Datas cheias são um bom momento para que possamos olhar para o que foi feito e pensar no que ainda está por vir. Não seria diferente neste ano, quando o Brasil celebra os 200 anos de sua independência. Aproveitando esta data, podemos olhar para o setor ferroviário e fazer uma análise de tudo o que foi realizado e o muito que ainda pode ser feito. Sem dúvida, o segmento foi e é essencial para a economia e progresso do Brasil e isso desde seus primórdios. Mas também não há dúvida que poderia ser ainda mais.
Desde 1854, quando a primeira ferrovia do Brasil foi inaugurada, o transporte de cargas e passageiros sobre trilhos teve seus altos e baixos. Quando se fala em trilhos no Brasil, é fácil concluir que estamos em estado de urgência nesse sentido. Mas nem sempre isso foi tão forte. Entre 1870 e 1930, por exemplo, as ferrovias brasileiras foram as principais responsáveis pelo escoamento da produção agrícola brasileira, principalmente café. Mas o sucateamento pelo qual o segmento passou nos últimos anos é evidente.
De acordo com a Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), em 2021, foram 1,8 bilhão de passageiros transportados/ano, em uma malha de 1.105 quilômetros de extensão. Há investimentos de Estados e as últimas décadas representaram um progresso ainda maior, principalmente quando analisado os metrôs em cada Estado. Embora o transporte por trens entre cidades, não tenha o mesmo desempenho, visto que nossa malha não apresenta crescimento tão positivo.
Em se falando sobre metrô, ainda não temos uma grande malha, se comparando com o metrô de Londres, Moscou, Paris e Nova York – mais antigos que o nosso. O primeiro metrô do Brasil, o de São Paulo, tem 54 anos, e sempre foi referência em tecnologia, atendimento, segurança, conforto, pontualidade e confiabilidade. Interessante observar que técnicos do Metrô de São Paulo já deram consultoria para outros metrôs que vieram depois, como o de Salvador e Belo Horizonte e mesmo para fora do País.
Há 30 nasceu a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), fruto da fusão da CBTU (Superintendência de Trens Urbanos de São Paulo (STU/SP) e FEPASA DRM. Hoje, a empresa controla um dos maiores e mais movimentados sistemas de transporte ferroviário de passageiros do Brasil. Da mesma forma que o metrô, a empresa é modelo de tecnologia.
No tocante ao transporte de cargas, segundo a Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), “em 2021, o setor ferroviário de carga brasileiro mostrou sinais de retomada do crescimento, apresentando uma evolução de 3,6%, 506,8 milhões de toneladas úteis (TU), em comparação a 2020, 489 milhões de TU, e 2% em comparação a 2019, 494,5 milhões de TU, período pré-pandemia
Vale lembrar que o Brasil conta com uma malha de apenas 30 mil quilômetros e com uma distribuição nada equilibrada – que fica ainda menor se comparada ao nosso território (mais de 8,5 milhões de km2). O Sudeste concentra com 47% da malha ferroviária nacional. Já as regiões Norte e Centro Oeste, que são importantíssimas para a produção agrícola, ocupam apenas 8%. Os restantes 45% estão divididos entre as regiões Sul e Nordeste.
Um país desenvolvido precisa de todos os seus meios de transporte para ter uma economia ainda mais forte. Não há país desenvolvido que não precise de todos os meios para, por exemplo, escoar sua produção ou ter um transporte de passageiros mais eficiente. Mas no Brasil, infelizmente, estamos muito aquém das necessidades da população. Temos, sim, necessidade de maiores investimentos em ferrovias cortando o Brasil e facilitando, ainda mais, o escoamento de produções das mais diversas.
A 28ª edição da Semana de Tecnologia Metroferroviária (STMF), que acontece entre 13 e 16 de setembro, tem como tema “200 anos de independência: trilhos para o futuro do Brasil” e será um ambiente de agregação dos diversos agentes do setor em prol da ampliação do debate e disseminação dos diversos conhecimentos e informações relevantes, como mobilidade, economia, legislação, políticas do setor público e privado, sobre os transportes sobre trilhos – no que foi e no que poderá ser.
Não precisamos esperar outros 200 anos para que o setor mostre sua força, pois no presente do presente temos engenheiros (as) e arquitetos (as) competência técnica e profissional. Nossa missão é olhar para o passado e pensar no futuro para que esse quadro mude para o bem da nossa economia de modo geral. Esse é um modal fundamental e o desafio é fazer com que cresça em tamanho, importância e competitividade para o progresso do País. Essa é a uma questão primordial.
Por Sílvia Cristina Silva
Presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô (AEAMESP)