O novo contrato de concessão da ferrovia Transnordestina completou um ano na quinta-feira, mesma data em que venceu o primeiro prazo estipulado no documento: a entrega de 163 km entre as cidades de Salgueiro (PE) e Trindade (PE). As versões sobre a conclusão deste trecho atestam o imbróglio que se formou em torno do projeto. Enquanto as prefeituras das duas cidades negam a entrega, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), dona da obra, a confirma. Já a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), responsável pela fiscalização do contrato, não sabe informar se o trecho foi ou não concluído.
O desencontro de informações é um detalhe no rocambolesco enredo da ferrovia, que faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Um levantamento feito pelo Valor com base em relatórios do PAC mostra que nos últimos dois anos a Transnordestina avançou apenas 60 km, o que representa pouco mais de 5% de evolução nas obras. O dado considera uma média entre o percentual de execução de cada etapa da obra, que é dividida em infraestrutura (terraplenagem), superestrutura (trilhos e dormentes) e obras de arte especiais (pontes e viadutos).
Elaborado em setembro de 2013, o novo contrato tinha o objetivo de dar celeridade à obra, que começou em 2006 com a promessa de durar quatro anos. Pelo acerto, o custo passou de R$ 4,5 bilhões para R$ 7,5 bilhões. O prazo para conclusão foi estendido para o final de 2016, com cláusulas para penalizar novos atrasos.
O primeiro prazo passível de multa previa a entrega do trecho entre Salgueiro e Trindade, que na ocasião da assinatura do contrato já estava com 82% de execução. Mesmo assim, o prefeito de Trindade, Everton Costa (PR), garante que o trabalho não foi concluído. “Ninguém aparece aqui desde agosto do ano passado. Falta pouca coisa, mas a obra não acabou”, diz. Na outra ponta, o argumento é o mesmo. “Ainda há coisa pra fazer e a obra está abandonada”, diz o secretário de Desenvolvimento de Salgueiro, Clériston Nascimento.
Questionada, a CSN informou que o trecho foi finalizado, mas não soube precisar a data. Já a ANTT – responsável por averiguar o cumprimento dos prazos estabelecidos – informou que ainda vai enviar técnicos ao local para averiguar o estado das obras.
Após atingir o pico no fim de 2010, com mais de 10 mil operários, o projeto declinou em 2013, quando a Odebrecht, então responsável pela obra, começou a sofrer com a falta de pagamentos por parte da CSN. O problema se agravou e em setembro daquele ano o contrato foi rompido.
“A obra desandou com a saída da Odebrecht”, relata o secretário Nascimento, que trabalhou para a empreiteira antes de assumir o posto da Prefeitura de Salgueiro. Desde então, a CSN teve dificuldade para atrair outras empreiteiras para a ferrovia. Atualmente, a Transnordestina é tocada por construtoras menores. São elas: Via Magna, Civilport, Marquise, Sumont, Ancar e Demas.
Apesar da letargia nas obras, a CSN garante que tudo está no prazo. De acordo com a empresa, atualmente 4,5 mil operários trabalham na estrada de ferro, que pretende ligar o município de Eliseu Martins (PI) aos portos de Suape (PE) e Pecém (CE). A CSN insiste que a ferrovia será entregue no fim de 2016, prazo que nem mesmo o governo confia. De acordo com o último balanço do PAC, a previsão de conclusão é janeiro de 2017.
Fonte: Valor Econômico, 27/01/2015
Pingback: ฟรีภาพระบายสี