Em menos de um ano, o presidente da EPL (Empresa de Planejamento e Logística), Bernardo Figueiredo, perdeu o posto de todo-poderoso dos transportes e foi colocado na geladeira por Dilma Rousseff.
Figueiredo não participa mais de decisões sensíveis do setor e suas posições sobre os transportes estão sendo preteridas pelas do secretário do Tesouro, Arno Augustin.
Nos bastidores, o chefe do Tesouro diz que Figueiredo defende interesses dos empresários. Já o presidente da EPL afirma que Augustin sabota as decisões da presidente, atrapalhando, assim, o programa de concessões de mais de R$ 200 bilhões anunciado em 2012.
Empresários do setor de transportes consideram Figueiredo autoritário. Mas as negociações com Augustin têm sido mais difíceis. Empresários ouvidos pela Folha reclamam do “viés ideológico” do secretário e que essas posições podem afugentar investidores, principalmente estrangeiros, dos negócios.
Um empresário disse à Folha que Augustin está ganhando as disputas no governo, mas isso terá impacto nos futuros leilões de concessões. Segundo ele, a concorrência vai acabar diminuindo ou mesmo não existindo.
Figueiredo ficou fortalecido após ser protagonista da primeira derrota de Dilma no Congresso. No início de 2012, seu nome foi vetado pelo Senado para continuar no comando da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres). Foi a primeira retaliação da base à presidente.
Seis meses depois do veto, Dilma o nomeou para a presidência da EPL, que se tornou uma espécie de substituta do Ministério dos Transportes na área de organização e planejamento do setor.
Desde a negociação para a MP dos Portos, em 2012, Figueiredo vinha perdendo espaço no governo. Ele defendeu pontos pleiteados por empresários do setor e uma mudança mais simples que não envolvesse o Congresso.
Dilma preferiu as posições de maior intervenção defendidas por Augustin e pelo ex-secretário-executivo da Casa Civil Beto Vasconcelos. Figueiredo nem participou das reuniões finais sobre o pacote.
TREM-BALA
Agora, o presidente da EPL perdeu também a disputa para aumentar a rentabilidade do projeto do trem-bala.
Ele negociou com empresas de transporte interessadas em uma taxa de retorno em torno de 8%. A intenção era atrair empresas financeiras para ajudar a formar o capital de R$ 1,2 bilhão necessário para o início do negócio.
Mas o secretário do Tesouro disse que a taxa de 8% não era necessária ao trem-bala porque o governo é sócio da empresa. Definiu-a em 7% e agora os interessados já não esperam mais ter empresas financeiras no negócio.
Figueiredo está fora até mesmo da discussão de empresários de ferrovias com o governo para a devolução de trechos do Ferroanel de São Paulo, o mais importante projeto ferroviário do governo e já bastante atrasado. Os atuais concessionários agora estão discutindo o tema com o secretário do Tesouro.
Augustin pertence à Democracia Socialista, uma das correntes do PT, a mesma do ex-governador do Rio Grande do Sul Olívio Dutra. Quando Dutra assumiu o governo, mexeu em concessões e não cumpriu contratos. No Estado, o viés intervencionista é atribuído a Augustin, então na Secretaria da Fazenda.
Fonte: Folha de S. Paulo, 10/07/2013