Trens do Rio são alvo de promessas há várias campanhas eleitorais

RIO — Fontes de problemas diários que atormentam milhares de moradores do Rio de Janeiro dependentes do transporte público, os trens operados pela Supervia são alvo de promessas há várias campanhas eleitorais. Nesta segunda-feira, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), candidato à reeleição, e o senador Lindbergh Farias, candidato do PT ao Palácio Guanabara, prometeram criar viadutos e passagens subterrâneas para evitar que os veículos sejam obrigados a cruzar a linha férrea, como acontece em alguns pontos da malha.

Especialistas em transporte divergem sobre a viabilidade da medida e apontam falhas de manutenção nos trens, nos trilhos e nas subestações de energia como fatores que contribuem para os atrasos nas viagens. Nesta segunda, uma composição que começou a circular em 2006 apresentou um problema no sistema de tração e precisou ser retirada dos trilhos, na estação de Piedade. Passageiros que se deslocavam no ramal de Deodoro, um dos oito que compõem a rede, relataram que esperaram 40 minutos até embarcarem em outro trem.

— É um sistema que passou 50 anos sem manutenção. Precisa trocar os trezentos quilômetros de trilhos e a sinalização. Outro problema grave é o fato de muitas pessoas terem construído suas casas na faixa de servidão do trem. O maquinista precisa trafegar com o freio na mão e reduz muito a velocidade — afirma o professor Alexandre Rojas, da Uerj. — É o que ensinam os livros, mas acho que é discurso de candidato (construir viadutos e passagens subterrâneas). De onde sairá o dinheiro?

Já o professor José Eugênio Leal, da PUC-Rio, reconhece que há uma tendência de melhoria nos investimentos, mas acredita que não é possível acabar com o cruzamento de trens e carros em todos os pontos onde isso acontece. Segundo ele, outra medida que pode ser estudada é a criação de ligações transversais entre os ramais. Desta forma, os passageiros que vêm das zonas Norte e Oeste e não têm o Centro como destino final, poderiam se deslocar mais rapidamente. Hoje, grande parte das transferências entre linhas são feitas nas estações de São Cristóvão, Maracanã e Central do Brasil.

— Poderia ser criado um arco ferroviário em torno da Baixada Fluminense, por exemplo — aponta.

Para o professor Hostilio Ratton, da Coppe/UFRJ, a construção de viadutos e passagens subterrâneas não é “uma coisa a ser feita com tranquilidade”, mas é possível . Segundo ele, a perda de velocidade causada pela concorrência entre trens e veículos interfere até no preço da passagem.

— Com menos velocidade, a concessionária precisa colocar mais trens, e cada composição dessas é cara. O governo teria que assumir o ônus de, em alguns pontos, remover moradores próximos à linha do trem. As intersecções deveriam sempre ser em dois níveis, mas não é simples, tanto que não foi feito até hoje.

Nesta segunda, Pezão esteve em Deodoro, no centro de manutenção de trens da Supervia, onde estavam quatro trens chineses e dois nacionais que vão entrar em operação esta semana. Pezão afirmou que, até o final de dezembro, serão inaugurados um viaduto em Engenheiro Pedreira e dois em Nova Iguaçu, para evitar o cruzamento de veículos com a linha férrea. O candidato também prometeu que, até agosto de 2015, todos os trens terão ar-condicionado.

Para a sua primeira agenda de campanha em trens operados pela Supervia , Lindbergh escolheu viajar no trecho entre as estações do Méier e São Cristóvão, do Ramal Deodoro, às 9h30m (horário com menos fluxo de passageiros). Durante a viagem entre sete estações, Lindbergh prometeu transformar os trens da Supervia em metrô de superfície, com modernização das estações de trem, e reforma de 200 quilômetros de linha, para, com isso, reduzir em 30% o tempo de viagem.

