Concessões ferroviárias aquecem indústria

Diário do Comércio – Impulsionada por renovações antecipadas de concessões de ferrovias, a produção de locomotivas em Minas Gerais deverá absorver cerca de R$ 1,5 bilhão por ano no próximo ciclo de concessões, segundo a Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), em uma projeção considerada conservadora.

A entidade estima que o próximo ciclo de concessões ferroviárias alcance um investimento de mais de R$ 70 bilhões no setor em todo País, por meio da aquisição de locomotivas, vagões, revitalização das ferrovias, melhorias no contorno das cidades, entre outras medidas. O presidente da Abifer, Vicente Abate, acredita que grande parte dos aportes pode ser em um horizonte temporal muito menor do que os prazos de 30 anos das renovações antecipadas.

Renovações de concessões de ferrovias devem gerar R$ 1,5 bilhão para a produção de locomotivas em Minas

Foto: Divulgação Wabtec

“A gente tem informação de que as concessionárias podem fazer 80% (do investimento) entre os cinco e dez primeiros anos das concessões. Então é uma coisa que pode ocorrer entre cinco e dez anos”, declarou o presidente da entidade.

A expectativa da entidade com as concessões ferroviárias foi revisada para cima com o encaminhamento da renovação antecipada da concessão da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), administrada pela VLI Logística. O governo federal chegou a um acordo com a concessionária em julho deste ano.

“O número previsto era de R$ 65 bilhões com as renovações, só que o número da FCA saiu maior do que a gente tinha previsto, então esses números estão sendo naturalmente revisados a cada momento que a concessionária pede a renovação e vão se concretizar em mais investimentos”, disse Abate.

A prorrogação do contrato da FCA se juntará com as renovações das concessões das Estradas de Ferro Vitória a Minas (EFVM) e de Carajás (EFC), ambas da Vale, da Malha Sudeste, de propriedade da MRS Logística, e da Malha Paulista, administrada pela Rumo Logística.

Além dessas, a possibilidade de renovações de concessões de outras ferrovias pelo País, em todas as regiões, também anima o setor ferroviário para que a produção de locomotivas se aproxime da média histórica da última década, de 83 locomotivas por ano, com um pico de produção de 129 locomotivas e mais de 4 mil vagões.

“O mais importante é isso, a demanda existe, o Plano Nacional de Ferrovias está levantando a demanda em termos de estrutura física de ferrovias e mencionou três projetos, Fico-Fiol (Ferrovias de Integração Centro Oeste e Oeste-Leste), Transnordestina e Ferrogrão. A Ferrogrão continua travada, mas o Ministério dos Transportes está em contato com o STF (Supremo Tribunal Federal) para poder pacificar essa questão”, analisa Abate.

Tarifaço não impacta produção de locomotivas em Minas

As multinacionais Wabtec Corporation, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), e a Progress Rail, subsidiária da Caterpillar em Sete Lagoas, na Região Central do Estado, concentram toda a produção nacional de locomotivas. As duas fabricantes deverão fechar o ano com 70 veículos rodantes produzidos, projeção 55,5% maior do que a expectativa de 45 locomotivas para o ano, traçada pelo setor ao fim de 2024.

Baseado em estudos da Infra S.A., a Abifer espera que a participação do transporte ferroviário na matriz de carga brasileira chegue a 40% até 2035. Atualmente, esse percentual é de 27%, já acima da média histórica de 20%.

Até por essa perspectiva de crescimento do setor, a maior parte da produção de locomotivas nacional é voltada para o mercado interno. A pequena parte exportada é destinada para países da África, América Latina e, eventualmente, Ásia, o que faz o segmento conseguir “escapar” do tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ressalta Abate, apesar da produção de alguns componentes poder ser afetada, mas sem impacto relevante.

Fonte: Diário do Comércio, 02/09/2025

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