciais da antiga Estrada de Ferro Sorocabana, dentro da Região Metropolitana de São Paulo, e que compõem a Linha 8-Diamante da ViaMobilidade, empresa que ganhou em abril do ano passado a concessão do serviço então prestado pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). São utilizados para o transporte de cargas 35 quilômetros de ferrovia entre Sorocaba e Mairinque que integram a Malha Oeste da ex-Rede Ferroviária Federal (RFFSA), cuja concessão à empresa Rumo vai até 2026, mas que encontra-se em procedimento de relicitação (devolução negociada pelo concessionário) na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Já nos 27 quilômetros entre Mairinque e Itapevi, não há circulação de trens há mais de dez anos e grande parte da superestrutura e infraestrutura está degradada e dilapidada, com invasões na faixa de domínio e incidência de furtos de material metálico (trilhos e dormentes).

Nesse sentido, espera-se que o movimento do governo estadual seja um pontapé inicial para uma solução negociada com a União. Já existe, na concessão das Linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda da CPTM vencida pela ViaMobilidade, um “gatilho” para a “operação e manutenção de eventual expansão do serviço concedido em trechos que se caracterizem como prolongamento das linhas nas Regiões Metropolitanas de São Paulo e de Sorocaba”, desde que esta seja de interesse do Estado. Hoje não há prazos para a implantação da expansão, pois depende de estudos a serem realizados.

Estado, União e iniciativa privada têm unido esforços em pleitos parecidos, como a implantação do Trem Intercidades (TIC) de Americana a Jundiaí, passando por Campinas, onde a ferrovia é federal e o serviço será estadual com concessão à iniciativa privada; e no Contorno Ferroviário da Grande São Paulo — Ferroanel Norte, cujo projeto demanda diversas trocas de áreas e realocação de linhas estaduais e federais para eliminar o gargalo dado pela transposição da RMSP por trens de carga ao mesmo tempo em que se otimiza o transporte metropolitano de passageiros.

A reativação da ligação ferroviária entre Sorocaba e São Paulo figura há pelo menos quatro décadas na lista das principais demandas frustradas da população regional. A extinção do trem de passageiros, em 1999 — embora decadente desde os anos 1980 –, fez com que milhares de pessoas se tornassem reféns dos automóveis e linhas de ônibus. Uma solução, apesar de inúmeras barreiras burocráticas, políticas e econômicas, é cada vez mais urgente, sob pena de sérios problemas na mobilidade das pessoas entre as duas regiões metropolitanas em um cenário de saturação completa das duas rodovias que as ligam. Situação que está mais perto de nós a cada dia, com o crescimento populacional das cidades e o aumento da frota de veículos.

Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul – 17/03/2022

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