O Globo – Em uma audiência pública na Câmara dos Vereadores, no mês passado, para discutir uma Operação Consorciada Urbana (OUC) que viabilizaria o Imagine, megaprojeto para a área do Parque Olímpico concebido pela empresa que organiza o Rock in Rio, a Rock World, moradores da Barra da Tijuca e dos arredores tinham uma preocupação tão grande quanto seu entusiasmo com a ideia. O que seria feito para impedir que um projeto de tal porte agravasse os problemas de infraestrutura do bairro, sobretudo a mobilidade? Na ocasião, o COO da empresa, Ricardo Acto, revelou que a Rock World havia encomendado um estudo técnico sobre intervenções que seriam benéficas para a Barra da Tijuca e mitigariam o impacto da operação. Citou VLT, mergulhões e a construção de novos acessos. Na última terça-feira, a mobilidade voltou a entrar em pauta numa reunião técnica na mesma Casa, em que representantes da prefeitura, incluindo o secretário de Desenvolvimento Urbano e Licenciamento, Gustavo Guerrante, apresentaram detalhes da OUC do Parque Olímpico, tema do projeto de lei 169/2024, que está prestes a ser votado. As dúvidas dos vereadores foram as mesmas manifestadas pelos moradores. Que obras serão feitas? Quando? E quem vai pagar por elas?
Uma primeira reunião técnica, realizada em março na Câmara, havia sido considerada insatisfatória pelos parlamentares, e por isso a segunda foi convocada pelo vereador Carlo Caiado, presidente da Casa. De acordo com o vereador Pedro Duarte (Novo), presidente da Comissão de Assuntos Urbanos da Câmara e presente às duas reuniões, o clima é favorável ao Imagine, mas faltam informações.
— O projeto é importante porque vai atrair turismo e gerar fluxo de caixa com impostos, que precisam ser revertidos em benefício da população. E essas reuniões servem para que o Legislativo possa entender todos os detalhes do que poderá ser executado para melhorar a estrutura urbana da Barra. Sigo muito preocupado com a mobilidade das pessoas. A região está beirando o estrangulamento. O trânsito tem ficado cada vez mais difícil. Venho cobrando da prefeitura essas soluções. Onde ela vai entrar nisso tudo? — indaga.
Em razão das dúvidas que ainda persistiam, a votação do PL em primeira discussão, que ocorreria na própria terça-feira passada, foi adiada para esta semana. Na nova reunião técnica, o estudo sobre mobilidade preparado pela Rock World foi mencionado por diferentes parlamentares. O documento, ao qual O GLOBO-Barra teve acesso, reúne obras que custariam ao todo R$ 2,9 bilhões em valores de 2023, ano em que o trabalho foi feito, e propõe obras viárias, melhorias no transporte público e integração entre modais não só em torno do Parque Olímpico mas em todo o bairro. As intervenções incluem mergulhões, passarelas, vias novas e a chegada do VLT à região.
Entre as obras previstas no estudo está a construção de passarelas e rampas de acesso ao Terminal BRT Parque Olímpico, com custo estimado de R$ 20,4 milhões. O projeto inclui duas rampas de cada lado, com 530 metros de extensão e nove metros de largura cada, visando a garantir acessibilidade e segurança para pedestres.
A maior parcela do investimento estaria concentrada em intervenções viárias na Avenida Abelardo Bueno. Somente nesse eixo, as soluções propostas — que incluem mergulhões nos entroncamentos com as ruas Coronel Pedro Corrêa e Imperatriz Leopoldina — somam R$ 319,3 milhões.
Outra frente de obras envolveria a criação de novas saídas do Parque Olímpico em direção à Avenida Salvador Allende, com a construção de mergulhões e conexões viárias no entorno do Riocentro. O custo estimado para essas intervenções foi de R$ 135,8 milhões. Já a execução da Via 4, com duas pistas e quatro faixas no total, além de ciclovia e passeio, representaria mais R$ 69,6 milhões. O projeto prevê ainda a urbanização e paisagismo do canteiro central da via, com custo adicional de R$ 100,7 milhões.
O estudo também sugere uma ponte estaiada com espaço para passagem de VLT sobre a Lagoa de Jacarepaguá. Essa intervenção prevê estrutura em dois níveis, com extensão de um quilômetro e custo estimado em R$ 731,2 milhões.
