Primeiro evento da série Vida Inteligente discute papel de ferrovias eletrificadas como indutor do crescimento econômico regional
Nos anos 1960, o filósofo canadense Marshall McLuhan criou a expressão “o meio é a mensagem”. Para ele, a forma como a mensagem chega às pessoas seria tão importante quanto o próprio conteúdo. Cinco décadas depois, a máxima de McLuhan pode ajudar a descrever o modelo de estradas de ferro eletrificadas: muito além de um caminho entre os pontos A e B, elas são indutoras do crescimento da economia ao transportar energia, infraestrutura e dados; e ao oferecer um entorno propício para o desenvolvimento de cidades e atividades empresariais.
— Ferrovias são eixos sociais, ambientais e econômicos — afirmou Ricardo Kenzo, executivo sênior de Desenvolvimento de Negócios da Siemens, durante o evento “A Contribuição da Eletrificação para um Novo Padrão de Desenvolvimento do Brasil”, que abriu a série de debates Vida Inteligente.
O encontro, mediado pelo economista Raul Velloso, realizado pelo jornal O GLOBO e correalizado pela Editora Globo, marca o início de um amplo debate sobre a necessidade de um novo padrão de desenvolvimento tecnológico e econômico no país. Historicamente, o Brasil deixou de ser um país costeiro a partir da implantação de sua malha ferroviária, no século 19, que chegou a contar com 37 mil quilômetros de trilhos e ferrovias espalhados por 14 das 20 províncias do Império.
— Foi a partir da dobradinha ferrovia-porto que o Brasil se inseriu no mercado internacional. Os eixos de desenvolvimento do país se deram em torno das ferrovias e isso é uma marca até hoje — disse Frederico Bussinger, consultor em planejamento e gestão ferroviária e ex-secretário-geral do Ministério dos Transportes. Para ele, falta ao país um modelo de planejamento e gerenciamento integrados para que as ferrovias eletrificadas voltem a crescer.
Geração de riqueza
Na opinião de Jean Carlos Pejo, secretário-geral da Associação Latino-Americana de Ferrovias (ALAF), os atuais projetos de novas estradas de ferro nas regiões Norte e Nordeste do país deveriam ir além da questão puramente logística.
— É importante criar condições para que as ferrovias tragam fábricas que gerem Riqueza ao longo de seu eixo, como no caso do beneficiamento da soja e milho, pois isso agrega valor para as regiões — disse.
Ferrovias de carga no Brasil atual transportam principalmente minério voltado à exportação, mas há vários projetos para atender demandas também do agronegócio. Como exemplo de desenvolvimento, Pejo citou o estado de São Paulo, que se aproveitou do espaço das ferrovias durante o ciclo do café, no início do século passado, e hoje é o mais industrializado do país.
— A malha ferroviária de São Paulo foi a mais eletrificada do Brasil — completou.
De acordo com Pejo, a eletrificação deve estar presente em novos projetos ferroviários. Para isso, é necessário expandir o enfoque das discussões sobre o tema.
— Não podemos ficar presos em modelos já adotados para transporte de minério. Nem toda produção é para exportação e é importante analisar as vantagens da eletrificação e torná-la parte do debate nacional.
Infraestrutura sustentável
A questão ambiental também foi destaque no debate. Frederico Bussinger ressaltou que “a adoção da eletrificação é importante não apenas para reduzir as emissões de CO2, que é parte de acordos
internacionais sobre o clima, mas também quanto a emissão de resíduos particulados, comuns nas regiões metropolitanas e que também fazem mal à saúde”.
— É uma forma de entregarmos mais qualidade de vida às pessoas — completou Ricardo Kenzo.
O executivo fez um balanço das diversas discussões no encerramento do evento. Ele afirmou ainda que a falta de planejamento pode prejudicar a eficiência do país e que é preciso estar atento aos benefícios e receitas acessórias em ferrovias eletrificadas, que geram sinergias.
— Por meio de sua implantação, a ferrovia eletrificada ou preparada para a eletrificação proporciona crescimento e desenvolvimento no entorno, podendo impulsionar, além da própria infraestrutura logística, outras utilidades, como redes de água e energia, por meio de transmissões elétricas ou gasodutos, e serviços de telecomunicações, provendo múltiplas utilidades para a indústria, com criação de empregos, e para as pessoas, com aumento de qualidade de vida e acesso à informação e educação — disse Kenzo.
Yuri Sanches, diretor de vendas de Sistemas de Mobilidade da Siemens, ressaltou que a discussão sobre a eletrificação contribui para a retomada do progresso:
— A infraestrutura é a chave da volta do crescimento, é o caminho por onde se dará o desenvolvimento.
Fonte: O Globo, 23/08/2016
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