Indústria frustra a maior encomenda da CPTM

A Companhia de Trens Metropolitanos de São Paulo (CPTM) está reformulando o edital da concorrência nacional para a compra de 65 trens para uma licitação internacional.   A medida está sendo adotada após quatro adiamentos de entrega de propostas e depois que um único consórcio, o Frota CPTM (CAF Brasil Indústria e Comércio e Alstom Brasil Energia e Transporte), apresentou proposta com valor acima do orçamento estimado e foi desclassificado.  O valor de referência do edital é de R$ 23,7 milhões por trem (R$ 2,96 milhões por carro). A CPTM não informou o valor da proposta apresentada. A Revista Ferroviária apurou que o valor foi em torno de R$ 4,2 milhões por carro. O valor é mais que o dobro dos trens chineses que o Rio comprou para a SuperVia, que custaram R$ 2 milhões por carro.  Os 65 trens serão compostos por oito carros, totalizando 520 carros. Essa é a maior encomenda de trens elétricos do país.

Em nota, a CPTM informou que “optou por alterar a modalidade da licitação, tornando-a internacional, ampliando para que outros novos fornecedores possam participar oferecendo preços mais baixos”.  A companhia informou ainda que o novo edital está em fase de conclusão e deverá ser publicado em breve, sem citar previsão de data.

A licitação mudará de formato após toda uma campanha da indústria, através da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), para que os trens fossem fabricados no Brasil. O fato da indústria nacional apresentar somente uma proposta e acima do valor de referência foi recebido com surpresa (desagradável) pelo Estado e incomodou o governador Geraldo Alckmin.  “Belicosa, jocosa e estranha”, assim define o secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, a maneira como a indústria fez a proposta.

Para acelerar o novo processo, o governo fez uma consulta ao mercado e seis empresas estrangeiras, entre elas a CAF da Espanha e a Alstom francesa, demonstraram interesse na nova licitação. O governo espera, antecipando os pagamentos aos fornecedores, que parte dos trens seja entregue ainda no governo Alckmin, que encerra no final de 2014.

O edital dos 65 trens foi lançado em 03 de agosto, em solenidade no Palácio dos Bandeirantes, com a presença do governador Geraldo Alckmin; do secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes; do presidente da CPTM, Mário Bandeira; e representantes da indústria ferroviária.  Um dia antes da solenidade de lançamento do edital, durante apresentação do projeto da nova escola ferroviária do Senai, o presidente da CPTM, Mário Bandeira, disse que escolha da concorrência nacional tinha como objetivo incentivar a produção brasileira. Bandeira defendeu a produção nacional dizendo que os 13% de diferença de preço obtida pelo governo do Rio em relação aos trens chineses comprados para a Supervia não cobriam o que seria gerado de receita com os impostos aqui no Brasil, além da geração de empregos.  Ele disse também que o Brasil tem cinco fábricas de trens (Alstom, Siemens, CAF, Bombardier e Hitachi/Iesa) e que é ‘absurdo’ comprar trens do exterior. Ele foi aplaudido pelo presidente da Fiesp, Paulo Skaf, e pelo do Simefre, José Martins.

Os trens que a CPTM pretende comprar são de aço inoxidável, com oito carros cada – sendo quatro carros motores e quatro carros reboques alternados; e passagem livre entre eles. A aquisição estava dividida em dois lotes, sendo um com 30 trens e outro com 35.

De acordo com o edital, o preço ofertado deverá contemplar todos os equipamentos, materiais, instrumentos, mão de obra, acessórios, seguros cabíveis, pessoal, bem como os custos indiretos (impostos, tributos, encargos, taxas, emolumentos, etc) e outras despesas. E inclui ainda o fornecimento de sobressalentes, fornecimento de um novo simulador de trem com atualização dos demais simuladores de operação de trens da CPTM, manuais de manutenção e operação para os trens e prestação de serviços de treinamento técnico-operacional, transferência de tecnologia e assistência técnica com garantia assistida aos trens.

Fonte: Revista Ferroviária, 06/03/2013

Rolar para cima