RIO — A aposentada Maria Helena Prazeres, de 73 anos, acordou sobressaltada na madrugada do Dia das Mães passado. Desde então, nunca mais voltou a dormir tranquilamente. Um estrondo anunciava o início de um tormento que, decorridos 116 dias, ainda acompanha o seu cotidiano. Moradora do edifício 137 da Rua Barão da Torre, ela repete o discurso que ecoa na boca de comerciantes e vizinhos: ninguém tem a mínima noção do que está, de fato, acontecendo no subsolo de Ipanema. Quase quatro meses após a abertura de duas crateras que deixaram moradores assustados, o bate-estacas das obras de reforço estrutural do solo continua frenético, mas o tatuzão — equipamento responsável por escavar o túnel da Linha 4, que ligará a Zona Sul à Barra — não quer saber de andar.
Segundo o secretário estadual da Casa Civil, Leonardo Espíndola, o novo prazo previsto para a retomada das escavações em Ipanema é o fim de setembro. Ele afirmou que o tatuzão só voltará a operar com “extrema segurança”, mas garantiu que o cronograma de entrega da Linha 4 não foi alterado:
— À exceção da escavação nesse trecho, o resto da obra segue o ritmo normal. Vamos cumprir o nosso compromisso com o Comitê Olímpico Internacional (COI). A Linha 4 estará operando antes das Olimpíadas. A suspensão do trabalho do tatuzão não provoca comprometimento no cronograma. Agora, não abrimos mão de retomar a escavação na Zona Sul com extrema segurança, restabelecendo a rigidez inicial do solo. São feitas medições diárias.
MEDO DOS MORADORES E PREJUÍZO DO COMÉRCIO
O Consórcio Linha 4 Sul, responsável pelas obras do metrô entre Ipanema e a Gávea, confirmou que a previsão é retomar as escavações no fim deste mês, mas acrescentou que isso só acontecerá “após a conclusão do trabalho de recompressão do subsolo na Rua Barão da Torre”. E que o prazo pode ser alterado (antecipado ou postergado) conforme a análise diária da execução. Na Zona Sul, foram escavados até agora 400 dos 4.700 metros de túnel. Desse total, 25 são em terreno com subsolo de rocha e areia.
O atraso que virou rotina — o governo do estado havia prometido que o tatuzão seria religado em fins de agosto — fomenta medos, irritação e prejuízos. Ao fitar o enorme canteiro de obras da varanda de seu apartamento, Maria Helena Prazeres reclama da falta de transparência do consórcio responsável pelas obras:
— É o caos. Agora as máquinas voltaram com tudo. Não dão nenhuma previsão para a gente, nada.
Comerciantes da esquina da Barão da Torre com Farme de Amoedo contabilizam prejuízos e já lançam mão de medidas de austeridade para fechar os meses com balanço positivo. Foi o caso do administrador Carlos Alberto Goulart, de 61 anos. Gerente do bar Manoel & Juaquim há mais de uma década, ele diz que já refletiu sobre a possibilidade de fechar as portas:
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— O barulho é intenso. As pessoas vêm para um bar para conversar, desfrutar. Quem quer ouvir bate-estacas? Sabemos que as obras trarão progresso à cidade, mas estamos apanhando muito. Estamos reduzindo custos para continuar funcionando. Tive que liberar funcionários.
Em frente ao bar, o restaurante de comida japonesa Yosuki Sushi House tenta resistir ao baque. Nos fins de semana, as filas de clientes deram lugar a cadeiras vazias.
— Volta e meia, somos surpreendidos com um jato de lama na janela — lamenta o gerente Erisvelton Braga.
Vice-presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-RJ), o engenheiro civil Manoel Lapa, especialista em estruturas, disse que o serviço de jet grouting (injeção de calda de cimento com aditivos), para reforçar o solo, que está sendo feito em Ipanema, é demorado.
— Para ficar direito, demora. Tem que fazer, testar, fazer de novo. Ao se testar e verificar que ainda não foi alcançado um grau de segurança, pode ser preciso injetar o material em mais lugares e reforçar trechos mais adiante — diz Lapa.
DESCONTENTAMENTO CHEGA AO JOCKEY
O descontentamento com o rumo das obras da Linha 4 chegou nesta segunda-feira ao Jockey Club e aos moradores da região. O consórcio Linha 4 Barra começou a instalar tapumes numa área de calçada e canteiros da Avenida Borges de Medeiros, na Lagoa, com cerca de 800 metros de comprimento, junto ao muro do hipódromo, que será utilizada até 2 de agosto de 2016 como local de estacionamento de caminhões.
— Serão destruídos 4.048 metros quadrados de canteiros — reagiu o superintendente do Jockey, Antonio Fleury.
Fonte: O Globo, 02/09/2014
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