Rio – Em qualquer lugar do mundo, levar 30 minutos no percurso de casa para o Centro é algo bem razoável. Isto, se o trajeto for feito num meio de transporte que ofereça graus razoáveis de conforto e de pontualidade. Pois bem: 30 minutos é o tempo que se leva, num trem parador, entre as estações de Madureira e Central do Brasil. No direto, a viagem é ainda mais rápida. Um caminho sem engarrafamento num meio de transporte que não faz fumaça, que não aumenta a poluição. Em tese, ir de trem é a melhor opção para quem mora no subúrbio ou na Baixada. Na prática, não é assim.
O descaso e a incompetência de sucessivos governos, a tradição de se beneficiar apenas a parcela mais rica da população e a influência de empresas de ônibus fizeram com que, ao longo dos anos, fosse sucateada a espetacular malha ferroviária do Rio, criada na segunda metade do século 19. É inacreditável o esforço que foi feito para arrebentar um sistema que conta com 99 estações em 12 municípios, capaz de vencer distâncias como os 60 quilômetros que separam Santa Cruz do Centro. Em troca, investiu-se na construção de vias expressas, avenidas que estimulam o uso do carro e logo ficam entupidas; na prática, apenas transferem os engarrafamentos de lugar.
A destruição foi tamanha que a maior parte da população cultivou o sonho do carro próprio como solução para o perrengue do ir e vir. Isto passou a ser visto até como sinal de vida compatível com o tal primeiro mundo. Um erro: a grande maioria da população dos países desenvolvidos usa transporte público. Entre nós, a inexistência de um bom sistema de transporte de massa colaborou para a degradação dos subúrbios, para o adensamento de áreas centrais e até para a favelização — morar perto do trabalho virou essencial.
A SuperVia tem como um de seus objetivos recuperar, até 2015, a marca de 1 milhão de passageiros transportados por dia — hoje, são 540 mil. Isto implica em muitas melhorias, atualmente, apenas 24% dos trens são equipados com ar condicionado, um conforto básico numa cidade quente como a nossa. Ao se candidatar à sede das Olimpíadas, o Rio assumiu diversos compromissos relacionados aos transportes, inclusive, com o transporte ferroviário. A linha do trem, vale lembrar, passa ao lado de importantes instalações, como o Maracanã, o Engenhão e as de Deodoro. O cumprimento dessas tarefas é, talvez, o mais importante dos legados, o que mais contribuirá para uma cidade melhor e mais justa.
Fernando Molica é jornalista e escritor – Artigo publicado no jornal O Dia, 29/05/2012