As obras da Linha 4 do Metrô do Rio, que estavam programadas para serem concluídas na Olimpíada de 2016, estão paradas e totalmente abandonadas. Somente 42% da estação está concluída e o Tatuzão, equipamento que perfura o solo e que está parado desde abril, tem um custo de manutenção mensal de quase R$ 3 milhões. Segundo a Secretaria de Transportes, esse gasto é do consórcio.
As obras deveriam ter ficado prontas em julho de 2016, mas o prazo foi proeeogado para dezembro e depois para o primeiro semestre desse ano. O último prazo era janeiro de 2018, mas a obra parou, sem previsão para ser retomada, por uma decisão do Tribunal de Contas do Estado. O TCE suspendeu os pagamentos para o consórcio por indícios de superfaturamento e sobre preço. Segundo relatório do órgão, o rombo pode ser de R$ 2,3 bilhões.
A obra da Linha 4, uma das mais importantes da Olimpíada, foi recheada de polêmica e desconfiança. O custo inicial previsto quase dobrou, foi de R$ 5 bilhões para R$ 9,7 bilhões. As empresas que formam o consórcio são todas citadas na Lava Jato: Odebrecht, Queiroz Galvão e Carioca Engenharia.
Em depoimento ao Ministério Público Federal, um executivo da Odebrecht disse que o ex-governador Sério Cabral recebeu R$ 50 milhões durante a obra. Ele nega.
Abandono total
Onde antes havia um campo de futebol usado pelos alunos da PUC, em 2012, foi instalado um canteiro de obras. Há um túnel de serviço do Consórcio da Linha 4. Atrás de um portão fechado com cadeado, está o começo do túnel que liga a Gávea até o Leblon. Não há operários trabalhando e muito material está abandonado.
No lugar que funcionava o vestiário dos operários, a luz está acesa, mas não tem ninguém. O ambiente tem dezenas de sanitários e chuveiros. Todo o conjunto dando um aspecto de prédio abandonado.
Na porta do prédio onde funcionava o refeitório dos operários, há um tapete personalizado. Ainda há um cartaz com todos os horários das refeições. Café, almoço, jantar e lanche. Tinha até o turno da madrugada. Há um elevador de carga, com limitede peso de 300 quilos. Todo um grande investimento em estrutura e equipamentos e que está parado.
Outro canteiro de obras fica no estacionamento da universidade. A equipe do Bom Dia Rio visitou o local em três dias diferentes. E só uma vez encontraram funcionários trabalhando.
“A gente sempre ouvia explosões. Está tudo parado. Há mais de um ano que não funciona. Placas diziam 2016, depois 2017”, disse a professora Heloísa Carpina.
Alexandre Loja estuda engenharia mecânica na PUC. Ele mora na Lagoa e pega um ônibus para chegar até a Gávea. Apesar de os bairros serem vizinhos, ele fica até 40 minutos no trânsito. E queria muito usar o metrô.
“Eu ia chegar muito mais rápido. Não ia pegar esse trânsito todo. O trânsito é terrível. Com o metrô seria rapidinho”, disse o estudante.
“O metrô que é bom, a gente teria, mas não tem. Vamos ver. Prometeram para o ano que vem. Mas não estou vendo movimento para isso, não”, disse a professora Márcia Lopes.
Enquanto os processos correm no Tribunal de Contas Estado e na Justiça, a inauguração da Estação Gávea parece estar num futuro bem distante e sem prazo. Cerca de 19 mil pessoas podiam estar usando o metrô na Gávea, mas até agora, a obra é só despesa.
O túnel ligando a Gávea a São Conrado já está pronta. O que falta agora é o Tatuzão terminar de escavar pouco mais de um quilômetro do Leblon até a Gávea. E também concluir a estação, que ainda não chegou nem na metade, de acordo com a Secretaria Estadual de Transportes.
O prefeito Marcelo Crivella prometeu, quando foi eleito, ajudar a estação sair até o fim desse ano e criou uma comissão para estudar o assunto. Isso foi em janeiro. Até agora, a promessa não saiu da sala de reuniões.
Mesmo onde o metrô está funcionando, há problemas. De um lado do Jardim de Ala, a praça ficou uma beleza depois da obra. Mas do outro lado, grades, tapumes, abandono.
“Acho um absurdo porque a gente tem uma área de lazer abandonada, entregue aos ratos aos bichos. E era tão bonito antes do metrô. Eles prometeram a praça que assim que saísse o metrô, que iam revitalizar a praça, iam colocar equipamento de ginástica. E até hoje a gente está esperando, como muito coisa, a gente está esperando, e ninguém faz nada. É um absurdo”, disse o vendedor Luiz Otávio Pimenta.
A Secretaria Estadual de Transportes determinou que a concessionária conclua as obras de recuperação da praça do Jardim de Alah. Sobre a obra, a concessionária diz que está esperando um posicionamento do governo do estado para dar continuidade aos trabalhos. A Secretaria de Transportes diz que por determinação do TCE todos os pagamentos foram suspensos até que o órgão conclua um relatório. Só após isso será estabelecido um novo prazo retomada dos trabalhos.
Fonte: G1, 24/08/2017