Mais de 2 milhões vão ao Rio todo dia para trabalhar

Mais de 2 milhões de pessoas chegam ao Rio diariamente para trabalhar. O número representa um aumento de 30% na população da cidade, já que poucos são os cariocas (5%) que deixam a capital para trabalhar em outros municípios. Os dados fazem parte do estudo realizado pelo Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), em parceria com o Sebrae/RJ, e foram divulgados no 4º Seminário “Oportunidades do Rio”, realizado pelo GLOBO e Sebrae/RJ. O tema desta vez foi “Mobilidade urbana x mercado de trabalho” e contou com a participação de pesquisadores e especialistas da área de transportes.

Professora da faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisadora do Iets, Danielle Carusi Machado usou dados do Censo de 2010 para mostrar que 65,4% de todos os moradores da Região Metropolitana que saem das suas cidades para trabalhar têm como destino a cidade do Rio de Janeiro.

— As distâncias das periferias dos centros econômicos ampliaram-se e, nesse contexto, a mobilidade dos trabalhadores tornou-se fundamental — diz a professora.

O estudo revela que a maioria dos trabalhadores que chegam ao Rio vem de São João de Meriti (14,9%), seguidos de São Gonçalo (13,2%) e Niterói (10,7%). Em alguns municípios há mais moradores trabalhando no Rio que na sua própria cidade residente, como é o caso de Nova Iguaçu. Na cidade, 50% de seus moradores vão para a capital trabalhar, enquanto 37% trabalham no município.

A quantidade de pessoas saindo de suas cidades e voltando nos mesmos horários faz com que o tempo de deslocamento também seja alto. Em Japeri, por exemplo, a maioria dos trabalhadores (54%) leva mais de uma hora para chegar ao trabalho. Na cidade do Rio, o tempo médio de deslocamento é de 46 minutos. O tempo é tão grande que, para a pesquisadora, o período e o custo desses deslocamentos levam trabalhadores à informalidade:

— A inserção informal acaba sendo mais flexível do que numa empresa, que é mais rígida com horários e com jornadas de trabalho maiores. A informalidade pode ser uma forma de essas pessoas se inserirem na atividade econômica.

Linha de ônibus de 90 quilômetros

Mediado por Maria Fernanda Delmas, editora de O GLOBO a Mais, o encontro teve a participação de Cezar Vasquez, diretor e superintendente do Sebrae/RJ, Eduardo Rebuzzi, presidente da Federação do Transporte de Cargas do Estado do Rio (Fetranscarga), Nino Aquino, consultor de transportes públicos, e Carlos Osório, secretário municipal de Transportes.

— A mobilidade tem uma relação com esse desempenho da pequena empresa e tem impacto na distribuição de renda. Os dados de Nova Iguaçu me chamaram a atenção de que é necessário ter políticas também para a Região Metropolitana — diz Vasquez.

O secretário Carlos Osório, que mostrou a história de transportes na cidade desde os bondes até o sucateamento do sistema de trens nos anos 1980, ponderou que o Rio tem uma característica peculiar em relação a outros centros urbanos:

— O Centro está localizado no extremo leste da cidade e tem amplas distâncias a percorrer dentro do município. Temos uma linha de ônibus municipal de 90 quilômetros de extensão, entre a Sepetiba e a Carioca, quase a distância para Petrópolis — diz Osório, citando projetos em execução pela prefeitura e pelo governo do estado como a linha 4 do metrô, o BRT (Bus Rapid Transit), o BRS (Bus Rapid System) e o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). — Nossa expectativa é reduzir o tempo de viagem no transporte publico. Hoje 20% das viagens são feitas por transporte público de alta capacidade, como o metrô. Nossa meta é chegar a 60% das viagens em 2016.

Nino Aquino, consultor de transportes, citou outro fator importante nessa relação entre mercado de trabalho e mobilidade urbana:

— Temos que levar em conta a variabilidade do tempo da viagem. A pessoa que leva duas horas para chegar ao trabalho vai chegar meia hora mais tarde num dia e meia hora mais cedo no outro. Precisa haver uma constante. O VLT pode ter essa vantagem.

Obras sem continuidade

Para Eduardo Rebuzzi, a mobilidade urbana é essencial, porque interfere na empregabilidade.

— O empresário, quando vai selecionar uma pessoa, precisa considerar não só custo, mas o tempo que a pessoa fica no transporte. Ela já chega ao trabalho cansada e fica aflita para ir embora pensando em como será sua volta para casa.

Outra preocupação de Rebuzzi é com a responsabilidade logística:

— Os projetos precisam ter continuidade quando muda o governo. No Rio, um governante cavava o túnel do metrô e o outro não dava continuidade. Isso é brincar com as pessoas. Os governantes precisam ter estratégia e logística de transportes.

Fonte: O Globo, 04/09/2013

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