A Valec, empresa responsável pelas ferrovias no governo federal, é uma fábrica de irregularidades e exemplo de má gestão. Os problemas são antigos, mas se agravaram na vigência do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento, quando a empresa teve seu orçamento multiplicado por quatro. A Ferrovia Norte-Sul, obra mais robusta tocada pela Valec, recebeu nos últimos quatro anos R$ 4,7 bilhões dos cofres públicos, aplicados na construção de um trecho de 1.358 quilômetros, entre Aguiarnópolis (MA) e Anápolis (GO). Cada quilômetro custou R$ 3,5 milhões, em média, quase 17% acima do valor médio estimado pelo mercado – R$ 3 milhões.
Um exame em auditorias feitas pela Controladoria Geral da União (CGU) nas contas da empresa e em acórdãos do Tribunal de Contas da União (TCU) evidencia que as falhas na administração e as irregularidades nas obras da Valec se multiplicaram na gestão de José Francisco das Neves, o Juquinha, que assumiu a presidência da empresa em abril de 2003. Mas ele se manteve no cargo até estourar o escândalo que derrubou toda a cúpula do Ministério dos Transportes, na semana passada.
Juquinha tinha como padrinho o deputado Valdemar Costa Neto (SP), cacique do PR, e contava também com o apoio do ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento, para quem eram encaminhados relatórios dos órgãos de controle interno e externo apontando as irregularidades e desmandos administrativos na Valec.
No comando da empresa, Juquinha se empenhou para acelerar o ritmo das obras da Norte-Sul em Goiás, seu estado natal, onde consolidou forte atuação política enquanto presidia a Valec. Quando a ferrovia chegou a Goiás, aprovou a nota técnica 03/2009, que permitiu à Valec firmar termo aditivo ao contrato 14/2006, garantindo acréscimo superior a 25% (limite permitido na lei das licitações) no valor para um trecho de só 12 quilômetros, que passou a custar R$ 84,9 milhões.
Fonte: O Globo, 11/07/2011