Obra de ferrovia é vista com ceticismo

RIO – Especialistas veem a ligação ferroviária entre Brasil e Peru com ceticismo devido, principalmente, ao desafio de engenharia que o projeto representa. E temem que a obra nunca saia do papel, a exemplo do que ocorreu com outros projetos de integração regional, como o grande gasoduto que uniria Venezuela, Brasil e Argentina.

Para cruzar o cerrado brasileiro, onde se concentra o agronegócio, e chegar ao litoral peruano, a ferrovia terá de atravessar regiões de pântano, floresta tropical e os Andes. Na avaliação de Renato Pavan, da consultoria Macrologística, esses obstáculos naturais elevam o custo do transporte.

Pavan comparou o custo de exportar uma tonelada de soja do Mato Grosso até os portos chineses por diferentes caminhos. Concluiu que a soja transportada por ferrovia até o Peru e de lá para a China teria o mais elevado custo logístico: R$ 325 por tonelada. A opção mais barata (R$ 135/tonelada) seria levar o grão até Vila do Conde (PA) e de lá para a China, via Canal do Panamá.

— A ferrovia para o Peru não tem a menor possibilidade de vingar — diz Pavan.

Presidente da sessão ferroviária da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Rodrigo Villaça, também considera o escoamento pelo Pará como melhor opção. Para ele, a ferrovia deveria passar por Tocantins até o litoral paraense, seguindo via Canal do Panamá ou da Nicarágua (projeto chinês) até a China.

Elaborar um plano executivo de engenharia é fundamental para tirar a ferrovia do papel. O custo foi estimado em US$ 10 bilhões.

— Não faz sentido falar em orçamento agora. É preciso realizar um plano executivo de engenharia com uma análise econômico-financeira do projeto. O estudo pode custar R$ 1 bilhão — avalia Paulo Fleury, presidente do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos)

Já Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Logística da Fundação Dom Cabral, avalia que seria viável construir a ferrovia por R$ 30 bilhões, podendo chegar a R$ 40 bilhões. Mas faz ressalvas:

— O projeto executivo é fundamental. Os chineses trabalham com planejamento de longo prazo. O trecho de Rondônia ao Peru passa por áreas com entraves ambientais, com floresta amazônica e terras indígenas, o que pode atrasar a obra. Já a travessia dos Andes pode demandar a construção de túneis e viadutos, o que onera o projeto.

Fonte: O Globo, 21/05/2015

 

 

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