Atualmente, o Rio de Janeiro tem sete bondinhos sem uso. Desses, cinco estão se deteriorando na Estação Leopoldina, um está nas oficinas da Supervia, em Deodoro, e o outro em exposição na Estação Carioca dos Bondes – atrás do prédio do Banco do Brasil, na Rua Senador Dantas. De acordo com especialistas, esses veículos poderiam estar sendo utilizados em outras cidades do Rio de Janeiro.
Esses veículos foram adquiridos pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro após o acidente envolvendo um bondinho em Santa Teresa, no ano de 2011. A ideia da então gestão Sergio Cabral era “modernizar o serviço”. Contudo, à época, moradores do bairro recusaram os novos bondes, que não cumpriam os requisitos necessários, de acordo com eles.
Os novos bondes, sem estribo, com barras de segurança e com assento para apenas 16 passageiros, voltaram a circular em 2016. Os estribos eram estreitas plataformas laterais que permitiam a viagem em pé pelo lado de fora. Nos antigos equipamentos, havia espaço para 32 passageiros sentados e 12 em pé, nos estribos. Hoje, cada carro só leva 16 pessoas sentadas.
No acidente, seis pessoas morreram e 57 ficaram feridas após um bonde lotado e sem freio se descontrolar, sair dos trilhos e bater em um poste. De lá para cá, o serviço nunca mais voltou ao normal e os moradores do bairro passaram a conviver com a falta de transporte coletivo na região.
“O acidente aconteceu exclusivamente por sucateamento do sistema e falta de manutenção dos bondes. Aliás, a tragédia foi a deixa para os governantes, em vez de fazer a manutenção no que já existia, e que saía muito mais barato, fazer negócios com o dinheiro público. Porque manutenção e restauração não dão voto. O que dá voto é comprar um bonde novo e tecnológico, mesmo que não atenda às necessidades da população”, disse o presidente da Associação de Moradores de Santa Teresa (Amast), Paulo Saad, em entrevista ao portal G1 em 2021, quando o acidente completou 10 anos.
Mais de uma década se passou e hoje em dia, os sete bondinhos encontram-se sem uso. Cinco deles estão na Estação Leopoldina, se deteriorando, como mostram as imagens abaixo. Segundo relatos obtidos pela reportagem do DIÁRIO DO RIO, algumas peças dos veículos já foram furtadas.
Atualmente, dos outros dois bondinhos, um está nas oficinas da Supervia, em Deodoro e o outro em exposição na estação Carioca dos bondes (atrás do prédio do Banco do Brasil, na Rua Senador Dantas). No mês de abril de 2021, em reunião com o então secretário estadual de transportes, André Luiz Nahass, a Associação de Moradores e amigos de Santa Teresa (AMAST), fez as seguintes recomendações: Restauro dos bondes originais “americanos” que estão na oficina, incluindo os seis bondes de passageiros e dois de serviço; Complementação da reconstrução da Oficina, instalação e equipamentos que permitam a volta dos serviços internos de manutenção preventiva e corretiva, tanto dos VLTs quanto dos bondes americanos; Transferência dos bondes que estão na Estação da Carioca submetidos às intempéries, para a Oficina do Guimarães.
“Os cinco da Leopoldina foram parcialmente vandalizados e tiveram peças roubadas, mas ainda podem ser recuperados e utilizados em outro local”, destaca Ricardo Lafayette, presidente da Associação Fluminense de Preservação Ferroviária (AFPF).
A AFPF tem um projeto para utilizar os bondes em Petrópolis. “Nossa proposta é criar duas linhas regulares, com um funicular para acesso da Rua Teresa e uma linha exclusiva para o turista, que circulará por todos os principais pontos turísticos da cidade com o passe de um dia, que dará direito ao turista entrar e sair quantas vezes quiser durante o dia, e com sistema de som sincronizado com as atrações e suas descrições e histórias, como os ‘sightseeing’ muito comuns na Europa”, informa a Associação Fluminense de Preservação Ferroviária.
“O sistema de bondes no Município de Petrópolis foi desativado em 1939, depois de circular desde 1912. Deixou saudades, mas precisamos olhar para o futuro e aproveitar que ainda é possível sua reestruturação, aproveitando também parte do leito ferroviário que foi abandonado e, assim, trazendo uma solução para a diminuição do números de carros circulando no Centro e criando uma grande atração turística”, explica a AFTP. O projeto detalhado pode ser visto clicando aqui.
Foto: Daniel Martins
Procurada pela reportagem do DIÁRIO DO RIO, a Secretaria Estadual de Transportes informou que “os bondes armazenados na antiga estação Leopoldina não são compatíveis com o atual sistema, que priorizou novos critérios de segurança, cuja instalação nos modelos antigos é inviável. A Companhia Estadual de Engenharia de Transportes e Logística (Central) cumpre o Termo de Cooperação Técnica firmado entre a União e o Governo do Estado em 2022. Pelo acordo, a Central RJ ficou responsável pela desocupação do pátio e retirada do lixo e sucata abandonados (foram removidas cerca de 50 toneladas de entulho). Em paralelo, um processo administrativo foi aberto para despatrimoniar vagões, trilhos e locomotivas que ainda permanecem no local. Ressaltando que apenas a limpeza do pátio da estação ficou sob responsabilidade do Estado”.
Fonte: Diário do Rio