Depois de passar por uma fase de poucos investimentos nos últimos quatro anos, o setor ferroviário brasileiro tem tudo para acreditar em uma retomada a partir de 2023. As prorrogações antecipadas das concessões de linhas férreas por mais 30 anos sinalizam para o mercado e para a sociedade que novos investimentos no setor virão em várias frentes. Desde a compra de novos equipamentos até a construção de novas vias e renovação das já existentes, pois espera-se um aumento do volume de cargas na malha ferroviária brasileira decorrente das prorrogações.
No universo de algumas variáveis da economia e do setor é certo que contratos de concessão, a poucos anos do fim, não estimulam grandes aportes. É o que se viu no decorrer dos últimos anos. Diante da redução dos investimentos, a indústria ferroviária brasileira perdeu mão de obra qualificada, passando de 20 mil trabalhadores para 16 mil. Mas, ao que tudo indica, a indústria ferroviária reencontrará o caminho do crescimento. O início da recuperação é efeito direto das prorrogações antecipadas de concessões pelo governo federal e de novos projetos entrando no setor. Sou otimista e acredito que os investimentos vão acontecer, e as encomendas de vagões, locomotivas, máquinas de construção e manutenção de via e materiais para via permanente voltarão em um ritmo acelerado, diminuindo a dramática ociosidade que nossa indústria enfrenta há anos. Novos projetos sairão do papel e nos trarão maior previsibilidade.
Na medida em que as prorrogações vão sendo consolidadas, as concessionárias aumentarão sua frota e, com os novos investimentos, seus setores operacionais poderão se beneficiar, em larga escala, das evoluções e melhorias que a indústria ferroviária tem oferecido através de suas inovações tecnológicas. Desenvolvemos recentemente, por exemplo, um vagão graneleiro com capacidade de carga 12% maior que a dos trens tradicionais e continuamos inovando em vagões para cargas gerais e específicas.
Os benefícios superam a questão econômica, pois nosso setor está atento às necessidades do momento em que vivemos, por isso investindo em equipamentos mais sustentáveis. Podemos citar os vagões para transporte de celulose e as locomotivas digitalizadas, que emitem menos gases de efeito estufa, com maior eficiência energética. E, ainda, as locomotivas movidas 100% a bateria, já produzidas em 2020. Ouso dizer que, em um futuro não muito distante, teremos locomotivas e trens de passageiros movidos a hidrogênio, no Brasil. Há uma revolução acontecendo e a indústria ferroviária brasileira está acompanhando esse movimento. Mais do que uma tendência, as inovações tecnológicas na fabricação dos equipamentos ferroviários têm sido uma realidade e é importante ressaltar que as concessionárias também seguem o mesmo ritmo. Todas elas têm feito seu trabalho, com competente equipe técnica para melhorar a operação e a manutenção dos equipamentos. Estamos num momento em que as concessionárias, os fabricantes e a academia estão trabalhando juntos para conseguirem os melhores resultados.
A prorrogação antecipada das concessões ferroviárias por 30 anos dá uma demonstração clara de que novos investimentos virão. Com esse horizonte no futuro próximo, o setor encontra-se capacitado para atender de maneira eficiente às demandas. Os processos de Rumo, Vale e MRS já foram finalizados. A bola da vez é a FCA (Ferrovia Centro-Atlântica), controlada pela VLI, e o plano inicial – divulgado em 2021 – já mostrava um grande volume de investimentos e a modernização do acordo vigente. Tenho informações de que, agora, a FCA vai apresentar um plano ainda mais audacioso e robusto. Estou ansioso para que isso aconteça, certo de que nosso setor está preparado para ajudar a concretizar esse plano. Serão investimentos em material rodante e na malha. Isso não significa apenas o aprimoramento da ferrovia, mas um potencial de fomentar toda uma cadeia e melhorar os serviços prestados.
A ABIFER (Associação Brasileira da Indústria Ferroviária) apoia todas as iniciativas para a promoção do transporte ferroviário brasileiro, entre elas, a prorrogação das concessões ferroviárias. Temos que atuar de forma conjunta – concessionárias e fabricantes – para aumentar efetivamente a participação do transporte ferroviário na matriz de carga do país, que hoje significa 20% do total, mas tem possibilidade de dobrar sua participação até 2035. Temos que lutar a boa luta e buscar investimentos e incentivos do governo e da iniciativa privada, para que nosso setor seja visto como o que realmente é: um setor estratégico, que está em sintonia com uma nova era, com menor poluição e maior eficiência energética.
Autor: Vicente Abate, presidente da Abifer – Associação Brasileira da Indústria Ferroviária
Fonte: Agência Infra, 30/01/2023