Projetos de VLTs ficam na promessa

Os cronogramas para as obras do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) estão atrasados na maior parte do país e nem saíram do papel em muitas regiões. Segundo especialistas, apesar de haver dinheiro disponível nos programas de aceleração do crescimento (PAC 1 e 2) do governo federal, não há preparo técnico em muitas cidades pequenas para receber tais investimentos. “Os órgãos federais deveriam cuidar também da qualificação e orientação das cidades menores para que possam implantar essas obras com propriedade”, afirma Telmo Giolito Porto, professor doutor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

Em seus cálculos, o custo para implantação do VLT, incluindo o trem, varia entre US$ 13 milhões e US$ 70 milhões o quilômetro, e sua capacidade de transporte vai de 15 mil a 40 mil pessoas por hora. “Como é uma obra cara, a viabilidade vem da contabilidade social. É assim no mundo todo.”

Os programas federais preveem R$ 55,4 bilhões para ser aplicados em mobilidade urbana entre 2011 a 2014 e mais R$ 2,1 bilhões após esse período. Só em monotrilhos e VLT, estavam orçados R$ 5,2 bilhões em 14 obras que estão em andamento ou em fase de implantação. Mas nenhuma delas foi efetivamente entregue à população, embora algumas cidades estejam adiantadas, como no caso de Natal, em fase de testes, e de Santos, com primeira fase também em testes. “Essas cidades devem ser as primeiras a ter seus projetos finalizados. No Rio tem um planejamento de VLT no Porto Maravilha, com uso limitado àquela região”, avalia o professor de infraestrutura urbana do Insper, Eduardo Padilha.

Para todas as obras já foram adquiridos 1.060 veículos, entre trens e VLTs. Em geral, esses financiamentos envolvem o Orçamento Geral da União (OGU), financiamento público com juros subsidiados por meio do BNDES e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), além de contrapartida de Estados e municípios.

O recurso investido para o transporte coletivo sobre trilhos representa aproximadamente 70% do investimento total em mobilidade urbana. Se realizados em sua totalidade, os centros urbanos brasileiros contariam com mais de 600 km de vias de transporte coletivo sobre trilhos. São Paulo (R$ 1,9 bilhão), Rio de Janeiro (R$ 2,9 bilhões) Cuiabá (R$ 1,2 bilhão) e Manaus (R$ 1,5 bilhão) foram as cidades que receberam os maiores aportes do orçamento federal para ser aplicados em monotrilhos e VLTs – com exceção do Rio, que também usará os recursos para projetos de metrô e ônibus -, por conta de programas de mobilidade previstas para a realização da Copa do mundo no país.

O megaevento passou e muitas das obras que eram para estar prontas ainda estão em curso. As obras de Cuiabá, por exemplo, consideradas as mais caras licitadas pelo poder público, já consumiram 60% de seu orçamento e não devem ficar prontas nem em 2016. “Se forem realizadas um terço das obras previstas no PAC, eu já estarei feliz e satisfeito”, analisa.

Goiânia tem disponíveis R$ 426 milhões para investir em VLTs e ônibus. Das cidades menores, São Bernardo do Campo (SP) se destaca com investimento de R$ 2,8 bilhões no monotrilho que ligará a cidade à capital paulista. Mas há ainda grande ceticismo entre os especialistas sobre a realização dos projetos de VLT do PAC. “Estou cético. Mas ao mesmo tempo, considero que os projetos de metrôs do PAC tem mais chances de sair do papel do que os VLTs, como é o caso da expansão do metrô de Belo Horizonte, Recife, Brasília e Porto Alegre. Em compensação, acho que a participação da iniciativa privada será fundamental para que os projetos saiam do papel no que tange aos VLTs ligando aeroportos aos centros urbanos”, afirma Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral.

Atualmente a CBTU é a principal gestora dos investimentos do governo federal em sistemas de transporte de passageiros urbanos sobre trilhos. No período de 2011 a 2014, correspondente ao PAC 2, a CBTU investiu R$ 1,36 bilhão e, para os próximos três anos, tem investimentos aprovados de R$ 698 milhões. “Belo Horizonte, Recife, Natal, João Pessoa e Maceió foram beneficiadas com aquisições de 25 trens elétricos e 37 Veículos Leves sobre Trilhos. Além da modernização e expansão dos seus sistemas de trens e metrôs, por meio da construção e reforma de estações e terminais, da recuperação de infra e superestrutura da via permanente e da recuperação da frota original, que corresponderam a R$ 885,9 milhões desses recursos”, afirma Fernando Barini, presidente CBTU. A CBTU opera sistemas de transporte de passageiros sobre trilhos em cinco regiões metropolitanas: Belo Horizonte, Recife, Natal, João Pessoa e Maceió.

Fonte: Valor Econômico, 27/10/2014

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