Troca do BRT por VLT é promissor

O Dia (RJ) – Especialistas ouvidos pelo DIA analisaram os impactos técnicos, financeiros e operacionais da proposta que o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), enviou à Câmara Municipal na última quarta-feira (6). O projeto de lei (PL) em questão prevê a substituição do sistema BRT por Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) e Veículo Leve sobre Pneus (VLP).

Se aprovada, a proposta permite que o Poder Executivo firme parcerias público-privadas (PPP) para implantação, operação e manutenção do novo modelo de transporte coletivo nos corredores Transcarioca e Transoeste. O investimento pode chegar a R$ 12 bilhões.

Para o professor de Logística da Universidade Federal Fluminense (UFF), Aurelio Lamare Soares Murta, a ideia é promissora e representa um avanço em relação ao sistema atual. “A mudança de modal reflete a baixa eficiência do sistema BRT, e a implementação do VLT tem o potencial de oferecer um transporte mais adequado e confortável, aumentando a capacidade de passageiros”, afirma. Ele, no entanto, pondera: “É uma iniciativa audaciosa. Talvez essa transformação devesse ter sido considerada desde a concepção do sistema BRT ou, no mínimo, durante a sua reformulação nos últimos anos”.

Murta  analisa que o sucesso do projeto dependerá de um planejamento extremamente detalhado. Segundo ele, os custos são bastante elevados e o plano precisa ser sólido e transparente para que a transição não cause transtornos e para que o investimento se traduza em benefícios duradouros para a cidade.

Foto: Divulgação – VLT Carioca

Do ponto de vista técnico, o professor da UFF enxerga ganhos significativos na eficiência e qualidade do transporte. “O VLT é mais moderno, sustentável e confiável, com maior capacidade diária. A operação em vias segregadas reduz as interrupções causadas por congestionamentos e acidentes, melhorando a pontualidade e a regularidade do serviço”, explica. Ele acrescenta que o VLP, por ser sobre pneus elétricos, também poderia oferecer ganhos ambientais relevantes.

Outra vantagem apontada pelo professor é a integração intermodal. Ele destaca que o VLT já existente no Centro do Rio poderia ser conectado aos corredores Transcarioca e Transoeste, formando uma rede mais coesa. “Essa integração física e tarifária facilitaria as baldeações, reduziria o tempo total de viagem e aumentaria a atratividade do transporte público”, diz.

Murta também enfatiza o impacto ambiental positivo da mudança. “O VLT e o VLP são veículos elétricos, alinhados a políticas de sustentabilidade e redução da poluição sonora e atmosférica. Essa modernização projetaria o Rio como um polo de inovação em mobilidade urbana”, diz. Mas volta a fazer um alerta: “A mudança de modal, por si só, não garante sucesso. Sem manutenção contínua e eficaz, o risco de repetir erros do passado é grande, e o investimento bilionário pode ser desperdiçado”.

O diretor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Transportes, Marcus Quintella, concorda com os potenciais benefícios, mas reforça a complexidade da obra e o impacto viário durante a execução. “Não é só chegar e colocar trilhos na calha do BRT. É preciso reconstruir praticamente toda a via, instalar energia subterrânea, subestações, sinalização e adaptar estações e semáforos. Durante a obra, será necessário retirar os BRTs das faixas exclusivas, o que vai causar congestionamentos severos, especialmente na Barra da Tijuca e na Avenida das Américas”, alerta.

Para Quintella, a proposta pode melhorar a integração com o metrô, reduzir poluição e acidentes, e atrair mais passageiros, mas só se houver garantia de continuidade financeira e gestão de tráfego eficiente durante a construção. “Se a obra parar, o caos estará instalado”, diz.

Tanto Murta quanto Quintella concordam que a viabilidade técnica e econômica precisa ser comprovada antes de iniciar o projeto. “É um investimento bilionário que exige planejamento cirúrgico. Sem isso, o risco é transformar uma boa ideia em um novo problema para a cidade”, conclui Murta.

Projeto prevê expansão até São Cristóvão

O projeto apresentado à Câmara dos Vereadores como forma de substituição do BRT prevê a expansão da modalidade até o bairro de São Cristóvão, na Zona Norte. A ideia pretende aproveitar a infraestrutura já existente na região central. O traçado previsto contemplaria pontos estratégicos da região, como o Centro de Tradições Nordestinas, o BioParque, a Quinta da Boa Vista, o Hospital Quinta d’Or e as estações de trem e metrô.

De acordo com a prefeitura, entre as vantagens do VLT e do VLP estão: a diminuição da poluição sonora, a pontualidade, a integração com outros meios de transporte, conforto interno e redução das emissões de poluentes atmosféricos. Além disso, há a possibilidade de aproveitar a infraestrutura já implantada nos corredores do BRT, causando menos impacto urbanístico, evitando desapropriações e obras complexas.

Ainda não há estimativa de prazo para a execução do projeto. Após publicação, o texto será apreciado pelos vereadores, que poderão convocar audiências públicas para discutir o tema e propor emendas antes da votação da matéria em plenário.

Fonte: odia.ig.com.br/

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