Estação da Leopoldina usada como depósito de veículos

RIO – No cenário de trânsito caótico da Avenida Francisco Bicalho, o prédio da Estação Leopoldina destaca-se pela imponência e beleza, um projeto do arquiteto escocês Robert Prentice inspirado em construções palacianas inglesas. Mas, apesar de tombado desde a década de 1990 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), ele virou o endereço do abandono. A fachada da construção, inaugurada em 1926 com o nome de Estação Barão de Mauá, está repleta de pichações e com vários vidros quebrados. Hoje, o prédio abriga festas particulares e serve como cenário para ensaios fotográficos de moda.

Em frente à estação, camelôs, pontos de táxi e pontos de ônibus ainda dão vida ao prédio centenário. Mas no terreno da gare, um trem antigo de madeira, composições enferrujadas e carros apreendidos pela Secretaria Especial de Ordem Pública (Seop) reforçam o abandono. O mato tomou conta de boa parte da área, e funcionários reclamam que os veículos acumulam água da chuva, atraindo mosquitos, e que um colega contraiu dengue.

OBRA ORÇADA EM R$ 10 MILHÕES

Fechada para o transporte de passageiros em janeiro de 2001, desde 2011 a estação está sob administração da Supervia, que em 2012 apresentou um projeto para recuperar o imóvel, orçado em R$ 10 milhões. O projeto, publicado no “Diário Oficial” do Estado em agosto de 2012, incluía restauração e limpeza das fachadas, modernização do sistema de incêndio e de iluminação. Passados três anos, nada foi feito.

No interior da estação, ainda há vestígios de uma época em que milhares de pessoas circulavam diariamente por lá. Pórticos de madeira indicam que ali funcionaram charutaria, restaurante, capela, administração e lanchonete. O portão também não foi modificado e ainda traz no letreiro uma informação com grafia antiga: “Sahida”.

O aposentado do BNDES Juarez Ferreira, de 73 anos, ainda se lembra quando diariamente ia à tabacaria:

— Parávamos aqui para esperar o trem esvaziar e ir para casa. Frequentei a estação de 1956 a 1980. É uma pena um prédio tão bonito estar abandonado.

Segundo o secretário estadual de Transportes, Carlos Roberto Osório, depois que a estação foi desativada, houve uma divisão de propriedade e responsabilidades.

— É uma questão complicada: parte é área da União e parte é do Estado, que ficou responsável por tudo o que era operacional na ferrovia. A parte do Estado foi cedida à Supervia durante a concessão do sistema metropolitano ferroviário. O Estado entende que é preciso fazermos um projeto conjunto para revitalização da Leopoldina — afirmou Osório, que diz já ter conversado com a Secretaria do Patrimônio da União sobre o abandono da estação.

Segundo o presidente da Supervia, Carlos José Cunha, quando a empresa elaborou o projeto de restauração dentro das exigências do Inepac, a intenção era atrair parcerias, mas isso não aconteceu. Ele diz que a Supervia ficou responsável apenas por “atuar nas áreas de superfície da estação como plataformas, área de gare e salas que ficam no piso”.

Para o pesquisador Antonio Pastori, membro da Associação Fluminense de Preservação Ferroviária, a estação deveria ser transformada em um museu.

— Todos os países do mundo conservam suas estações ferroviárias. Em Paris, temos o maravilhoso Museu D’Orsay numa antiga estação. A Estação da Luz abriga o Museu da Língua Portuguesa. Já a Barão de Mauá está repleta… de espaços vazios e estragando-se — lamenta.

A Seop informou que os carros são frutos de apreensões, e que ocupa o terreno da Leopoldina por falta de espaço no depósito da Avenida Benedito Hipólito. Segundo a Seop, a área será desocupada, mas não informou quando.

Fonte: O Globo, 17/02/2015

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