Li Keqiang, o premiê chinês, desembarca no Brasil na terça-feira (19) trazendo na bagagem um suculento pacote de projetos de cooperação, no valor total de US$ 53 bilhões (R$ 160 bilhões).
A cereja do bolo é a participação chinesa na chamada Ferrovia Transoceânica, que ligará a brasileira Ferrovia Norte-Sul à costa do Pacífico, no Peru. É um projeto de custo estimado entre US$ 4,5 bilhões (R$ 13,5 bilhões) e US$ 10 bilhões (R$ 30 bilhões)
O jornal britânico “Financial Times” informa que esse seria o custo se a ferrovia cortasse a Amazônia –o que, inevitavelmente, enfrentaria forte oposição de ambientalistas e grupos indígenas.
Por isso, há uma segunda rota, alternativa, através dos desertos do sul do Peru, o que obrigaria a envolver a Bolívia no projeto. Por enquanto, o que está sendo negociado é uma cooperação apenas trilateral (Brasil/China/Peru).
A Transoceânica permitirá que o Brasil exporte pelo Pacífico soja e minério de ferro, dois dos seus principais produtos no comércio com a China, barateando o custo.
Mas a ferrovia não é nem remotamente o único projeto na bagagem de Li Keqiang. O que vai ser assinado em Brasília, na semana que vem, é um conjunto de 34 atos envolvendo principalmente investimentos em infraestrutura e no aumento da capacidade produtiva do Brasil. Levaria a cooperação entre os dois parceiros a um outro plano, além do comércio, que é o grande componente hoje.
Aumentar a capacidade produtiva do Brasil permitirá que o país “exporte mais aço e menos minério de ferro”, como sonha o embaixador José Alfredo Graça Lima, subsecretário-geral de Política 2 —no organograma do Itamaraty, responsável pelas relações com a Ásia.
É uma alusão ao fato de que o comércio com a China incomoda o governo, por mais que tenha havido saldo sistemático, exceto nos últimos cinco ou seis meses.
Ocorre que o Brasil exporta basicamente produtos primários e importa produtos industriais. É uma relação semicolonial, da qual a própria presidente Dilma Rousseff se queixou na sua visita à China, em 2011. De lá para cá nada mudou, a não ser o fato de que o fluxo comercial se enfraqueceu, em consequência da relativa desaceleração chinesa e da retração no Brasil.
GIRO CHINÊS
Li Keqiang visitará também Chile, Peru e Colômbia, os três países com políticas mais liberais na América do Sul –caminho que o Brasil começa a trilhar com o ministro Joaquim Levy.
O “Financial Times” especula que a viagem seja um reflexo do receio da China quanto à solvência dos parceiros sul-americanos mais à esquerda, casos de Argentina e, principalmente, Venezuela.
A China emprestou quase US$ 60 bilhões a Caracas, praticamente o dobro dos créditos a um Brasil de economia muitíssimo maior.
Fonte: Folha de São Paulo, 13/05/2015
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