Transportes: Caminho longo e difícil

Em um país que tem profundas carências estruturais na ampliação e modernização de rodovias, aeroportos, portos, hidrovias, ferrovias e terminais, os investimentos no setor passam muito longe de suas necessidades. Segundo dados da Confederação Nacional do Transporte (CNT), em 2014, o governo federal investiu apenas R$ 15,8 bilhões em infraestrutura de transporte, o que representa 0,29% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

“É muito aquém das necessidades do setor, diante da relevância estratégica dos transportes para a economia nacional, com 15% do PIB”, lamenta Bruno Batista, diretor-executivo da entidade, que congrega 35 federações, quatro sindicatos nacionais e 18 associações nacionais – que representam 210 mil empresas de transporte e 1,9 milhão de caminhoneiros e taxistas – e que geram três milhões de empregos.

Em junho, o governo federal anunciou a previsão de investimentos de R$ 198,4 bilhões, para os próximos anos, em concessões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, na segunda etapa do Programa de Investimento em Logística (PIL). “Esse valor, embora significativo, corresponde a somente um quinto do investimento previsto no Plano CNT de Transporte e Logística, apresentado ao governo federal em maio e que sugere a implementação de 2.045 projetos com valor estimado de R$ 987 bilhões como investimento mínimo no sistema logístico brasileiro para alavancar a economia e aumentar a competitividade do País”, comenta Batista.

O agronegócio é um dos segmentos que mais sofrem pelas carências da infraestrutura em transportes e logística. A CNT e desenvolveu um estudo para identificar os principais gargalos à exportação e propor soluções para o escoamento de soja e milho, cujas cadeias produtivas respondem por mais de 85% no volume de grãos produzidos no País. “Somente as más condições das rodovias provocam um aumento de mais de 30% no custo operacional, um prejuízo anual da ordem de R$ 3,8 bilhões ao setor agrícola”, destaca o diretor-executivo.

Política nacional de transporte

Para Batista, esse número se torna ainda mais relevante em vista da distribuição inadequada da malha de transporte. “No Brasil, 65% da soja é transportada por rodovias, enquanto nos Estados Unidos, nosso principal concorrente, só 20% do produto são transportados desta maneira”, informa.

Além da necessidade de investimentos contínuos, um conjunto de medidas foi apontado para solucionar os entraves logísticos. Ele contempla, entre outras coisas, a maior agilidade no desembaraço das cargas nos portos, a simplificação de documentos e processos na operação do serviço de transporte hidroviário e a necessidade de definir claramente como deverão se relacionar os dois marcos regulatórios do setor ferroviário quando ambos estiverem em vigor. Batista ressalta duas questões essenciais: “É preciso aprimorar a governança, com a redução do número de órgãos planejadores e reguladores do transporte, que hoje são 14, e, principalmente, definir uma política nacional de transporte”.

Em meio à estagnação atual da atividade econômica, que implicou redução em sua receita líquida em 7% nos últimos 12 meses, o setor se esforça para manter seus investimentos. “Neste primeiro semestre, ainda tomamos um baque com o aumento de mais de 12% no diesel. Mas o segmento procura manter o nível de emprego e realiza investimentos em capacitação de mão de obra e em processos, além de aproveitar este momento para fazer ajustes de rota, com o uso de tecnologias auxiliares para otimização da carga, entre outras medidas”, destaca Batista.

“Há muitas incertezas para o futuro, o que cria barreiras ao investimento privado. Uma saída poderiam ser os investimentos internacionais e a China desponta como parceiro estratégico. Já demos um importante passo para aproximar empresários dos dois países com a abertura de um escritório na China. ”

Fonte: Especial Estadão Empresas Mais, 10/10/2016

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