As viagens turísticas de trem pela Europa são uma tradição, mas no Brasil também há belos roteiros para se desfrutar sobre trilhos, em que as paisagens e a história se revelam de forma peculiar.
“O passeio de trem tem como diferencial a atmosfera nostálgica. As pessoas que fazem sempre têm uma relação histórica com o trem, seja um avô que foi ferroviário, seja por ter utilizado o transporte na infância ou mesmo por curiosidade”, diz o gerente.
Os passeios mostram a diversidade cultural do Brasil e alguns deles são regados a música típica local. Em ferrovias centenárias, mas com maquinário moderno, seja em Marias Fumaças ou trens atuais, de vagões standard, turísticos ou luxuosos com decoração de época, eles remetem a épocas em que esse era o único meio de transporte.
“No País existem grandes roteiros de trem e a procura cresce a cada ano. Na região Capixaba se vê as tradições das colônias portuguesas, espanholas e italianas; em Curitiba a riqueza da paisagem da Serra do Mar; no Pantanal a cultura indígena; no Rio Grande do Sul a cultura do vinho; e em São João Del Rei a história do País. Essas atrações fazem com que os turistas se encantem com os passeios de trem”, comenta Rogério Nunes, gerente da Serra Verde Express.
Pontos turísticos e receptivos em todos os roteiros enriquecem a viagem, seja pela gastronomia típica da região, natureza exuberante ou arquitetura de época das cidades.
“Embora não haja uma forte cultura turística de trens no País, é um produto mundial muito bem visto, com muitos estrangeiros explorando os nossos passeios, e os brasileiros também já se encantaram”, analisa Nunes.
Uma das mais consagradas rotas turísticas ferroviárias do País é o Trem da Serra do Mar, que proporciona ao passageiro um cenário de uma porção quase intocada da Mata Atlântica, com montanhas, túneis, pontes e picos que ligam a cidade de Curitiba ao litoral de Estado. Por ano, cerca de 200 mil pessoas desfrutam do passeio.
Os encantos do trem da Serra do Mar
Saindo da estação Ferroviária de Curitiba o trem percorre 74 km em 3h até chegar à histórica cidade de Morretes. No percurso estão o conjunto montanhoso do Marumbi, a Cascata Véu de Noiva e a Ponte São João, construída em aço. Nela se passa por um vão livre de 110 metros de altura, onde se tem a sensação de estar sobrevoando um abismo.
“A descida da Serra do Mar tem uma natureza grandiosa com as montanhas que compõem a cordilheira e cachoeiras. Há atrativos de ambos os lados, além da própria estrada de ferro, construída entre rochas e com vários túneis. E o passeio se transforma em uma festa ao passar pelo túnel. São quase três minutos no escuro, quando todos se emocionam e gritam”, detalha Nunes.
Com a chegada a Morretes, o passeio ganha status gastronômico, com um tradicional almoço com o famoso “barreado”, prato típico da culinária local. Trazido pelos portugueses, no século 18, é preparado com pedaços de carne vermelha e toucinho e cozido por cerca de 12h em panela de barro vedada e enterrada no solo.
O turista ainda tem a oportunidade de conhecer um pouco da cidade, com seus casarões e igrejas do século 18.
A parada seguinte é em Antonina, fundada em 1714 e que teve seu Centro Histórico tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), em 2012. O município é famoso por sediar o mais badalado Carnaval do Paraná e manter viva a tradição das serestas.
Até o retorno da viagem surpreende o turista, por ser feita pela Estrada da Graciosa, que era usada pelos tropeiros no século 19. Um dos símbolos do Estado, sua fauna e flora a levaram a ser declarada área de reserva da Biosfera pela Unesco, em 1993. Como o passeio termina no final da tarde, a última paisagem admirada é o pôr do sol.
Uma viagem noturna com glamour
E o Paraná reserva aos amantes das ferrovias a Litorina de Luxo, eleita pelo “The Wall Street Journal” como um dos três passeios sobre trilhos mais interessantes do mundo. De Curitiba a Piraquara, percorrendo a centenária estrada de ferro à noite, considerada umas das cem obras de engenharia mais importantes do Brasil, o passeio inclui um jantar e a visita a uma antiga estação de trem.
“A decoração de época dos vagões, o serviço com champagne e um requintado jantar com comida contemporânea, em noites de inverno ou de luar, é um passeio extremamente romântico”, define Nunes.
Ares europeus nas Montanhas Capixabas
Na região Serrana do Espírito Santo, as exuberantes Montanhas Capixabas permitem um belo passeio de trem pela ferrovia centenária, que expõe um belo cenário bucólico. Em 48 km de trilhos, o trem passa pelas pequenas e encantadoras cidades de Viana, Domingos Martins, Marechal Floriano, Araguaya e suas estações históricas.
O passeio começa em Viana, a pouco mais de 20 km de Vitória.
Uma marca do roteiro é a subida de mais de 500 metros de altitude até à Estação de Araguaya. As exuberantes fauna e flora típicas da Mata Atlântica cobrem a serra em um percurso no qual se atravessa pontes, túneis naturais e se vislumbra cachoeiras.
“A região tem cultura europeia muito presente, várias chácaras de hortaliças e pousadas nos arredores que enriquecem o passeio. No trajeto, ao subir a montanha, se consegue acompanhar a exuberância da região, as plantações de café e a diversidade das estações pelas quais se passa”, explica Nunes.
O primeiro ponto de parada é a cidade Domingos Martins, em meio às montanhas e cercada por rios e picos, que encanta seus visitantes pelos traços da colonização europeia – alemã, polonesa e italiana -, característica que lhe rendeu o título de cidade mais românticas do Brasil.
O trem segue para a “cidade das orquídeas”, Marechal Floriano, com suas inúmeras cachoeiras, e termina no vilarejo italiano de Araguaya, com suas admiráveis construções do século passado.
Fonte: Jornal A Cidade, 31/08/2014