Ao custo estimado em R$ 4 bilhões, o candidato propõe ainda construir passagens subterrâneas nas áreas onde há cruzamento da linha férrea com as pistas de carro — muito comuns na Baixada Fluminense —, para impedir que o trem pare diversas vezes durante uma viagem, aumentando assim a velocidade média de cada composição. Segundo um dos responsáveis pela elaboração do programa de governo de Lindbergh, a modernização das estações consistiria em obras para permitir a ventilação, instalação de escadas rolantes, coberturas para áreas descobertas, e adaptação para possibilitar acessibilidade. É prevista ainda a construção de algumas unidades multimodais, conectadas a ônibus, táxis, vans e bicicletas. Pelo programa do candidato, as obras poderiam ser pagas com recursos do Programa de Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades, ou com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

O candidato ao Palácio Guanabara pelo PR Anthony Garotinho viajou de metrô no último dia 5 para anunciar que, caso eleito, levará o metrô até a Baixada Fluminense. No seu programa de governo, Garotinho promete também promover a revisão de todos os contratos com as concessionárias de transporte público.

Crivella não publicou propostas sobre o serviço de trens em seu programa de governo. Porém, em agenda de campanha, o candidato pelo PRB já prometeu transformar os trens suburbanos em metrô de superfície, pela metade do custo para levar o metrô à Barra da Tijuca, que são R$ 8,5 bilhões. Crivella promete também transformar as atuais composições da Supervia ao ponto de diminuir substancialmente os intervalos das viagens.

Atualmente, há 186 trens em circulação e 1,6 milhão de lugares disponíveis, segundo a Supervia. No ano passado, a média de passageiros transportados por dia foi de 558.562. A idade média da frota é de 28 anos e, até 2016, a Supervia estima que 201 trens estejam em circulação, reduzindo a média para 12 anos. Desde que assumiu a operação, em 1998, a concessionária já foi multada 34 vezes pela Agetransp, a agência responsável por fiscalizar o transporte público no estado, totalizando mais de R$ 6 milhões. Só este ano, foram 14 multas, um passivo de R$ 1.5 milhão.

PROMESSAS ANTIGAS DE ANOS ANTERIORES

Desde a privatização da operação dos trens, que aconteceu em novembro de 1998, os candidatos ao governo do Rio prometem melhorias para o serviço de transporte sobre trilhos. Eleito no segundo turno das eleições de 1998, Anthony Garotinho (PR, ex-PDT) prometia “botar mais trens em intervalos cada vez menores e reformar as estações. Recursos, o Estado sempre tem, é questão de prioridade”, sem detalhar, à época, sua proposta para o setor.

Quatro anos depois, sua mulher, Rosinha Garotinho (PR, ex-PSB) prometeu, antes de ser eleita governadora do Rio, transformar os trens da Central em metrô, diminuindo os intervalos e equipando os carros com ar-condicionado. Rosinha prometeu refrigerar todos os trens urbanos operados pela SuperVia, com recursos da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide). O dinheiro vem de contribuições descontadas por litro de gasolina e óleo diesel usados por motoristas.

Já em 2006, durante a campanha do que seria seu primeiro mandato, Sérgio Cabral garantiu que integraria os sistemas, ampliando os modais de massa, como metrô e trens. O ex-governador disse também que daria sequência ao Programa Estadual de Transporte (PET) garantindo a entrada de mais 20 trens coreanos até o final de 2007.

uatro anos depois, Cabral prorrogou o a concessão da operação dos trens pela SuperVia de 25 para 50 anos (válida até 2048), prevendo investimentos do estado e da concessionária em torno de R$ 2,3 bilhões. Cabral disse à época também que, quando assumiu, dos 155 trens da SuperVia, dez tinham ar-condicionado. Em 2010 tinha 38. O ex-governador prometeu investir em barcas, trens para chegar em 2014 com todos os trens com ar-condicionado.

Fonte: Jornal Extra, 12/08/2014

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