Vagão descoberto nas Olimpíadas é restaurado e passa a ser usado em obra de ferrovia em SP
Vagão fabricado pela Cobrasma em 1976 e que viraria sucata no Rio – Divulgação/ABPF
Os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, contribuíram, ainda que não de forma intencional, para evitar que três vagões fossem transformados em sucata, destino que se tornou habitual na história ferroviária brasileira. Resgatados, um deles já foi reformado numa oficina no interior de São Paulo e liberado para uso.
Como essa história estranha ocorreu? Os vagões estavam abandonados no antigo pátio do terminal de cargas de Praia Formosa, mas foram transferidos para a superintendência do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) devido ao projeto Porto Maravilha, para as Olimpíadas realizadas há seis anos no Rio.
Totalmente largados, seriam transformados em sucata —como ocorreu com outros vagões—, mas três voluntários da ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária) viram os vagões no local, avaliaram que poderiam ser úteis futuramente passaram a atuar para resgatá-los.
A primeira medida prática foi escrever “Não cortar” num vagão. Contei essa história aqui.
Um dos vagões tem 87 anos e foi fabricado na Bélgica. Veio para o Brasil para atender a Estrada de Ferro Leopoldina e estava em condições de circulação quando encontrado.
Os outros dois são mais novos, ambos de 1976, mas nem por isso com histórias menos interessantes. Um foi produzido na extinta Iugoslávia, enquanto o outro é nacional, feito pela Cobrasma —que encerrou suas atividades em 1998— e que pertenceu à também já extinta Rede Ferroviária Federal.
Depois de muita negociação para que fossem transferidos para a associação, eles enfim deixaram o local em 25 de novembro de 2020 e foram encaminhados para Cruzeiro (SP), onde a ABPF tem uma oficina para restauração em sua sede da regional Sul de Minas.
Chamado de hooper, o vagão produzido pela indústria nacional na década de 1970 passou a ser recuperado desde então pelos mecânicos da associação, o que foi concluído nos últimos meses.
Em sua história de 46 anos, o vagão já esteve alocado na superintendência de Belo Horizonte da Rede Ferroviária Federal e passou a ter componentes retirados para uso em outros vagões após a concessão das ferrovias, iniciada no primeiro governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Já guardado em Cruzeiro, foi desmontado, teve os componentes todos conferidos e contou com reposição de peças que a associação mantinha em estoque. Com a reforma concluída, foi pintado com a cor padrão da extinta rede nacional e ficou pronto para entrar em serviço na recuperação da ferrovia entre Cruzeiro e Passa Quatro (MG).
Segundo o presidente da ABPF, Bruno Crivelari Sanches, o vagão será usado em todo o restauro com o objetivo de agilizar o uso de lastro no trecho de ferrovia já recuperado.
Além dos três vagões, a ABPF também recolheu componentes avulsos após autorização do Dnit, como engates, que serão úteis na frota da entidade de preservação.
A região da ferrovia, especialmente o túnel na divisa entre São Paulo e Minas Gerais, teve papel importante na Revolução Constitucionalista de 1932.
Fonte: Folha de São Paulo, 09/01/2023