O setor de metrôs e trens urbanos ainda não conseguiu se recuperar do baque sofrido na pandemia. Em 2022, o volume de passageiros do país teve um avanço de 28% na comparação com o ano anterior, chegando a 2,3 bilhões de pessoas transportadas. No entanto, o número ainda representa 70% do patamar anterior à crise. Os dados são do balanço anual da ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos), obtida em primeira mão pelo Valor.
Para alcançar a marca de 3,3 bilhões de passageiros registrada em 2019, as operadoras teriam que ter um crescimento de 43% no tráfego anual. A projeção é que essa marca só será alcançada no fim de 2024, segundo Joubert Flores, presidente da entidade. “É uma estimativa, caso a retomada siga no ritmo atual”, diz ele.
Uma dificuldade do setor é que a pandemia trouxe efeitos estruturais ao comportamento dos passageiros de trens urbanos. “Grande parte das mudanças veio para ficar. Hoje ainda há um percentual grande de pessoas que trabalham remotamente ou em regime híbrido. Criou-se uma flexibilidade que, em alguns casos, deve se manter”, afirma Flores. A associação estima que o “home office” responda por 15% da queda no número de passageiros.
“É uma combinação de fatores, outros deslocamentos deixaram de existir. Hoje muita gente faz comprar sem sair de casa, por exemplo. Fora que temos ainda um nível de desemprego alto, o que também reduz o fluxo.”
São Paulo, que reúne a maior parte dos passageiros do segmento, teve a retomada mais forte, com alta anual de 31%, para 1,7 bilhão de passageiros em 2022. O Rio de Janeiro apresentou avanço de 29% na comparação com o ano anterior, chegando a 323 milhões de passageiros transportados. A região Nordeste teve alta de 1%, para 166 milhões de pessoas.
O impacto persistente da pandemia também se reflete na situação financeira do caixa dos operadores do setor. Em 2022, a estimativa da ANPTrilhos é que as empresas deixaram de arrecadar R$ 5 bilhões, apenas com receitas tarifárias, devido à crise.
Flores também destaca a lenta expansão da rede de metrôs e trens. Em 2022, a malha avançou 2,05%, para um total de 1.129,4 km, principalmente pelas obras de ampliação das linhas de Natal e de São Paulo. Apesar de ser uma alta considerada baixa pelo setor, trata-se da primeira expansão após um período de quase estagnação desde 2018.
Hoje, a principal perspectiva de crescimento da malha são os projetos de concessão em estudo, como o Trem Intercidades (TIC) entre São Paulo e Campinas e o VLT de Brasília, afirma o presidente. “Essa atração do capital privado é o que tem gerado mais resultados para a expansão. Não é a única saída, mas temos visto uma dificuldade do poder público para fazer os investimentos necessários”, diz Flores.
Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2023/04/18/metros-chegam-a-70-do-nivel-pre-pandemia.ghtml