O presidente da Empresa de Planejamento e Logística, Bernardo Figueiredo, admitiu que pode ser adiado novamente o prazo de entrega de propostas para o trem-bala. “O que estamos avaliando é que se nós não mudarmos o prazo, teremos pouca competitividade no leilão. Talvez só um consórcio. E temos o compromisso de um grupo participar dele se adiarmos”, afirmou.
Ele disse que esse adiamento, se ocorrer, será de, no máximo, 90 dias e não atrasaria o início da operação do trem de alta velocidade, agora em 2020.
– A EPL está contratando um projeto de engenharia detalhado, com pesquisa geológica, para eliminar as incertezas da obra, e esse projeto ficará concluído no final do segundo semestre do ano que vem.
O trem-bala é polêmico: primeiro, por ser caro, por ter sido sempre adiado, porque o custo vem subindo. Já foi de R$ 12 bilhões, R$ 20 bilhões, R$ 33 bilhões e agora está em R$ 38 bilhões. Segundo, porque o Brasil tem inúmeras outras urgências em mobilidade urbana.
Bernardo Figueiredo, na entrevista que me concedeu na Globonews, disse que é, sim, urgente encontrar alternativa para o transporte de passageiros entre Rio e São Paulo e que não é possível nem construir mais aeroportos ligando as cidades, nem duplicar a Dutra. Por isso, a única opção seria o TAV. E que, além disso, a Ferrovia construída ligando as duas cidades é de 1890.
Os sucessivos adiamentos e licitações em que nem houve apresentação de proposta não são, segundo ele, sinais de problemas:
– Num momento se tentou fazer uma junção entre risco de construção e risco de operação, o que obrigava a um casamento entre empreiteiras e as detentoras de tecnologia. Não deu certo porque o risco de construção era muito alto e quem pagaria seria o operador, e não houve um acordo. Nesse processo, adiamos duas vezes. Depois deixamos o leilão dar vazio e nas outras vezes que foi adiado foi por solicitação das empresas, disse.
Figueiredo afirmou que o projeto do TAV não surgiu do nada.
– O último projeto que existe sobre logística no país foi justamente sobre o trem de alta velocidade feito entre 1997 e 1999 pelo Geipot com o governo da Alemanha.
O Geipot, órgão que tinha a função de planejar o transporte no país, foi extinto em 1990 no governo Collor, mas segundo Figueiredo, continuou funcionando e fez esse trabalho que ele definiu como excelente e bem detalhado; no entanto, nessa mesma entrevista, disse que o projeto de engenharia – que vai dimensionar os riscos do TAV – ficará pronto no fim do ano que vem, muito depois de a obra ser licitada.
Bernardo Figueiredo garantiu que a EPL não pensa apenas no trem-bala e que já está com projetos de rodovias e Ferrovias que vão lançar investimentos de R$ 100 bilhões no ano que vem e outros R$ 100 bilhões em 2015. Dada a dimensão acanhada dos investimentos feitos no passado, é difícil acreditar em números tão arrojados.
– O que esse leilão vai decidir é o quanto o governo receberá pelo uso dessa infraestrutura. O que o operador vai pagar equivale, a valor presente, a R$ 40 bilhões, R$ 45 bilhões ao longo de 40 anos. O risco que tem nesse recebível é o risco de demanda. Mas neste operador, a EPL participa com 45% do capital e, agora, os fundos e o BNDES vão participar com outra parcela que vai variar de 30% a 35%. Esse é o investimento que tem o retorno de 14% previsto no projeto.
Uma saia justa em que o governo está é que do único consórcio garantido vai participar a Alstom, envolvida num caso de formação de cartel no metrô de São Paulo. Bernardo Figueiredo disse que isso não impede a participação da empresa.
– Nós tivemos o cuidado de discutir com o Cade se isso geraria algum impeditivo de participação, mas são processos diferentes.
A imprensa especializada internacional tem vários artigos mostrando erros e problemas nos TAVs. De acordo com a Reason Foundation, só dois empreendimentos, Paris-Lyon e Tóquio-Osaka, dão lucro. No resto do mundo ele não chega a pagar seu custo, no Brasil haveria dificuldades adicionais, como a topografia da distância entre as duas cidades.
– Nessa distância de até 500 quilômetros, o avião é caro, e o automóvel não é competitivo. Portanto, o melhor é o trem de alta velocidade. Se não for o trem-bala, como eu resolvo a ligação Rio-São Paulo? Não existe Plano B, garantiu.
Os pontos-chave
O trem-bala é polêmico: seu custo só sobe, e o Brasil tem outras urgências em mobilidade urbana
Mas o presidente da EPL, Bernardo Figueiredo, defende o projeto e diz que não há plano B
Só dois TAVs dão lucro no mundo. Os outros não pagam os custos. O do Brasil teria dificuldades adicionais
Fonte: Diário de Pernambuco, 09/08/2013