O RJ2 teve acesso, com exclusividade, a um relatório da Agência Reguladora de Transportes (Agetransp) que pode explicar o motivo dos problemas nos trens da Supervia. A concessionária não fez vários investimentos que estavam previstos no contrato de concessão e foi multada por isso.
A Agetransp afirma que a Supervia falhou em cinco itens do plano:
reformar e adequar à acessibilidade 48 estações; modernizar as subestações e revitalizar a via; instalar o sistema de sinalização ATP, que controla a velocidade dos vagões; construir novos pátios e duplicar o trecho Gramacho-Saracuruna; substituir equipamentos e melhorar os trens no trecho Saracuruna-Guapimirim.
Atrasos, vandalismo e furto de cabos
Quem precisa dos trens da Supervia já começou a semana enfrentando dificuldades. Na manhã desta segunda-feira (4), os quatro ramais estavam com atrasos.
“É cansativo porque a gente sai cedo de casa, mas não adianta nada. A gente acaba se atrasando no trabalho. O intervalo tambem, que é muito grande. Santa Cruz, por exemplo, eles tiraram o expresso, aí é parador pra gente todo dia”, diz uma passageira.
Em Belford Roxo, o vandalismo atrapalhou a operação. O trem que saiu em direção à Central não conseguiu chegar nem à primeira estação de Agostinho Porto. Teve que retornar porque havia muito lixo acumulado sobre os trilhos. Vândalos, então, botaram fogo e depredaram equipamentos na estação.
Já nos ramais Deodoro, Japeri e Saracuruna, os intervalos foram maiores do que os normais por causa de problemas na sinalização.
“O patrão muitas das vezes não entende [o atraso]. Eu saio de casa às quatro da manhã pra pegar às sete no trabalho. O trem atrasa, eu vou chegar atrasado”, diz o porteiro Marco Ferreira.
A explicação para tantos problemas pode estar no documento obtido pelo RJ2.
A Agetransp aponta que a Supervia não cumpriu nos últimos 10 anos os investimentos na estrutura que estavam previstos no contrato de concessão assinado com o governo do estado em 2010.
A Supervia foi multada pelo descumprimento de cada um desses itens, totalizando mais de R$ 2,2 milhões referentes à primeira fase do plano de investimentos.
A Supervia alega que enfrenta problemas com o furto de cabos, que só este ano aumentou mais de 200%.
A empresa diz que, desde o começo da pandemia, teve um prejuízo de mais de R$ 600 milhões, e que, no ano passado, entrou com um processo de recuperação judicial.
O governo do estado criou em setembro do ano passado uma força-tarefa para combater a ação de criminosos que furtam cabos e outros equipamentos na ferrovia.
Mas o descumprimento de investimentos necessários, previstos no contrato de concessão, tem prejudicado os passageiros no dia a dia.
“Eles sempre informam que é problema de cabo, que roubaram os cabos”.
“Esse negócio de cabo, roubo de cabo, essas coisas aí, a gente já não acredita mais, né?”.
O que dizem os envolvidos
A Secretaria de Estado de Transportes informou que eventuais pendências nos investimentos da Supervia fazem parte do oitavo e do nono aditivos ao contrato de concessão. E que esse assunto vem sendo tratado em negociações com a empresa.
A Supervia afirmou que enviou ao governo do estado a comprovação de investimentos previstos no contrato de concessão.
Fonte: g1.globo.com/rj, 04/04/2022
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