Expansão do VLT até São Cristóvão

Projeto para o Porto Maravilha estuda expansão do VLT até São Cristóvão

Aprovada no fim de 2023, a ampliação da área do Porto Maravilha — iniciativa com regras urbanísticas mais flexíveis — até São Cristóvão será um incentivo para construção de novos empreendimentos no bairro imperial. Mas, para além de novos moradores, o local, que já abrigou a Família Real e fábricas, também tem no horizonte as reformas do estádio de São Januário e da estação da Leopoldina, assim como a construção de uma nova arena para o Flamengo, como alavancas nesse processo de revitalização. Com boa oferta de transporte, as ruas de São Cristóvão podem ser atendidas ainda por um novo sistema: o VLT ou um modelo similar, possibilidades que estão sendo estudadas pelo município.

Todos esses fatores foram colocados em debate durante mais uma edição do Caminhos do Rio, iniciativa dos jornais O GLOBO e Extra, com patrocínio da Prefeitura do Rio, realizado ontem, no auditório da Editora Globo, na Cidade Nova. A mediação coube ao jornalista Rafael Galdo, editor de Rio do GLOBO.

Trajeto do futuro VLT em São Cristóvão

Projeto, que está em fase de estudos, analisa opção de veículo usado ser um Veículo Leve Sobre Pneus (VLP), que não necessitaria de trilhos.

Na primeira mesa do debate, cujo tema foi “Rumo a São Cristóvão”, Osmar Lima, secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, descreveu o que pode ser o trajeto do futuro veículo leve sobre trilhos (VLT), similar ao que corta o Centro do Rio, ou do veículo leve sobre pneus (VLP), que também é uma das opções avaliadas na fase atual de estudos do projeto.

Esta segunda opção é considerada mais barata, por não necessitar de trilhos. No fim deste ano, um modelo parecido — nomeado de Bonde Urbano Digital — será testado na Região Metropolitana de Curitiba, com a instalação de sensores magnéticos no asfalto, que guiam o caminho a ser seguido pelos vagões.

No caso carioca, seja VLT ou VLP, o novo modal começaria a viagem no Terminal Gentileza — que foi construído com uma plataforma já virada para São Cristóvão — e percorreria todo o bairro, num percurso de 5,2 quilômetros.

— (Vamos) Conectar o Gentileza e fechar todo o arco de conectividade do porto, passando pela Feira de São Cristóvão, pela Quinta da Boa Vista, Bioparque, e descendo na estação de São Cristóvão, que vira uma grande estação de integração entre trem, metrô, toda essa mobilidade e ônibus — disse o secretário sobre o modal, que irá passar ainda pela Leopoldina e cruzar a Avenida Francisco Bicalho para chegar à Praia Formosa.

Para Leonardo Mesquita, vice-presidente de Negócios da construtora Cury, esta é a primeira grande oportunidade de o Rio “construir um bairro que não seja dependente de carro”. Para isso, acrescentou Marcela Abla, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RJ), a implementação de medidas de redução de tarifa do futuro VLT para os moradores de São Cristóvão seria um incentivo.

Novos empreendimentos

Com a expansão para o bairro imperial, a área do Porto Maravilha salta de cinco milhões de metros quadrados para 8,7 milhões. Na prática, construções que ultrapassam o limite determinado pela prefeitura precisam comprar um título — o Certificado de Potencial Adicional de Construção (Cepac) —, meio usado pelo município para financiar a instalação de infraestrutura nessas áreas revitalizadas. Osmar Lima contou que os usou no Porto Maravilha desde a remoção dos entulhos da antiga Perimetral, que começou a ser implodida em 2013, até as obras de calçamento e drenagem.

Antes, o uso desses Cepacs era restrito à área de especial interesse urbanístico do Porto Maravilha, que agora passou a incluir São Cristóvão. Neste ano, o primeiro residencial lançado no bairro imperial após essa mudança foi o Cartola, onde ficava a antiga sede da distribuidora de combustíveis Ipiranga, na Rua Francisco Eugênio. O segundo deve ser lançado em janeiro do ano que vem, no terreno da antiga Companhia de Luz Steárica — pioneira na iluminação a gás, negócio do Barão de Mauá, no século XIX — na Rua São Cristóvão, onde serão mantidos os galpões históricos do espaço.

