Prefeito promete bonde elétrico para 2020

Nesta segunda-feira, dia 26 de setembro, mais de cinco meses após a primeira declaração do prefeito João Doria, ele prometeu publicamente que vai executar o projeto que propõe revitalizar o centro com bulevares e duas linhas turísticas de Veículo Leve Sobre Pneus (VLP), uma espécie de bondes modernos movidos a eletricidade. Nos mesmos moldes do VLT do Rio de Janeiro, o projetado por Lerner não circulará sobre trilhos.

O prazo inicial era de 12 anos, mas ontem o prefeito prometeu entregar os bondes modernos sobre pneus até 2020, sem cobradores e com cobrança de tarifa por celular. Ainda segundo Doria, o projeto inclui a construção do que ele chamou de “edifícios icônicos”, construções com potencial para serem marcos na paisagem da cidade.

O projeto ainda precisar de análise e aval da Câmara Municipal.

Segundo o prefeito, a implantação do projeto será bancada pela iniciativa privada, fundos de investimento (BNDES, Banco Interamericano de Desenvolvimento e do Banco Mundial), e por recursos da prefeitura.

O projeto foi oferecido à prefeitura pelo Secovi – sindicato do mercado imobiliário. O presidente do conselho consultivo do sindicato, Cláudio Bernardes, calcula em R$ 300 milhões o custo para implantar os bulevares nas principais avenidas do centro (como Rio Branco e Duque de Caxias), metade do preço, segundo ele, caso o projeto fosse de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos).

Na apresentação do projeto, Sergio Avelleda, secretário de Mobilidade e Transportes, afirmou que as duas linhas circulares de VLP “vão contemplar pontos de interesse da cidade e privilegiar a conexão entre as estações de metrô, ônibus e trem”. Avelleda disse ainda que a operação será feita por operadores privados a partir de licitação.

Heloisa Proença, secretária de Urbanismo e Licenciamento, disse que grande parte do que traz o projeto depende de alterações de leis. “O melhor instrumento para se fazer isso é a alteração da Operação Urbana Centro. Isso porque grande parte da legislação regular de zoneamento do centro traz muitos imóveis tombados, muitas Zeis [Zonas Especiais de Interesse Social]. Isso tudo tem que ser tratado ao mesmo tempo para conseguirmos esse projeto de requalificação da área central”, disse Heloísa.

Em declaração ao jornal Folha de SP desta quarta-feira (27), o arquiteto e urbanista Kazuo Nakano teme que o projeto de revitalização do centro pode levar à expulsão das pessoas das classes baixas. “A classe de renda média já está mudando para o centro, morando em ‘studios’ de dez metros quadrados. A classe de renda baixa também está lá, só que em cortiços. Esse projeto pode gerar um processo de expulsão dos mais pobres do centro. O mercado dá conta da classe média. Cabe ao poder público corrigir a distorção e dar acesso aos mais pobres”.

 

MAIS DO MESMO?

 

Conforme lembramos em matéria publicada pelo Diário do Transporte em 3 de junho de 2017, curioso lembrar que Jaime Lerner fez proposta semelhante à Prefeitura de Curitiba em 2013. O projeto idealizado pelo ex-prefeito curitibano previa a ligação entre o bairro Cachoeira e o Centro de Curitiba com uso de veículo elétrico (VLP), com estimativa de transportar até 260 mil pessoas por dia útil.

O prefeito Gustavo Fruet optou pela ideia de Lerner em substituição ao metrô para a cidade de Curitiba. Jaime Lerner é conhecido como um dos mais ferrenhos críticos do metrô como solução de mobilidade para a cidade. A ideia era que o novo projeto do VLP ficasse com parte dos recursos da União que seriam destinados ao projeto do metrô local.

O projeto foi apresentado em julho de 2013 pela prefeitura de Curitiba ao Ministério do Planejamento, ainda sem contar com a elaboração de um projeto executivo. Orçado em R$ 950 milhões, o projeto previa a implantação do Veículo Leve sobre Pneus (VLP), que permitia ainda uma extensão de mais de 30 quilômetros sobre o traçado ferroviário já disponível na capital paranaense. O restante das intervenções pleiteadas à época pela prefeitura já possuía projeto básico, que, somados ao VLP, atingiam a cifra de R$ 5,3 bilhões.

Em 2016 a prefeitura de Curitiba estudava propostas para a implantação do VLP na cidade. A companhia francesa NTL, de Estrasburgo, na França, chegou a apresentar o sistema à administração da cidade, segundo uma PPI – Procedimento de Manifestação de Interesse PMI lançado pela administração da capital paranaense.

Logo após sua posse, em janeiro de 2017, o novo prefeito de Curitiba, Rafael Grecca, anunciou como uma de suas prioridades para a área de transportes concluir a Linha Verde e adotar o VLP na cidade.

No mês seguinte, o assunto continuava em discussão. Sergio Vidoto, da M4 Consultoria, e então coordenador do projeto de implantação do VLP para Curitiba, respondia a uma série de questionamentos feitos pela Urbs. A empresa ligada à prefeitura apontara uma série de custos que não haviam sido levados em conta no projeto original, como detalhes sobre infraestrutura elétrica, necessários para abastecer as centenárias e veículos.

Mais: a Urbs questionou que o projeto fora calculado com base no total de passageiros transportados, e não nos chamados passageiros pagantes equivalentes, utilizados hoje no cálculo do município.

Pelo visto, por melhores que sejam as ideias, elas demandam muito tempo não apenas para discussão de sua viabilidade, como para sua implantação definitiva. Ainda mais quando grande do projeto apresentado com pompa e circunstância depende de alterações de leis.

Fonte: Diário do Transporte, 27/09/2017

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