Para o mercado, nenhum projeto de nova ferrovia vai atrair investidores neste ano. Segundo um investidor do setor, que não quer ser citado, algumas razões alimentam essa certeza. A primeira é que o volume de recursos envolvido na construção de ferrovias, do zero, é gigantesco. Exemplo: o governo quer oferecer neste ano a concessão da Ferrogrão. Com 1,2 mil km de extensão, ela vai de Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso, a Miritituba, no Pará, às margens do Rio Tapajós, e tem investimento previsto de R$ 10 bilhões. O estudo de viabilidade da Ferrogrão foi contratado pelas empresas Amaggi, Bunge, Cargill e Dreyfus, o que leva o governo a interpretar que o projeto vai vingar. No entanto, na avaliação do investidor, neste momento, as condições do mercado não justificariam um aporte dessa magnitude.
O segundo impeditivo neste momento é que os três grandes operadores ferroviários em atividade no País – ALL, da Rumo Logística, VLI e MRS – estão preocupados em negociar a prorrogação dos seus atuais contratos de concessão. Cada um tem a própria agenda de expansão. A MRS, que atravessa a capital paulista, por exemplo, terá de se preocupar com a obra de um ferroanel que contorne a cidade de São Paulo. Também se considera difícil que um investidor se comprometa a concluir longos trechos da Norte-Sul, outra ferrovia na agenda das concessões. No máximo, poderia sair a finalização da Norte-Sul em São Paulo, até Estrela do Oeste, mas não vai ser fácil encontrar alguém interessado em colocar trilhos de Estrela do Oeste até Três Lagoas, em Mato Grosso do Sul, apesar de lá já existir um polo industrial.
Parte do problema teria sido criado pelo próprio governo. “Quando você começa a falar de ferrovia, a pessoa já desanima de conversar”, diz Frederico Bopp Dieterich, advogado especializado em infraestrutura. “A modelagem inicial, que usava a Valec, pegou muito mal, e agora os investidores preferem outras opções, bem mais seguras e interessantes em estradas e portos, do que se meter num troço que ninguém ainda entendeu bem como será. ”
Segundo Maurício Muniz, do Planejamento, investidores russos e chineses demonstram interesse pelas ferrovias e acreditam que as concessões podem ser bem-sucedidas. “Se o governo conseguir fechar, eu bato palmas: dinheiro não tem raça ou credo e o Brasil precisa muito neste momento”, diz Dieterich.
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/01/2016