O vice-presidente da Cury, responsável pelos empreendimentos, entende que a expansão dos interesses para São Cristóvão é uma chance de oferecer unidades a um “preço mais acessível”. Ele valoriza o fato de o acesso ao transporte de qualidade ser próximo, algo “difícil” em outras regiões cariocas.

— Onde seria melhor para uma classe média do Rio ficar? Eu não encontro um local, dentro da cidade do Rio, que tenha todas as qualidades que a gente está falando aqui oferecidas nessa região — disse Leonardo Mesquita, mencionando o “atraso legislativo” de outrora para explicar a “baixa qualidade de adensamento” em São Cristóvão. — Você tem (o local) onde o transporte está, onde o lazer está, mas não é onde o povo está.

Entre as áreas promissoras apontadas por ele no bairro estão a da antiga usina de reciclagem de asfalto e a do posto do Detran, ambas na Francisco Bicalho. Com a inclusão do bairro imperial, a expectativa é que o Porto Maravilha tenha 100 mil unidades residenciais até 2064, com potencial para atrair 250 mil moradores. Atualmente, dos 13 mil imóveis lançados pela Cury por lá, duas mil estão em fase de ocupação.

Marcela Abla concordou que as intervenções são importantes, mas alertou que precisam ocorrer a partir de um debate com a sociedade.

— É um bom momento para convidar a prefeitura para chamar de volta os arquitetos à prancheta. A arquitetura, os planejadores urbanos, a arquitetura da paisagem perderam muito: esses profissionais todos estão ansiosos para voltar a atuar na cidade — afirmou a presidente do IAB-RJ, que entende que a Francisco Bicalho fica “no meio” entre as melhorias em São Cristóvão e o porto e nunca contou com uma “conexão”.

A segunda mesa do dia, por sua vez, tratou do desafio de atrair estabelecimentos para atender moradores e visitantes de São Cristóvão, algo enfrentado no porto, que sofre com a reclamação da falta de supermercados, por exemplo.

Potencial turístico

Adriana Homem de Carvalho, assessora de turismo do Sistema Fecomércio, lembrou que São Cristóvão tem um “potencial absurdo para receber turistas”, com bens — como Museu Nacional, Observatório Nacional e o Bioparque — que poderão ser melhor aproveitados com essa modernização.

—São Cristóvão foi um bairro imperial, virou um bairro industrial, e hoje é um bairro à procura de uma identidade, apesar de ter vocação para a cultura — disse ela. — Tem tudo para voltar a figurar como um bairro bom para o negócio, bom para o morador.

Já Rejane Micaelo, diretora de Operações dos parques do Rio do Grupo Cataratas, ressaltou que a região precisa ser entendida como um atrator de público e de entretenimento. Para isso, é preciso entender sua vocação.

— Por que não se cria um circuito cultural em São Cristóvão? — propôs.

Já o empresário e empreendedor cultural Raphael Vidal fez uma provocação: o IPTU poderia ser isento após a emissão de alvarás do comércio, como um atrativo.

O segredo para o sucesso do negócio, disse, é buscar a resposta no passado, e não no futuro: o morador e o comércio que já estavam instalados precisam ser abraçados (e ouvidos) pelos novos ocupantes e pelo turismo. Para ele, o papel do pequeno comerciante é entender que o seu negócio faz parte da vizinhança.

— Entendi que o meu papel de comerciante, o bar, o botequim, o restaurante, tem uma função, que é o de salvaguardar a memória do local. É entender que toda a história que chama a atenção desse território, da Pequena África, de São Cristóvão, do Centro da cidade, é a história local — analisou Vidal, que já pesquisa lugares para expandir os negócios para a região: — Partiu, São Cristóvão!

Fonte: https://oglobo.globo.com/rio/noticia/2025/10/23/projeto-para-o-porto-maravilha-estuda-expansao-do-vlt-ate-sao-cristovao.ghtml, 23/10/2025

 

Compartilhe