Um dos assuntos mais comentados no momento refere-se à questão da mobilidade em regiões urbanas e metropolitanas. Tenta-se entender porque a mobilidade das pessoas e de cargas está diminuindo de forma sistemática e significativa. Percebe-se que essas áreas estão em constante mutação, quer seja pelo crescimento vegetativo ou pelas migrações.
No caso da RMBH (assim como em outras regiões do país), o adensamento da região, isto é, a substituição de moradias unifamiliares por prédios de apartamentos estabelece uma distorção nas vias de escoamento de tráfego, uma vez que não existe compensação entre o novo índice de ocupação de habitantes por m2 e a capacidade instalada do sistema viário local.
Este fato é naturalmente agravado pelo aumento sucessivo da frota e pela necessidade do deslocamento pendular (movimento na direção bairro-centro-bairro) dos passageiros, usualmente concentrados nos horários de pico.
Agregue-se a esta situação o fato de que nesta RM o modo mais utilizado é o ônibus, que disputa espaço com outros meios de transporte na maior parte do sistema viário metropolitano. Sendo o transporte por ônibus considerado de baixa ou média capacidade de passageiros e considerando que existem apenas alguns corredores com prioridade para a circulação deste modo de transporte, é possível explicar porque aqueles passageiros que possuem melhor condição de renda migrem para modos individuais de transporte (claramente apoiados por uma política de crédito de fácil acesso ao consumidor).
Então, o que pode ser feito para mudar este cenário?
Inicialmente seria necessário uma integração dos municípios metropolitanos para o estabelecimento de uma única política de transportes urbanos para a região. Esta ação deveria ser idealmente conduzida pelo Governo do Estado, pelo seu poder de articulação. As políticas exclusivamente municipais podem contribuir para o equacionamento da questão, mas não necessariamente têm a abrangência que o sistema metropolitano necessita.
O sistema BRT (Bus Rapid Transit) constitui-se em solução para a mobilidade na RMBH? Este é um assunto deveras interessante. Senão vejamos:
A Prefeitura de Belo Horizonte vem anunciando a implantação do BRT como solução para a mobilidade em BH.
Vale reconhecer que todo o sistema de ônibus que opere em via exclusiva, principalmente sistemas como o BRT com embarque em nível e pagamento antecipado de passagem, consegue desenvolver maiores velocidades comerciais e, portanto, ajudar na mobilidade. No entanto o BRT é um sistema de média capacidade e poderá compor um conjunto de soluções para a melhoria da mobilidade na RMBH. Mas não constitui por si só a solução para o problema.
Qual a solução de transportes de passageiros mais adequada para a RMBH?
E preciso que se desenvolva uma nova modelagem que resulte em uma matriz de modos de transporte de passageiros com mais equilíbrio, onde cada subsistema atue na sua faixa de eficiência. Esquematicamente poderíamos, pensar em uma matriz de transportes ancorada em sistemas sobre trilhos nos grandes corredores metropolitanos (metrô, trem, VLT etc.) os quais seriam alimentados por sistemas de menor capacidade como ônibus e outros.
Como seria o financiamento deste novo modelo?
Para os sistemas de vias fixas (metrô, trens, BRt’s) poderíamos adotar o conceito de linha-empreendimento, onde a faixa de domínio/influência entraria como ativo, de forma a mitigar os custos de implantação/operação.
Ainda, no caso do metrô subterrâneo, poderíamos trabalhar com o conceito de túneis multiuso, de forma a mitigar também os custos referidos acima. Os demais modos poderiam ter aporte de recursos de outras partes como pedágio urbano, mais valia, entre outros.
Nilson Tadeu Ramos Nunes, PH.D., – Superintendente Regional da Companhia Brasileira de Trens Urbanos e professor da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Fonte: Revista Ferroviária, 16/01/2013