A delegação brasileira vai aproveitar a reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI) que acontece nesta semana, em Washington, para avançar nas discussões em torno da criação do Centro de Infraestrutura Global (GIC, da sigla em inglês) no âmbito do G-20, o grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo.
A ideia é criar um organismo com base de dados de projetos para que investidores possam comparar os planos para a realização de obras em vários países e organizar estruturas de financiamento. Essa busca por novos investimentos em infraestrutura vai ao encontro das necessidades dos países em desenvolvimento, que precisam construir estradas, ferrovias, portos e hidrelétricas para retomar as suas taxas de crescimento. O desafio do GIC seria o de unir os investidores aos projetos, acelerando a sua concretização.
A proposta de criação do Centro foi feita pela Austrália, que exerce a presidência temporária do G-20. A delegação brasileira avaliou que a ideia é interessante, pois o novo órgão pode funcionar como uma boa forma de articulação para firmar projetos no setor. “É algo que vale a pena tentar”, afirmou um representante do governo brasileiro. “É uma iniciativa interessante.”
Caso seja aprovado, o GIC se tornaria a primeira instituição formal do G-20. Seria o primeiro órgão com sede, secretariado, corpo técnico e verbas dentro do grupo. Atualmente, o G-20 funciona sem um organismo formal, através de encontros entre os ministros da economia e líderes dos países.
A Austrália se dispôs a financiar a sede da instituição, mas restam questões importantes a serem debatidas, como o sistema de governança e as regras para o funcionamento. A expectativa é a de que os ministros aproveitem o encontro do FMI, em Washington, para avançar na formatação do GIC, mas a decisão final sobre a criação deve ser tomada apenas no próximo encontro do G-20, em novembro, em Brisbane, na Austrália.
No último encontro do grupo, em Cairns, na Austrália, em setembro, os Estados Unidos apoiaram a ideia, assim como a Reino Unido, o Canadá e o Japão, que, no entanto, querem aprofundar o debate sobre como seria o funcionamento do Centro antes de dar o aval final.
O ministro do Tesouro da Austrália, Joe Hockey, defendeu o GIC, alegando que o centro pode remover barreiras aos investimentos privados em projetos capazes de melhorar as condições de crescimento dos países. Um dos argumentos dos australianos é que nenhuma instituição detém uma base de dados de projetos em infraestrutura em âmbito mundial.
A avaliação feita pelos países que apoiam a ideia é a de que os problemas surgidos depois da crise financeira, em 2008, como as reformas regulatórias no setor, levaram a uma retração da atuação dos bancos na área de financiamentos de longo prazo, sobretudo na área de “project finance”. Muitos investidores internacionais estariam dispostos a ingressar com capitais na área, pois, uma vez realizados, esses investimentos geram fluxos de renda regulares.
No momento em que os títulos de renda fixa estão com níveis de rentabilidade baixa, os investidores de longo prazo, principalmente os fundos de pensão, estão procurando fazer aportes com rentabilidade constante em patamares mais elevados. O objetivo do centro seria justamente o de diminuir o custo de financiamento de projetos de grande porte na área de infraestrutura.
Depois de trabalhar para a criação do Banco dos Brics e do Arranjo Contingente de Reservas (CRA, da sigla em inglês) – fundo para ajudar nações em dificuldades financeiras -, a delegação brasileira vê no GIC a oportunidade de avançar em um novo organismo internacional alinhado às necessidades de elevar as taxas de crescimento através da promoção de investimentos em países emergentes.
Fonte: Valor Econômico, 08/10/2014
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