Subsecretário apoia proposta de carros sem vagas e com pedágio na cidade

RIO — Medidas para reduzir o número de carros circulando nas cidades e a melhoria dos transportes de massa são as estratégias mais adequadas para amenizar os problemas de trânsito nas grandes cidades, na visão de especialistas. No seminário “Desafios da Mobilidade Urbana no Brasil”, realizado nesta quarta pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), com apoio do jornal O GLOBO, propostas como a extinção total dos estacionamentos em ruas e demais áreas públicas e a cobrança de pedágios em vias urbanas, com o objetivo de diminuir a quantidade de carros circulando pela cidade, receberam o apoio do subsecretário executivo de Transportes da Prefeitura do Rio, Carlos Eduardo Maiolino.

— A partir do momento em que a rede de transporte coletivo estiver funcionando bem, eu acho que deve haver medidas mais restritivas aos carros. A restrição do estacionamento em área pública deve ser a primeira medida, talvez a que tenha impacto mais imediato. Pela falta de vagas, as pessoas vão ter de optar por outro modo de deslocamento — afirmou Maiolino, destacando que, no período que vai de 2009 a 2016, os transportes coletivos do Rio terão R$ 18 bilhões em investimentos públicos, cifra nunca antes aplicada.

Tarifação de vias públicas como opção

Na opinião do subsecretário, o rodízio de placas de automóveis, outra medida restritiva a automóveis já praticada em São Paulo, não seria adequado ao Rio, porque sua eficácia se esgota em dez anos, já que as pessoas compram outro carro para alternar a placa.

— Exemplo mais recente adotado em outras cidades do mundo, o pedágio, ou melhor, a tarifação das vias públicas, talvez fosse uma solução também, mas tudo isso só deve acontecer quando houver essa rede de transporte de alta capacidade — destacou.

A proposta de proibir os estacionamentos em áreas públicas nas grandes cidades foi apresentada por Phillip Yang, presidente do Instituto Urbem, como forma de liberar espaços nas ruas para tráfego, ciclistas e áreas verdes. E, ao mesmo tempo, convencer o brasileiro a deixar o carro em casa, depois da explosão de vendas de automóveis dos últimos dez anos, estimuladas pela redução de impostos, a facilidade de crédito e o aumento de renda da população.

— Não existe uma bala de prata para o carro. A restrição ao estacionamento é uma grande medida. As pessoas nascem com direito à vida, à saúde, à habitação, mas não nascem com direito a estacionar — disse Yang, durante o debate, que foi mediado pelo jornalista William Waack.

No seminário, os especialistas destacaram que a piora na mobilidade urbana não só afeta a qualidade de vida dos cidadãos, como prejudica a competitividade das empresas.

— Nossas cidades estão reduzindo a produtividade das pessoas. Elas chegam ao trabalho de mau humor, atrasadas. Outro problema é a falta de mobilidade de bens: o transporte que poderia ser feito em meia hora leva duas horas, ou não se sabe quanto tempo leva, o que demanda mais capital de giro e torna a empresa menos competitiva — disse José Augusto Coelho Fernandes, diretor de Políticas e Estratégia da CNI.

O presidente do Conselho de Infraestrutura da CNI, José Mascarenhas, disse que a onda de manifestações populares foi um alerta, que mostra a piora nas condições de vida nas grandes cidades, sobretudo na mobilidade urbana.

— O Brasil tem 85% da população vivendo em centros urbanos. Na década de 1950, eram 36%, e esse crescimento não foi acompanhado por políticas públicas capazes de garantir mobilidade, habitação e vida com qualidade aos habitantes — afirmou.

Prefeito de BH defende planejamento

Sérgio Magalhães, presidente Nacional e Regional do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), criticou a qualidade do sistema de trens do Rio de Janeiro.

— Os investimentos públicos do Rio em transportes são da ordem de R$ 18 bilhões, e a SuperVia, entre 2009 e 2020, vai investir R$ 3 bilhões, ou R$ 300 milhões por ano, é quase o valor de manutenção. Em vez de fazer com que as duas linhas do metrô virem uma só, com gastos de R$ 8 bilhões, seria melhor investir R$ 3 bilhões e transformar os trens em metrô, fazendo com que as estações ofereçam a dignidade de que o cidadão precisa. Não é porque houve a concessão (dos trens) que o governo não deve investir — afirmou.

A SuperVia informou que, em 2011, a nova gestão assumiu o compromisso de renovar o sistema ferroviário, seguindo um plano de reforma de estações para adequá-las ao padrão internacional de acessibilidade.

Um ponto citado pelos especialista como entrave à mobilidade urbana é a falta de planejamento nos projetos. Uma mudança que o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, busca colocar em prática na capital mineira.

— Sem planejamento detalhado de curto prazo, mais ou menos detalhado de médio prazo e razoavelmente detalhado para 20 anos, não temos como pensar em solução. E não tem solução rápida. A questão da mobilidade ainda vai piorar antes de melhorar. Essa é a triste realidade neste momento, embora possa, em três ou quatro anos, apresentar bastante resultado.

Fonte: O Globo, 14/11/2013

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