Outra proposta é que o VLT ligue a Cidade das Artes, localizada ao lado do Terminal Alvorada, e a estação do BRT Transolímpica, obra de R$ 994 milhões. A proposta inclui trechos elevados. Há ainda uma opção de VLT entre o metrô Jardim Oceânico e a Cidade das Artes, com valor estimado em R$ 519 milhões.
Em nota, a Rock World diz que, além das propostas apresentadas no estudo, uma vez implantado o Imagine permitirá que sejam captados outros investimentos em transporte na região. A empresa afirma que analisa sugestões e projetos junto com os órgãos competentes, mas não fala em investimento direto em intervenções viárias, a não ser aquelas necessárias durante as obras feitas dentro do complexo.
“A Rock World fará os investimentos para a realização do parque. Transportes públicos são operações estruturadas com operadores especializados. A criação do Imagine ajudará a captar operadores e investidores próprios para essa finalidade. Algumas intervenções viárias no entorno do parque serão alvo de melhorias ao longo do desenvolvimento, assim como a criação de áreas de logística e estacionamento. Esse estudo preliminar é necessário em projetos desta envergadura para atrair operadores e obter as devidas autorizações junto poder público”, afirma.
Ainda de acordo com a Rock World, o Imagine ajudará a viabilizar o VLT da Barra, projeto da prefeitura, e “criará condições para desenvolvimento dos aeroportos de Jacarepaguá e Galeão, que serão a forma de fazer com que o Imagine seja acessível para os visitantes de outras regiões do Brasil e do mundo”.
Dentro do complexo, a empresa quer investir em soluções originais de mobilidade, como um sistema de teleférico com cinco estações, conectando seus espaços, e barcas para navegar entre as lagoas.
A prefeitura, procurada para informar se pretende fazer intervenções viárias na Barra devido à criação do Imagine, informou, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Licenciamento, que o PL 169/2024 segue em discussão na Câmara e que as sugestões apresentadas pela Rock World estão em análise técnica.
Mais um projeto monumental do criador do Rock in Rio, Roberto Medina, em parceria com a Genial Investimentos, o Imagine deverá ocupar pouco menos que 1,2 milhão de metros quadrados, de acordo com dados da prefeitura. É uma área comparável à dos principais bairros planejados da região: duas vezes maior que o Rio2, que tem 600mil m², 30% maior que a Ilha Pura, que tem 800 mil m², e pouco menor que o Centro Metropolitano, com seu 1,4 milhão m². A chamada Operação Urbana Consorciada (OUC) do Parque do Legado Olímpico Rio 2016, objeto do PL 169/2024, viabiliza o projeto permitindo a transferência de potencial construtivo para outras áreas da Barra e de Jacarepaguá. Isso significa dizer que prédios que inicialmente seriam erguidos na área do Parque Olímpico migrariam para outros pontos da região.
O Imagine pretende ser um polo de lazer, esporte, cultura e negócios no lugar que abrigou competições dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016 e sedia as edições do Rock in Rio a cada dois anos. Segundo a Rock World, seria o maior complexo de entretenimento da América Latina. Entre as instalações haveria um resort de 30 mil m²; um parque temático com montanha-russa com efeitos especiais de luzes, fogo e água; a Rock in Rio Factory, área para se conhecer mais sobre os bastidores do festival; um anfiteatro para 40 mil pessoas; o Global Village Park, área de 57 mil m² com cenários arquitetônicos de diferentes partes do mundo; um hub criativo com arena gamer, polo gastronômico e pista para patinação no gelo; o Brasil 360 Experience, onde a história das cidades do país seria contada numa enorme tela de LED 360°; e o espaço corporativo Office Tower. Um calendário de eventos para o ano todo seria consolidado.
O plano também aposta no aproveitamento de estruturas já existentes no Parque Olímpico, como a Arena, o Edifício de Escritórios e o Hub Criativo (antigo IBC). O planejado Museu Olímpico e o parque público Rita Lee devem ser incorporados ao projeto. Está prevista ainda a criação de outra área pública destinada a parques e estacionamentos para a população.
A inauguração estava prevista inicialmente para o início de 2028, mas o prazo deve se estender devido à demora para aprovar o PL da OUC. Pelos cálculos da Rock World, o projeto injetaria R$ 240 bilhões na economia carioca e geraria 143 mil empregos em 30 anos, além de ser um catalisador de melhorias para a Barra e para a cidade.
Fonte: O Globo, 02/06/2025