O centro do Rio de Janeiro passa por uma nova configuração de sua infraestrutura de mobilidade urbana que vai mudar a forma como os cariocas transitam pela região. De acordo Alberto Silva, presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (CDURP), o novo ordenamento urbano tem foco no cidadão e coloca o automóvel em segundo plano, privilegiando o transporte público coletivo, valorizando a ideia de morar perto do trabalho, criando mais espaços para pedestres, implantando 17 km em ciclovias e integrando os meios de locomoção na área.
A principal novidade é o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), com função integradora de todos os modais e ligando o Centro e a região portuária em 28 km de trilhos e 32 paradas. O conceito é de transporte público integrado ao conectar metrô, trens, barcas, BRTs, teleférico do Morro da Providência, redes de ônibus convencionais e aeroporto (Santos Dumont). Com funcionamento 24h por dia, sete dias por semana, o sistema terá capacidade de transportar 300 mil passageiros por dia.
“Hoje os modais concorrem entre si. Com o VLT, haverá uma racionalização no número de ônibus. O usuário poderá chegar de trem à Central ou de ônibus à rodoviária, e o VLT atuará na distribuição até os destinos”, diz Silva. O VLT ligará os bairros do Porto Maravilha ao centro financeiro da cidade e ao Aeroporto Santos Dumont, passando pelas imediações da Rodoviária Novo Rio, Praça Mauá, Avenida Rio Branco, Cinelândia, Central, Praça Quinze e Santo Cristo. O BRT Transbrasil também chegará à região, ligando Deodoro ao Santos Dumont.
A distância média entre as paradas do VLT será de 400 metros. Cada composição comporta 420 passageiros, e o tempo máximo de espera entre um trem e outro vai variar de três a 15 minutos, de acordo com a linha. Os primeiros trilhos já foram instalados no entorno da Rodoviária Novo Rio, no Santo Cristo, e um protótipo do VLT ficou em exposição na Praça da Cinelândia. Serão 32 trens bidirecionais com sete módulos articulados e oito portas por lateral.
O pagamento será feito com cartões validados em máquinas próprias, no interior do veículo, sistema inédito no país. A ideia, segundo Rafael Picciani, secretário municipal de transportes, é que o VLT seja integrado ao bilhete único para não onerar os passageiros. A previsão é de que o sistema esteja em operação plena em 2016, ao custo de R$ 1,157 bilhão, sendo R$ 532 milhões com recursos federais do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Mobilidade, e R$ 625 milhões viabilizados por meio de uma Parceria Público-Privada (PPP).
As transformações na infraestrutura do Centro do Rio incluem, ainda, a substituição do Elevado da Perimetral por conjunto que inclui a criação da Via Expressa a partir da atual Avenida Rodrigues Alves e de uma nova rota paralela, a Via Binário do Porto.
A Via Expressa servirá a quem cruza a área como rota de passagem. Com a função de ligar o Aterro do Flamengo à Avenida Brasil e à Ponte Rio-Niterói, terá 6.847 metros de extensão, com três faixas por sentido. O Túnel da Via Expressa terá 3.022 metros, do atual Mergulhão da Praça XV ao Armazém 8 do Cais do Porto. A parte subterrânea permitirá a transformação do trecho da Praça Mauá ao Armazém 8 em passeio público de 3,5 km de extensão para circulação de pedestres, ciclistas e VLT.
O trânsito que flui hoje pela Perimetral e pela Avenida Rodrigues Alves passará a circular pela nova Via Binário do Porto, que liga a Rodoviária Novo Rio à Avenida Rio Branco em um dos sentidos. Paralela à Avenida Rodrigues Alves, a Via Binário do Porto tem 3,5 Km de extensão, três faixas por sentido e várias saídas para a distribuição interna do trânsito na Região Portuária.
Em 2016, quando a Via Expressa substituirá definitivamente o elevado da Perimetral, a Via Binário do Porto assumirá a função de circulação interna dos bairros portuários e seus acessos de entrada e saída do Centro.
No dia do aniversário da cidade, a prefeitura inaugurou o Túnel Rio450, trecho que completa a Via Binária do Porto. Com 1.480 metros de extensão e fluxo projetado de 55 mil veículos por dia, opera em sentido único, do Centro para o Viaduto do Gasômetro. É o primeiro túnel subterrâneo da cidade.
“É importante perceber que, com o novo ordenamento urbano, há uma outra lógica. A ideia é que o cidadão compare o tempo gasto com o trânsito e o custo com combustível e estacionamento com o custo e a facilidade do transporte público e opte por deixar o carro em casa”, diz Silva.
Ele observa que é difícil o poder público forçar a redução do número de automóveis quando não há uma oferta de transporte público de qualidade, mas quando ela existe a migração é natural. “A estação do metrô de Ipanema acabou com os congestionamentos que havia no Aterro do Flamengo”, conclui.
Fonte: Valor Econômico, 15/06/2015