Associação ferroviária de Sorocaba planeja recuperar trecho de linha férrea para estender passeios de trem
Associação “Sorocabana – Movimento de Preservação Ferroviária” cuida, atualmente, de 29 trens, entre locomotivas, carros de passageiros e vagões de carga. Este ano, a prioridade do movimento é recuperar trecho da linha férrea para que passeios turísticos cheguem até Votorantim (SP).
Associação planeja recuperar trecho de linha férrea para estender passeios de trem
Quem passa pela Avenida Dom Aguirre, perto da Praça Lions, no Centro de Sorocaba (SP), consegue observar vagões de trens parados na Estação Paula Souza.
Tem quem ache que o local está abandonado. “Isso aqui faz tempo que está abandonado. Um terreno tão bom desse, estar abandonado desse jeito”, lamenta Maria Aparecida Barreto.
E tem quem acredite que o local está sendo cuidado e torce para que os trens voltem a circular.
“Tem sempre alguém aqui, mexendo. Então não está abandonado”, ressalta Maria de Fátima da Silva, que todos os dias aguarda o transporte coletivo no ponto que fica em frente à estação.
As locomotivas e trens guardam parte da história do desenvolvimento de Sorocaba. O que parece sucata, tem muito valor para a “Sorocabana – Movimento de Preservação Ferroviária” (MPFS).
Desde 2015, Eric Mantuan está à frente da associação que faz o trabalho de recuperação dos trens. O acervo abriga trens com mais de 80 anos.
“Começando pelo trem Ouro Verde, que foi o primeiro trem de aço, construído na Alemanha em 1937 e tem muita importância tecnológica. O trem de luxo, construído nos Estados Unidos em 1951 e o trem super luxo, construído em 1963, sendo o primeiro trem feito em aço inox no Brasil”.
Associação abriga primeiro trem feito em aço em 1937 e que, na época, foi adquirido pela Estrada de Ferro Sorocabana — Foto: Edilson Junior/TV TEM
Para que parte dessas preciosidades voltem a circular, a associação precisa recuperar um trecho da linha férrea, que foi cedido ao movimento ferroviário e tem cerca de 6,5 quilômetros de extensão .
“A linha que liga Sorocaba a Votorantim tem 6,5 [quilômetros] de extensão, mas hoje a gente usa só 1,5 quilômetros, que está em condições de uso para passeios. Nossa urgência é recuperar o trecho e estender os passeios”, explica Eric.
No ano passado, a associação foi autorizada a captar cerca de R$ 970 mil por meio do Programa de Ação Cultural do Governo de São Paulo (Proac), que fomenta projetos para a cultura. Essa verba será usada para a restauração da linha férrea.
Mas para isso, a associação precisa conseguir captar doações das empresas, por meio do Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias (ICMS). “Ao invés das empresas pagarem o imposto para o governo estadual, elas podem destinar parte para projetos da associação”, comenta o responsável pelo projeto.
Segundo Eric, com o dinheiro em caixa, a associação espera concluir o serviço de recuperação da linha em até 120 dias. “A gente quer fechar esse projeto com o trem de Natal, ainda esse ano, já com o passeio mais longo”,
Essa manutenção na linha inclui, inicialmente, a substituição dos dormentes, que são peças colocadas na travessia da linha, além da correção e alinhamento de bitola desse primeiro trecho.
A associação recebe os trens desde 2017. Atualmente, 29 carros de passageiros e cinco vagões de carga são abrigados na estação. Seis carros já passaram por algumas reformas e outros cinco aguardam projetos para iniciar o trabalho.
De todos os trens que a estação abriga, apenas um deles tem sido usado para os passeios turísticos que ocorrem em datas especiais, como aniversário de Sorocaba e o Natal. Depois da recuperação da linha, outros veículos também devem entrar neste trajeto.
“A perspectiva é restaurar mais dois carros, completando três para uso, que daria 206 lugares para passeios mais longos. Esse conjunto, depois de reformado, deve atender o passeio Sorocaba-Votorantim”, comenta o presidente.
Estação Paula Souza abriga acervo ferroviário no Centro de Sorocaba (SP) — Foto: Fernando Bellon/TV TEM
Patrimônio para a população
Danilo Nunes, superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ressalta que os patrimônios podem e devem ser aproveitados pela população. Porém, reforça que as associações responsáveis precisam manter o acervo protegido.
“Sempre que existe a possibilidade dos órgãos gestores de restaurar esses patrimônios, deixando eles em condições de uso, para que eles possam ser aproveitados. O Iphan é totalmente a favor disso. Mas, a associação precisa dar o mínimo de condição para que o bem não se danifique, mesmo com o uso. É preciso proteger o bem para que outras gerações também tenham acesso a ele”, reforça Nunes.
Em 2024, outro projeto cultural deve ser retomado pela associação. É o “cine vagão”, que exibe filmes dentro de um vagão histórico.
A iniciativa faz parte do conjunto de ações do Movimento de Preservação Ferroviária que busca manter a conexão entre os moradores da cidade e os trens.
“Muito provavelmente, qualquer pessoa da cidade, ou tem na família ou até mesmo trabalhou nas ferrovias sorocabanas. A perspectiva é, no futuro, devolver algo à população. Seja nos passeios de trem, seja utilizando esse espaço da estação. Promover cultura e preservar a memória das ferrovias e da população de Sorocaba.” finaliza Eric.
Como ajudar a associação
Empresas de qualquer cidade paulista podem destinar parte do ICMS ao projeto de restauração da linha férrea, comandado pela associação.
Para participar, é necessário que a empresa tenha calculado o ICMS no ano passado. Além disso, a empresa precisa estar em dia com as obrigações fiscais e fazer pedido de credenciamento prévio no site da Secretaria da Fazenda.
O prazo inicial para captar recursos era até 1º de março, mas foi prorrogado para até 1º de março de 2025. Outras informações podem ser obtidas no link.
Locomotiva 58, a famosa maria-fumaça, é um dos itens mais importantes do acervo ferroviário. Locomotiva é considerada patrimônio histórico — Foto: Edilson Junior/TV TEM
Já quem quiser contribuir financeiramente com a associação ou se tornar voluntário nos projetos, pode entrar em contato pela rede social ou pelo e-mail mpfsorocabana@gmail.com.
Foto: Divulgação