Ferrovia é tema da série ‘Histórias para Contar de Novo’

Ele chegou e abriu o caminho do crescimento. Mudou o país. Se não fosse por ele, talvez a cidade onde você mora nem existiria.

Essa história começa há muito, muito tempo… Na época em que o Brasil nem tinha presidente.
Tinha imperador. A ideia de trazer o trem para o Brasil foi de um gaúcho chamado Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá. Ele conversou com o imperador, Dom Pedro II, que aprovou o projeto. E em 1857, nasceu a primeira ferrovia do país, que ligava o Rio de Janeiro a Petrópolis, na região Serrana.

Dom Pedro gostou tanto daquela modernidade que determinou a construção de novas estradas de ferro para levar para os portos a produção de minério e de café e para integrar, principalmente, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.

“Na verdade, a intenção era acabar com as tropas de mulas, demoradas e custosas, e fazer da ferrovia uma forma de transportar toda produção do Sul fluminense diretamente pro Rio de Janeiro”, explicou Sebastião Deister, historiador.

A principal linha da região sudeste era a estrada de ferro Dom Pedro II. Foi a primeira a chegar na nossa região, em 1864. Ela saía do Rio e ia até Barra do Piraí. A partir dali, se dividiu em duas: uma parte seguia para Minas e outra para São Paulo. Até hoje, esse é o maior entroncamento ferroviária da Americana Latina.

O trecho com destino paulista passa por Barra Mansa. A Princesa Isabel participou da inauguração da estação, em 1871. Naquele tempo, Volta Redonda ainda não existia. Já o trecho com destino mineiro, corta vários municípios, como Miguel Pereira, Três Rios, Paraíba do Sul, Piraí, Vassouras e Valença, representada pela estação de Barão Juparanã.

Inicialmente, esta estação em Valença, que está sendo reformada, se chamava Desengano. É que havia uma richa entre dois fazendeiros que eram grandes produtores de café. Eles disputavam o lugar por onde a estrada de ferro passaria, porque cada um queria que fosse mais perto da sua propriedade. Uma ficava na região de Valença e a outra em Vassouras. A influência do fazendeiro de Valença, o Barão de Juparanã, foi mais influente e ele foi o beneficiado. O pessoal do outro lado, claro, não gostou. Daí o nome Desengano.

Para não saírem perdendo, os próprios fazendeiros construíram outras linhas de trem menores, que faziam a ligação com a estrada de ferro principal.

“O objetivo dessas linhas menores foi exatamente escoar a produção de café, que era fundamental. Quanto mais rápido o café chegasse aos portos do Rio de Janeiro melhor. Então, a ferrovia representou um avanço enorme para a produção. Apesar de ter chegado um pouquinho tarde. E quando elas chegaram o processo de decadência das lavouras de café já estava acontecendo. Na verdade ela retardou o processo”, contou Adriano Novaes, historiador.

Mas, em 1888, houve a abolição da escravidão, que foi a gota d’água para o fim do ciclo do café. Acabou causando também o fim das ferrovias menores. Um ano depois, em 1889, haveria mais mudanças importantes no país. Foi proclamada a república.

Os novos homens do poder não queriam que a figura do antigo imperador continuasse em alta. Aí, a estrada de ferro Dom Pedro II virou estrada de ferro Central do Brasil. Os trens continuaram sendo muito usados para o transporte de carga e de passageiros até a década de 60, quando o governo começou a incentivar o desenvolvimento das rodovias. E o trem, que já tinha brilhado tanto, foi sendo esquecido para dar lugar a novas estrelas do transporte. Com o número maior de caminhões e carros, o país passou a depender cada vez menos das ferrovias.

“Teve distritos, lugares que foram completamente abandonados. Ficaram no esquecimento. durante décadas. E a dificuldade de acesso, estrada de terra, enfim, então foi realmente um desastre a erradicação dos trilhos aqui na região”, explicou Adriano, acrescentando que se não fossem as estradas de ferro o Sul do Rio talvez não seria o que é hoje. “Esse foi o grande legado das ferrovias durante o ciclo do café. Foram fundamentais para o desenvolvimento da região. Em caso de Valença só foi possível um processo de industrialização em 1906 por causa da ferrovia”.

 

http://g1.globo.com/rj/sul-do-rio-costa-verde/noticia/2015/09/ferrovia-e-tema-da-serie-historias-para-contar-de-novo-parte-1.html

Veja também:

http://g1.globo.com/rj/sul-do-rio-costa-verde/noticia/2015/09/ferrovia-e-tema-da-serie-historias-para-contar-de-novo-parte-2.html

http://g1.globo.com/rj/sul-do-rio-costa-verde/noticia/2015/09/ferrovia-e-tema-da-serie-historias-para-contar-de-novo-parte-3.html

Fonte: G1, 28/09/2015

 

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