A Rumo, concessionária de ferrovia e terminais portuários controlada pelo grupo Cosan, vai avaliar propostas de investidores para fazer uma injeção de capital na América Latina Logística Malha Sul. Uma de suas empresas, na qual detém 100% das ações, a ALL Malha Sul tem operações nos estados da região Sul do país.
Conforme apurou o Valor, o plano de capitalização em estudo prevê um montante de R$ 2 bilhões. Os recursos serão utilizados para um plano de investimento nessa malha, avaliado em R$ 4 bilhões. É o valor previsto para adequar a Malha Sul a padrões operacionais mais elevados e atender ao crescimento futuro de demanda na região e ganhar volumes com substituição do transporte por meio de caminhões.
O Bank of America Merrill Lynch (BofA) está atuando no processo de captação e seleção de investidores que manifestaram interesse na proposta. Eles devem ter perfil de investidor com visão de longo prazo no empreendimento. Além do aporte de capital, é considerado muito bem-vindo se for alguém que puder agregar uma parceria comercial. Por exemplo, um grupo que disponha de carga para a ferrovia.
A avaliação é que os programas de concessões de infraestrutura em curso no país, que incluem a renovação de contratos de ferrovias existentes, começam a abrir portas para novos projetos de investimentos, atraindo a atenção de investidores que buscam ativos para alocar seus recursos.
O Valor apurou que já foram identificados pelo BofA grupos do Japão, China e também da Europa. Todos mostraram, a princípio, interesse no plano de capitalização e de investimentos da Malha Sul da Rumo. É uma operação vista com enorme potencial para ampliar volume de cargas.
Essa unidade de negócio transporta, principalmente, commodities agrícolas – grãos (soja, farelo de soja e milho), açúcar, arroz, trigo, bem como fertilizantes e produtos industriais (combustíveis, papel, celulose e outros). No ano passado, teve receita líquida de R$ 1,1 bilhão, um quinto do valor apurado pela Rumo.
Com sede em Curitiba, a Malha Sul é a maior da Rumo em extensão, mas inferior à Paulista-Norte – que forma o corredor Rondonópolis, no Mato Grosso, a Santos, litoral paulista – em faturamento. A ferrovia é oriunda da ALL, que se fundiu à Rumo em 2015. Com 7,2 mil km, abrange os estados do Sul em corredores que deságuam em vários portos – Paranaguá (PR), São Francisco do Sul (SC) e Rio Grande (RS).
O projeto de capitalização tem como premissa a renovação antecipada do contrato da concessão, que é de 1997 e tem término em 2027. Mas pode ser renovada por mais 30 anos, mediante acordo com a União. Tal medida está prevista no edital de privatização realizado pela antiga RFFSA.
A Rumo pretende refazer o pedido de renovação ainda este ano junto às autoridades do governo, lideradas pela agência reguladora ANTT. No momento, o grupo está na fase final do processo de renovação da Malha Paulista, que abrange o Estado de São Paulo e se interliga à Malha Norte (Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, até a cidade de Rondonópolis).
Com entrada de um parceiro estratégico, o objetivo da Rumo é desenvolver novos projetos de expansão da malha atual da ferrovia, principalmente no noroeste do Paraná. Ao mesmo tempo, investir em trechos que hoje não permitem um transporte com maior agilidade e segurança.
A expansão prevê novos trechos nas regiões de Cascavel e Maringá, alcançando cargas de grãos (soja e milho) que atualmente são perdidas para caminhão. Por exemplo, soja do sul do Estado de Mato Grosso do Sul e até do Paraguai, segundo disse uma fonte que conhece bem o negócio. Grande parte da carga desce por caminhões até Paranaguá.
Uma ferrovia mais ágil e competitiva em fretes é o sonho de usuários paranaenses. Hoje, a Rumo consegue nos trajetos atuais atingir cargas num raio máximo de 500 a 600 km. Com investimentos em novos eixos, poderia alcançar entre 800 e 1.000 km.
A meta é gerar capacidade extra na ferrovia que garanta o escoamento de produtos – grãos e industriais -, com mais eficiência até Paranaguá e São Francisco do Sul (SC). Estima-se, conforme estudos levados pelo BofA a investidores, que a capacidade de transporte possa triplicar, para cerca de 50 milhões de TKU (tonelada por quilômetro útil) ao ano.
A entrada do sócio permitiria ainda antecipar os investimentos que a Rumo tem previstos para a Malha Sul em vários anos. É um projeto a ser realizado em até cinco anos, a partir de 2019, se todas as condições forem atendidas, entre elas a renovação da concessão.
A injeção de capital, com emissão de novas ações, tornaria a ALL Malha Sul uma empresa mais robusta. Na operação, a Rumo teria sua participação acionária diluída, mas sem perder o controle.
Procurada, a Rumo não se manifestou sobre a capitalização.
Fonte: Valor Econômico, 14/03/2017