O metrô do Rio vive uma contradição cruel: é moderno apenas no trilho, mas velho na gestão, na política tarifária e na integração
Diário do Rio – Há nove anos, a Linha 4 do metrô, que vai de Ipanema, na Zona Sul, até a Barra da Tijuca, na Zona Oeste, começava a funcionar para o público. Desde então, o transporte estacionou. Nenhuma nova estação foi construída. Basta uma olhada na situação da vizinha São Paulo para vermos que hoje o carioca paga quase 60% a mais por uma passagem única e limitada. Em São Paulo, há integração livre entre linhas e modais; no Rio, além da tarifa mais cara, a integração é precária e quase sempre exige pagamento adicional. Na outra ponta da Dutra, foram diversas estações abertas desde 2018.
Recife, com 71?km de rede e 400?mil passageiros por dia, oferece uma tarifa de R$?4,25, abaixo do teto das grandes capitais. Porto Alegre, apesar de rede única, cobre 43?km com tarifa de R$?4,50. A tarifa unitária carioca de R$?7,90 (valor de 2025) não inclui integração funcional com trens, ônibus e barcas — um contraste gritante com cidades que adotam sistemas tarifários unificados. Quem paga, paga duas vezes (às vezes três) para concluir um único trajeto.
Engessado, o metrô do Rio vive uma contradição cruel: é moderno apenas no trilho, mas velho na gestão, na política tarifária e na integração. O desafio não é só reduzir a tarifa — é reconstruir o sistema sobre bases de equidade, subsídio público e articulação metropolitana real. Acerta o prefeito Eduardo Paes ao reclamar da falta de transparência do sistema da RioCard, um sistema opaco, pouco auditado e que opera quase como uma caixa-preta na gestão dos créditos do transporte público. Dinheiro público entra, mas o controle social passa longe.
Mas é preciso ir além do discurso. O que Paes ainda não cobrou com firmeza é a integração tarifária real. Ou seja, o problema não é só a RioCard — é a ausência de um sistema integrado metropolitano, onde o passageiro possa pagar uma tarifa única e circular livremente. Sem integração, o carioca segue pagando caro e andando pouco. E isso nenhum bilhete inteligente corrige sozinho. O Rio não tem problemas. Tem soluções adiadas por décadas.
Autor: Emanoel Alencar – Jornalista e mestre em Engenharia Ambiental. É autor dos livros “Baía de Guanabara – Descaso e Resistência” (2016) e “Histórias do mangue da Guanabara” (2024). Faz parte da ONG Grupo Ação Ecológica (GAE) e do conselho consultivo do Bosque da Barra.
Fonte: Diário do Rio, 07/07/2025