Portos do Sul focam investimentos em ferrovias

O Porto de Itajaí, responsável pela movimentação de mais de US$ 16 milhões em 2012 e pela maior carga de contêineres em Santa Catarina, espera que, com a aprovação da MP dos Portos, seja desenvolvido um trabalho de planejamento, identificando os gargalos e acessos dos portos. Para aumentar a competitividade, o porto aposta na chamada “ferrovia do frango”, a ferrovia da integração, que fará a ligação entre o Leste e o Oeste do estado. A duplicação da BR-470 também deve permitir uma ampliação da capacidade do terminal.

“É necessário fazer novos investimentos não só no porto como também na área de influência. Para aumentar a produtividade, é necessário também aumentar o número de berços e a infraestrutura. Com a aprovação, vejo apenas vantagens para o setor”, explica o superintendente do Porto de Itajaí, Antônio Ayres.

O porto público, um dos mais importantes do país no escoamento da produção de frangos e suínos congelados, concorre diretamente com empresas privadas que atuam no complexo portuário.

A ‘ferrovia do frango’ ainda está em fase de licitação. A vencedora do processo terá um ano para encerrar o trabalho. A previsão é que as obras comecem em 2014 e a ferrovia entre em operação em 2019. Já o projeto de duplicação da rodovia BR-470 prevê licitação feita em lotes separados. Cada lote só é licitado após a conclusão das demais partes. O edital do lote 1, para a duplicação do trecho da BR-470 entre Navegantes e Ilhota, está em andamento. Os envelopes serão abertos no dia 21 deste mês.

Assim como em Itajaí, em São Francisco do Sul, o plano também é investir em infraestrutura nas áreas de influência e de logística até o acesso aos terminais. “Temos que começar a planejar o crescimento do porto pelas rodovias e ferrovia de acesso”, diz o presidente do Porto de São Francisco do Sul, Paulo César Corsi.

A medida provisória  595/2012, conhecida como MP dos Portos, foi idealizada pelo governo federal em dezembro. A medida, que foi aprovada no dia 17 de maio e encaminhada para sanção da presidente Dilma Rousseff, estabelece novos critérios para a exploração e arrendamento (por meio de contratos de cessão para uso) para a iniciativa privada de terminais de movimentação de carga em portos públicos.

Porto de São Francisco do Sul

O Porto de São Francisco do Sul, no Litoral Norte de Santa Catarina, é referência graneleira no estado. O destaque de movimentação é de soja em grão, farelo e óleo de soja, trigo, milho, congelados, derivados do petróleo e fertilizantes.

De acordo com Paulo César Corsi, o porto é de múltiplo uso, sendo o sexto porto no país em movimentação graneleira. Segundo ele, em apenas um berço, em 2012, foi movimentado mais de  6 milhões de toneladas de grãos. Porém, a capacidade do porto está toda comprometida.

“Para aumentar nossa produtividade, precisaríamos de mais berços e também investimentos na área de influência do porto, como nas ferrovias, por exemplo, para possibilitar transporte de mais carga”, reitera Corsi. Logística

Para garantir o aumento do fluxo de cargas nos portos, a opinião consensual é que é necessário realizar investimentos em outras áreas. “O porto é um dos pontos finais, mas temos portos exemplares e estradas complicadas. Para aumentar a eficiência, precisamos de estradas mais eficientes e ferrovias mais estruturadas, com mais capacidade de transporte, por exemplo”, afirma o presidente da Câmara de Transporte e Logística e 1º vice-presidente da Federação das Indústrias, Mario Cezar de Aguiar.

Segundo Paulo César Corsi, presidente do Porto de São Francisco do Sul, o setor portuário é responsável por 95% do volume do comércio exterior do Brasil. “A solução passa pelo maior investimento, mas não apenas em portos. É preciso aprimorar toda a cadeia logística, incluindo vias de acesso e armazéns”, defende Corsi.

Investimentos e planejamento

Um dos grandes desafios dos portos catarinenses é manter a profundidade adequada ao tamanho dos navios. Para isso, é preciso ações constantes de dragagem (retirada da areia excedente, que provoca o assoreamento). Segundo o diretor do Departamento de Desempenho Operacional da Secretaria Especial de Portos, Marcelo Werner Sales, no Plano de Dragagem dos Portos Brasileiros estão previstos investimentos de R$ 477 milhões para ações de manutenção do calado dos três portos públicos ou híbridos de Santa Catarina (Itajaí, Imbituba e São Francisco do Sul) nos próximos dez anos.

O processo, no entanto, exigirá esforços extras devido a um problema global do setor: a falta de padrões estáveis do tamanho-médio dos navios. A dificuldade reside no fato de as empresas armadoras preferirem embarcações cada vez maiores como forma de reduzir custos. Mas os projetos não conseguem acompanhar as rápidas mudanças de parâmetros. “Há dez anos, Itajaí embarcava 18 mil contêineres por mês. Hoje, um só navio já tem essa capacidade”, explica Sales.

“O navio que esperávamos receber no futuro está chegando agora. Nossos portos não estão preparados para isso. O rearranjo está complexo. Eu, responsável pelo programa, me sinto inseguro de definir o tipo de navio para os próximos anos, o que complica ainda mais a decisão de que investimentos são necessários fazer nos portos”, diz Sales.

MP dos Portos: opiniões divergentes

Segundo o superintendente do Porto de Itajaí, Antônio Ayres, entre as principais funções da MP estão melhorar a competitividade e a eficiência dos portos, ser base para tomada de decisões e definir as condições para o setor fazer investimentos com segurança.

Sobre a aprovação da MP dos Portos, a opinião do presidente da Câmara de Transporte e Logística e 1º vice-presidente da Federação das Indústrias, Mario Cezar de Aguiar, é que “houve críticas sobre o fato de muitas atribuições se concentrarem no governo federal, tirando o poder das autoridades portuárias”.

Para o diretor-executivo do Porto de Itajaí, Heder Cassiano Moritz, apenas após a sanção será possível definir metas. “O período de indefinição é complicado, com a lei aprovada, podemos tomar algumas decisões, buscar novos investimentos. Teremos a base para fazer nosso planejamento.”

O superintendente Ayres destaca também as desvantagens. “A MP não resolve toda a questão da eficiência. Espero que diminua a burocracia pelo menos. Em relação à mão de obra, por exemplo, os portos privados têm menos pessoas trabalhando e conseguem ser mais eficientes do que alguns públicos. A relação com o sindicato é complicada, porém, na medida provisória, esta questão não é tratada. Outra desvantagem é a centralização. Todas as decisões precisam ser aprovadas em Brasília, deixando alguns processos mais engessados. As ações locais deveriam ser delegadas aos portos”, diza Ayres.

Ayres ainda compara a situação do porto público de Itajaí com outras empresas que trabalham no Complexo Portuário. “A parte privada do porto, na margem esquerda, pode trabalhar sem nenhuma amarra, o que a torna altamente eficaz e competitiva”, comenta.

Segundo Sales, a ideia de aumentar a produtividade dos portos passa também pelo planejamento. “Temos que quebrar paradigmas, parâmetros empíricos, para conseguir aumentar a eficiência. No Brasil, diversos portos dependem de condições meteorológicas e do mar. Por que em outros locais, como na Europa, isso não acontece com tanta frequência?”, questiona.

Fonte: G1 SC, 06/06/2013

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