Usar o transporte ferroviário de passageiros que liga o Rio a outros 11 municípios, em 2024, não foi uma tarefa fácil para quem depende do serviço. Dados da Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes do Rio de Janeiro (Agetransp) mostram que, no ano passado, 6.337 viagens foram canceladas ou interrompidas por razões justificadas relacionadas à segurança pública (tiroteios, roubos e furtos de cabo, vandalismo, etc.), ou por motivos injustificados, como falhas, quebras, etc. Significa dizer que, em média, ocorreram 17,3 supressões de partidas ou interrupções de viagens por cada dia do ano citado.
Foto: Domingos Peixoto
A SuperVia opera o serviço desde 1998, quando venceu uma licitação. Em dezembro, houve um acordo judicial que prevê que a operacionalização seja repassada ao governo estadual até setembro. Neste período de transição, a Secretaria de Transportes diz que serão investidos R$ 300 milhões nos trens para garantir o funcionamento do transporte. Nesta segunda-feira, o deputado Luiz Paulo Corrêa da Rocha, da Frente Parlamentar Pró-Ferrovias da Assembleia Legislativa do Rio, disse que uma comissão encarregada de licitar a modelagem de uma nova concessão estuda incluir uma redução da tarifa, que atualmente tem o preço cheio de R$ 7,60 para quem não tem o benefício do Bilhete Único.
A malha ferroviária da Supervia compreende cinco ramais e 104 estações — Foto: Roberto Moreyra/Agência O Globo
A remuneração da operacionalização do serviço seguiria o modelo já adotado nas Barcas, que paga por milha náutica navegada. No caso dos trens, uma das formas estudadas seria o pagamento de uma empresa por quilômetro percorrido. Possivelmente, não tem como ser diferente. Vai repetir a modelagem das barcas. O estado toma posse novamente da concessão, fica dono da bilheteria e da tarifa, e, por consequência, o estado contrata alguém para operar o serviço. Sem dúvida nenhuma, isso já está sendo estudado, o barateamento da tarifa para R$ 4,70. Evidentemente, o trilho não pode ter tarifa maior do que o ônibus, disse o parlamentar, lembrando que a decisão cabe à comissão encarregada dos estudos, formada por integrantes da Secretaria Estadual de Transportes e da Casa Civil.
Marcus Quintella, diretor do Centro de Estudos, Logística e Mobilidade Urbana da Fundação Getúlio Vargas (FGV), disse que o primeiro passo para o bom funcionamento do transporte ferroviário de passageiros é resolver as questões de segurança pública que atrapalham a operacionalização. Ele também defendeu a implantação de subsídios para investimentos e manutenção dos trens.
— A questão número um é de segurança pública. Aí já não está mais na alçada da operadora, seja ela o Estado ou uma concessão privada. Porque o problema ali, você tem invasões de faixa, roubos de cabo, domínios de estações (pelo tráfico), quer dizer, isso aí não tem operação que dê jeito. Isso gera evasão de receita, dá problema de paralisação, fuga de passageiros etc. Agora, resolvendo essa parte, dando esse tipo de recuperação, temos dois fatores importantes. Um é o operacional: você tem que ter investimento. A SuperVia não recebe investimento há muitos anos, ela precisa melhorar seu processo, toda a sua sinalização. A sinalização hoje precisa ser melhorada, pois isso é uma questão de rapidez e segurança de tráfego, ou seja, diminuir os intervalos entre os trens, melhorar o sistema de horários, o sistema de segurança operacional. A parte de via permanente (trilhos) também precisa de muita recuperação. Então, você vai ter que ter um subsídio para investimento e para a operação— disse.
Fonte: O Globo, 01/07/2025
Por: Marcos Nunes