O Brasil tem condições técnicas e econômicas para realizar uma copa verde em 2014. Evidentemente, realizar um evento sustentável não se restringe a construir ou reformar estádios de acordo com concepções ambientalmente corretas, meta preconizada pela Fifa, mas envolve um conjunto de obras relacionado à infraestrutura necessária ao megaevento.
A arquitetura e a engenharia brasileira possuem atualmente know how para conceber projetos e construções sustentáveis, na mais ampla acepção do termo, conforme definido por entidades internacionais, como o Green Building Council, e certificações como LEED e AQUA. Há ainda os selos SustentaX e Procel Edifica, ambos brasileiros.??De acordo com essas organizações, as edificações (incluindo os estádios) ganham pontos conforme a localização do edifício, a aquisição de materiais certificados e até a energia despendida para seu transporte – o ideal é que a distância a ser percorrida não exceda 300 km.
Também consideram-se a adoção de sistemas de energia racionalizados ou cuja fonte é renovável, a opção por projetos que privilegiem a ventilação cruzada, em detrimento do emprego de ar-condicionado, e de sistemas hidrossanitários que garantam o uso racional e a reutilização da água. Além disso, vale citar o aproveitamento da chuva, a destinação adequada e a reciclagem dos rejeitos, tanto na obra como na pós-ocupação.
No Brasil, até como exigência da Fifa para a Green Goal (meta verde), a maioria dos estádios que serão reformados ou construídos inclui itens de sustentabilidade em seu planejamento. Alguns, já em fase final de definição de projeto, como os de Cuiabá, Brasília, Manaus, Porto Alegre e Salvador, podem ser listados como “estádios verdes”. Todos, por exemplo, terão painéis fotovoltaicos na cobertura para a produção de energia solar.
Há, porém, a necessidade de as 12 cidades-sede desenvolverem planos diretores para a sustentabilidade nas áreas de saneamento, com a ampliação da coleta e tratamento de água e esgoto; de adotarem programas de reciclagem do lixo e substituírem lixões por aterros sanitários; fazerem obras de drenagem e transferência de populações em áreas de risco. No transporte, exige-se a implantação ou ampliação de linhas de metrô e de transporte de massa, como veículos leves sobre trilhos e bus rapid transit, entre outros, movidos por energia elétrica ou combustíveis renováveis.??Do ponto de vista econômico-social, a realização da copa verde exige um amplo programa de qualificação profissional que ofereça oportunidades de emprego a milhares de pessoas.
Sem planejamento e gestão eficiente das ações e dos empreendimentos, porém, dificilmente o Brasil atingirá essa meta, tendo em vista as carências existentes nas mais diversas áreas. Corremos o risco, portanto, de ganhar a Copa, mas não marcar o gol mais importante: fazer um evento sustentável, ambiental, social e economicamente.
Fonte: Revista Planeta Sustentável – São Paulo/SP, 03/08/2011