Uma construção história que remete a um período importante, quando ainda havia o transporte ferroviário em Teresópolis, tombada como parte do Patrimônio Histórico e Cultural do município, vem sofrendo ação do tempo, sendo agredida e invadida sem que lhe seja dada atenção necessária à sua conservação. Trata-se do antigo viaduto férreo sobre a Rua Professor João Camargo, via que leva até a Rua São Francisco em Araras. O acesso à ponte que agora apenas atende moradores de uma comunidade que se estabeleceu em uma das cabeceiras da estrutura é feito pela Rua Alfredo Rebelo Filho, bem próximo da Feirarte.
Moradores do Alto, vizinhos dessa estrutura, muito pouco conhecida, relataram ao jornal O Diário de Teresópolis preocupação com a insegurança que a ponte representa para quem a utiliza diariamente. É que trechos do guarda-corpo da ponte estão quebrados e a altura ultrapassa os 20 metros do topo da ponte até o Rio Paquequer. Além disso, na parte de baixo da referida estrutura já é possível ver ferragens à mostra evidenciando uma situação de degradação. Além de moradias proletárias construídas sob a estrutura da ponte, um condomínio que está sendo erguido ao lado da ponte, construiu um muro sem o devido cuidado com a preservação arquitetônica do bem público tombado.
O jornalista e historiador Wanderley Peres recorreu as suas pesquisas para revelar a história por trás dessa ponte. “Essa é uma obra de quase 100 anos, com 72 metros de comprimento, inaugurada em 1931 com a presença do ministro da viação e obras públicas do governo federal, José Américo de Almeida, que foi até candidato à presidência naquela eleição armada do Congresso de 1934, que elegeu Getúlio Vargas. Essa obra representou para à época um progresso muito grande para o município, uma das primeiras obras de concreto armado, ela substitui uma ponte original que havia antes, em colunas de pedra com madeira, uma ponte mista que permitiu o trem chegar do Alto à Várzea. O trem chegou em Teresópolis em 1908 e somente em 1921 chegou à Várzea. Então era necessário construir uma ponte nesse ponto aqui, o Túnel da Beira-Linha que é o Túnel dos Órgãos, a Ponte da Esquina do Pecado, uma ponte de ferro construída ali e a estação da Várzea. Então o trem em direção à Minas Gerais precisava desse novo caminho, então foi feita uma ponte primitiva em 1912 e depois em 1931 fazem essa ponte”, conta Wanderley.
Outra função
Depois que o transporte por trem deixa de ter a relevância que tinha, a ponte passou a não ter utilidade. “Em 1957 para de circular o trem, então, 26 anos depois, a ponte passa a não ter quase utilidade e com o leito da estrada de ferro sendo ocupado e as margens também, daí o bairro Beira-Linha, um bairro que surgiu na beira da linha do trem, ela ficou meio quase que escondida, as pessoas vêm aqui, ela não chega a lugar nenhum, porque logo à frente o caminho é impedido e as pessoas têm curiosidade, por que uma obra tão importante, tão imponente não tem mais nenhuma utilidade? Mas sim, ela servia para o trem que chegava à Várzea naquela época”.
Em 2008 e estrutura é tombada pelo patrimônio Histórico e Cultural do Município, o que lhe garante, pelo menos em teoria, sua manutenção por parte da municipalidade, porém não é bem o que podemos observar quando passamos pela construção histórica. “Justamente nesse período de tombamento que era para estar sendo protegida, a função do tombamento é essa, é onde a gente percebe a maior degradação dela. A deterioração aumenta, a ocupação dos espaços reservados à ponte vem sendo feita de forma descarada, sem nenhuma providência das autoridades, você vê estabelecimentos ocupando, fazendo construções nas cabeceiras ou mesmo até trazendo os muros de divisa para dentro da ponte”, denuncia o historiador.
Wanderley Peres ainda esclarece como deveria agir quem tem a incumbência de proteger a história e cultura do município. “Um bem quando é tombado pelo município, todos os projetos que precisam ser feitos na vizinhança têm que passar pela Secretaria de Cultura, pelos acompanhamentos do Conselho de Cultura para ter a devida autorização, porque qualquer obra vai provocar um impacto sobre esse bem tombado. A providência do tombamento foi tomada, essa ponte, a Ponte Sloper e o túnel da Beira-Linha, mas por serem bem tombados pelo município precisam ser cuidados pela administração municipal, principalmente a parte que compete o município de licenciar obras ao lado do bem tombado, ou seja, não está nem dependendo de uma interferência externa. A uma preocupação, não só com as características da construção que está sendo vilipendiada, ela vem com o tempo degradando, mas pela ocupação irregular no entorno dela”.
Autor: Luiz Bandeira