A crise da Supervia está deixando o povo da Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro a cada dia mais angustiado. Recentemente (dias 20 e 21/7), o ramal Gramacho–Saracuruna ficou mais de 20 horas paralisado, afetando a vida de cerca de 30 mil usuários.
Em outras ocasiões, esse ramal, e também o de Japeri, tem apresentado ocorrências sérias, que transformam a vida dos usuários da Baixada Fluminense em deserdados do direito social, garantido pela Constituição Federal, da mobilidade necessária para trabalhar, estudar, acessar a rede de saúde e, também, para lazer e diversão.
O governo estadual tem feito, recentemente, alguns movimentos para tentar resolver essa crise – que não é de hoje – mas tudo indica que essas tentativas não têm gerado resultados. O recente pedido de demissão do presidente da Supervia é um indicador dessa situação crítica.
Solução mais adequada para a crise da Supervia
Talvez tenha chegado a hora de buscar maior potência política para resolver de vez, e de maneira altamente satisfatória, a crise da Supervia, buscando construir uma solução, mais adequada aos interesses de milhões de habitantes e usuários potenciais do sistema de trem da região metropolitana.
Nesse sentido, entendemos que os parlamentares fluminenses (vereadores, deputados estaduais, deputados federais, senadores), juntamente com as prefeituras da Região Metropolitana e a sociedade civil organizada (Clube de Engenharia, Crea, Casa Fluminense, entre outras), devem incentivar o governo estadual, na busca de integrar o governo federal nessa empreitada, sem o que será muito difícil uma solução adequada.
A junção de esforços poderia criar uma pactuação possível e até revolucionária entre os três entes federativos – União, Estado e municípios metropolitanos – com atribuições distintas, mas eficazes, pela peculiaridade de cada um deles.
Acreditamos que o resultado pretendido pelas prefeitas e prefeitos, bem como pelas deputadas e deputados estaduais e federais e senadores, representantes da Região Metropolitana, é melhorar significativamente a vida dos moradores desta região. O chamado “trem” precisa se aproximar do desempenho do metrô, hoje transportando cerca de 900mil passageiros/dia útil.
Como aumentar número de passageiros na Supervia?
Trem urbano do Rio é reparado na estação (foto de Tânia Rêgo, ABr)
Mas como aumentar o volume de 300mil/dia útil, praticado pela Supervia, para 600mil, pelo menos? Onde estão esses usuários, e o que fazer para atraí-los para a Nova Supervia?
Parte desse contingente está utilizando os ônibus intermunicipais, ou seus próprios automóveis. Outra parte recorre aos transportes alternativos ou motos para fazer seus deslocamentos que, em geral, têm origem na Baixada e Zona Oeste da Cidade do Rio de Janeiro, com destino no Centro ou mesmo na Zona Sul do Rio.
Nosso entendimento é que esses usuários utilizam ônibus e todas as alternativas possíveis porque o trem é uma péssima opção para eles. Se a regularidade de viagens e o tempo de espera nas estações estiver no padrão-metrô e, além disso, forem garantidas tarifa módica, segurança, acessibilidade, conforto e redução significativa no tempo total de viagem, temos quase certeza de que mais de 300 mil usuários serão transferidos para um sistema de transporte ferroviário metropolitano de passageiros confiável.
Gasto com tarifa de até 6% do salário mínimo
Para que isso aconteça, a tarifa precisa ser subsidiada, paulatinamente, para que o usuário não gaste mais do que 6% do salário mínimo por mês. A velocidade operacional do trem deve ser aumentada com a recuperação da via permanente.
As estações devem ser requalificadas para garantir acessibilidade e segurança, com iluminação, bicicletários e atuação combinada da PM com as guardas municipais, entre outros itens que podem ser atendidos pelos municípios. A integração dos diversos modos, como ônibus intermunicipais, ônibus urbanos, barcas e metrô, seria tarefa do governo estadual.
Finalmente, os recursos necessários para aumentar o desempenho operacional, através de mais trens, recuperação e manutenção adequada dos trilhos, dormentes, lastro, sinalização e comunicação, seriam garantidos, via PAC ou programa específico do BNDES, pelo governo federal, único dos três entes federativos com capacidade financeira para essa empreitada.
A partir dessa concertação, com divisão de responsabilidades entre todos os entes, teríamos uma chance de ouro de mudar radicalmente o quadro atual de baixa mobilidade do povo da região metropolitana do Rio de Janeiro.
Fernanda Ontiveros é prefeita de Japeri (RJ).
Luiz Paulo Corrêa da Rocha é deputado estadual do RJ.
Fonte: Monitor Mercantil