Minas desperdiça mais de 2.000 km de viagens em trilhos

A lembrança dolorosa do dia em que sofreu um grave acidente de carro, há pouco mais de um ano, faz com que a arquiteta Izabela Galletti, 30, não consiga mais encarar uma estrada. A ideia de viajar de trem é a única que a deixa animada em um feriado prolongado. Mas essa nem sempre é uma alternativa possível. Nesse Corpus Christi, os vagões da Vale lotaram rapidamente, e Izabela não conseguiu passagem para ir à serra do Caraça, na região Central. Acabou ficando em casa. “Se tivesse mais trajetos de trem com certeza eu viajaria sempre. É bem agradável, com paisagens maravilhosas. Na estrada ainda me sinto muito insegura, e nos feriados o movimento é maior, tem pessoas inexperientes”, descreveu.

O dilema da arquiteta pode ser o de muitos mineiros, porque, na verdade, só existe uma opção de transporte de passageiros sobre trilhos em Minas – o Trem da Vale, que vai da capital a Vitória (ES). Mas poderia ter muito mais linhas no Estado aproveitando a malha já existente. Mesmo com o sucateamento e destruição de parte da estrutura ferroviária, há muito trilho subutilizado pelas três concessionárias que administram os trechos.

No mês passado, 16 propostas de reativação de linhas foram apresentadas ao governo do Estado por quatro ONGs e entidades mineiras que buscam a preservação da malha ferroviária: Instituto Cidades, ONGTrem, Associação de Preservação das Tradições e do Patrimônio Cultural de Santa Bárbara (Apito) e Circuito Ferroviário Vale Verde.

As sugestões apresentadas ao secretário de Estado de Transportes e Obras Públicas, Murilo Valadares, abrangem, ao todo, 2.147 km de trilhos. Desses, 1.852 km estariam em condições de rodar e 295 km precisariam de recuperação. Entre os trechos em boas condições, segundo as entidades, estão os 108 km entre Belo Horizonte e Sete Lagoas, na região Central, onde é proposta uma linha de passageiros.

“O governo fala em duplicar a rodovia para Ouro Preto. Por que não reabilita a linha férrea? O custo seria menor, além do que tiraria milhares de carros das rodovias e traria mais segurança”, disse o presidente do Instituto Cidades, André Tenuta.

As ONGs não apresentam valores, mas dizem que os projetos apresentados são de baixo custo, por não exigir duplicação da via, apenas utilização dos trilhos já existentes e compra de vagões (que poderiam ser de “segunda mão”, usados em Estados como São Paulo e Rio).

“Ficaria barato para o governo e para os passageiros, que pagariam menos do que em um ônibus intermunicipal”, declarou Francisco Oliveira, representante da ONGTrem.
Sem respostas
Quando o assunto é ferrovia, nenhum órgão público se mostra interessado em falar. O governo do Estado, que pode elaborar projetos de aproveitamento dos trilhos, informa que a competência é do governo federal.

Projetos.
O governo mineiro declarou apenas que os projetos anunciados, mas não concretizados pelo governo anterior (como o Trem Metropolitano), estão sob análise. A Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas alegou que não é mais sua atribuição cuidar do tema e não comentou as propostas das ONGs.

Sem resposta. Já o governo federal, durante mais de duas semanas, não respondeu às questões da reportagem nem sequer a extensão da malha em Minas – que segundo ONGs do setor chegou a 29 mil km.

Fonte: O Tempo, 08/06/2015

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